Clubes cujos torcedores pratiquem atos de racismo podem perder pontos nas competições organizadas pela CBF. Essa vai ser a proposta encaminhada pelo presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, aos conselhos técnicos de todas as divisões nacionais do futebol masculino e feminino e pode valer já a partir de 2023.
“Chega de preconceito. Quero punição rigorosa. Não vou impor isso com uma canetada, sou democrático e levarei o tema para ser discutido nos conselhos técnicos. Mas, desde já, defendo que o clube que tiver torcedor envolvido em atos de racismo perca pelo menos um ponto nas respectivas competições”, disse Ednaldo, na abertura do I Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol.
Ednaldo lembrou de sua origem, como negro e baiano, que o fez e o faz alvo de manifestações preconceituosas por décadas. Em março, o Terra publicou reportagem na qual mostrava que ele, então recém-eleito presidente da CBF, era tratado com comentários que o discriminavam por esses dois aspectos e, o que é pior, as declarações haviam sido postadas em redes sociais oficiais da própria confederação.
O evento organizado pela CBF nesta quarta-feira contou com a presença do cantor, compositor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, do presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Alejandro Rodriguez, e de vários dirigentes, técnicos e ex-jogadores da Seleção brasileira, representantes de várias entidades do esporte e de órgãos públicos, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“É um dia histórico para o futebol não só brasileiro, mas do mundo”, disse Alejandro Rodriguez. Antes dele, Gilberto Gil, emocionado, falou sobre o “dever cívico” de participar do seminário. “Em nome dos músicos, cantores, compositores de todo o Brasil, quero saudar a CBF por essa iniciativa e reiterar nosso compromisso permanente com as tarefas civilizatórias”, declarou Gil.
Por meio de vídeo, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, fez coro à pauta e parabenizou a CBF pelo seminário. Na plateia, o ator Antonio Pitanga também aprovou o encontro e aplaudiu Ednaldo Rodrigues quando o dirigente anunciou a criação de um grupo de trabalho permanente para tratar do tema, com o estudo de medidas que tentem dar um basta ao racismo e à violência no futebol.
No palco do auditório, o destaque para as cores do arco-íris era uma clara referência também ao combate à homofobia no futebol, algo muito presente ainda nos estádios brasileiros. Gianni Infantino abordou isso na sua fala, enfatizando que a Fifa tem um papel muito importante para educar gerações atuais e futuras sobre o respeito às individualidades.
O presidente da Fifa disse ter ficado chocado ao saber que um jogador (Willian, do Corinthians) teve de deixar o clube por causa de ameaças sofridas por ele e família devido aos maus resultados obtidos pelo time. O evento foi marcado ainda por uma exposição de Marcelo Carvalho, fundador do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, sobre a reincidência dos casos de racismo e intolerância no futebol brasileiro.