“Não vou assistir a nenhum jogo nem comemorar nenhuma vitória.” Foi assim que Ronaldinho Gaúcho anunciou, no último sábado, que estava abandonando a torcida pela seleção brasileira por acreditar que falta amor à camisa, garra e comprometimento dos jogadores que compõem o grupo de Dorival Júnior, em preparação para a disputa da Copa América.
O protesto publicado pelo pentacampeão do mundo pegou muita gente de surpresa, a ponto de jogadores atuais da seleção, como Raphinha, manifestarem publicamente discordância do ex-craque. Horas depois, Ronaldinho voltou a usar suas redes sociais para explicar que o “desabafo” era, na verdade, uma crítica falsa motivada por uma campanha publicitária da Rexona.
Contudo, o estrago já estava feito. Boa parte do público impactado pela jogada de marketing concordou plenamente com os pontos criticados pelo ex-jogador, utilizando as palavras do ídolo como escada para atacar a nova geração de atletas e espinafrar a equipe brasileira.
Se o objetivo da campanha era pregar união entre torcida e jogadores em prol da seleção, o tiro saiu pela culatra. Em poucos minutos após a publicação do primeiro post de Ronaldinho, era possível perceber que o projeto comercial surtiu efeito oposto ao esperado. Uma enxurrada de críticas de torcedores ao que julgam se tratar de falta de empenho dos atletas, pecha que sempre recai sobre o time canarinho em fases ruins.
Há equívocos conceituais que comprometeram o resultado da campanha. O principal deles por falta de entendimento do terreno do futebol e das próprias redes sociais. Obviamente, a crítica falsa teria muito mais alcance que o desmentido na sequência. Até agora, passados quase três dias da ação, vários torcedores seguem acreditando que Ronaldinho realmente detonou a seleção. Tanto que o primeiro post tem o dobro de visualizações do segundo, que revela a campanha de marketing por trás das declarações.
Outro erro capital foi a escolha do garoto-propaganda. Ronaldinho sempre foi raso e protocolar ao comentar sobre futebol. Raramente fala algo fora do script ou tece críticas a companheiros de profissão. Não é do seu perfil. Soaria menos artificial se a ação tivesse sido capitaneada por um ex-jogador com histórico crítico à seleção.
Fora que, acima de tudo, Ronaldinho Gaúcho simbolizou uma das seleções mais marcadas pela falta de foco e comprometimento, ao lado de outras estrelas como Adriano, Roberto Carlos, Robinho e Ronaldo na Copa do Mundo de 2006. Depois de ter parado de jogar, ele ainda se envolveu em polêmicas e escândalos nada edificantes, sobretudo quando foi preso no Paraguai, em 2020, por apresentar passaporte falso. Zero autoridade para reivindicar qualquer exemplo de conduta e postura.
No fim das contas, a campanha que prometia resgatar a boa imagem da seleção só contribuiu para arranhá-la ainda mais. Jogadores ficaram incomodados por terem se tornado alvo da ira de torcedores a partir do desabafo fake de um ex-jogador, que, por sua vez, termina exposto pela incapacidade de tecer crítica genuína e espontânea sem receber nada em troca.