Assim como em 2018, na Rússia, o técnico Tite optou por não levar um psicólogo para integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Diante da eliminação nos pênaltis para a Croácia, nas quartas de finais, a discussão ganhou ainda mais relevância: a presença deste profissional poderia aliviar a carga de pressão dos jogadores durante o Mundial?
Após a classificação em cima do Brasil, Zlatko Dalić, treinador croata, afirmou na coletiva de imprensa que a sua equipe estava, notadamente, mais forte mentalmente que a Seleção Brasileira na prorrogação.
Hoje, no futebol, a discussão sobre saúde mental é cada vez mais recorrente. Por conta disso, a ausência de um profissional para cuidar exclusivamente do emocional dos jogadores no Mundial chamou a atenção de especialistas.
Para Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o psicólogo é fundamental para monitorar o ambiente do grupo e levar esse tipo de informação para o treinador, que vai tomar as decisões em relação a essa observação específica e a partir disso conduzir e gerir melhor o seu grupo.
- O técnico pode ser um bom gestor de pessoas, mas isso não significa que ele possa fazer a função de psicólogo, porque ele já tem muitas tarefas e decisões a tomar. Em determinadas situações, só o olhar especializado de um profissional pode ajudar na tomada de decisão. É um olhar específico que requer atenção o tempo todo. Ou seja, conviver e estar presente nos ambientes de refeição, treinamento, fisioterapia, e levar a informação para o treinador. Com a ausência desse profissional, se perde essa leitura fina do grupo, que é extremamente necessária durante um campeonato como a Copa do Mundo - explica Cillo.
Depois da derrota, alguns jogadores desabafaram nas redes sociais.
- Ontem ainda não passou, foi impossível dormir e o que aconteceu ainda dói - publicou Richarlison.
- Estou destruído psicologicamente, essa com certeza foi a derrota que mais me doeu - escreveu Neymar.
Para aliviar a tensão dos jogadores, uma das estratégias adotadas pela Seleção foi liberar a presença de familiares durante a concentração para os jogos. Sheyla Gomes, psicóloga das categorias de base do Fortaleza, pondera que, nesses casos, é preciso cuidado para não deixar com que os familiares atrapalhem a concentração e o treino, o que pode gerar, inclusive, um aumento na pressão por resultados, ansiedade e distrações.
- Sim, a família pode auxiliar de forma positiva como um fator de apoio e fortalecimento emocional dos atletas, se a presença dos mesmos for bem administrada pela comissão e os próprios atletas.
Na visão de Rosângela Vieira, psicóloga do Sport, é necessário que seja feita uma investigação e pesquisa para compreender até que ponto a presença da família, em tais situações, pode ser um fator positivo ou não.
- De maneira geral, vemos que os atletas são sim beneficiados quando os familiares estão próximos. Porém, temos que, em primeiro lugar, identificar qual a relação deles com a família. Porque se tiver um jogador que tenha conflitos, por exemplo, esta proximidade pode não ser um fator positivo.