Imagine um dia ruim no trabalho, você comete um erro, daí vem um supervisor e te agride com um soco na frente dos colegas. Todos os seus amigos e familiares ficam sabendo. Mesmo que a empresa tivesse demitido o supervisor, você estaria bem para voltar a trabalhar dois dias depois?
Essa situação hipotética reproduz o que o Flamengo esperava de Pedro, punido pelo clube com multa e um jogo de suspensão por se recusar a seguir no aquecimento contra o Atlético-MG. O gesto de indisciplina fez com que o preparador Pablo Fernández agredisse o atacante com tapas e um soco no rosto dentro do vestiário.
Apesar de ter demitido o preparador, o mínimo a ser feito nesse caso, o Flamengo erra ao punir, também, o jogador, menosprezando a gravidade e o contexto da agressão. É óbvio que Pedro errou ao desacatar ordens da comissão técnica e tem deixado a desejar nos treinamentos desde a chegada de Jorge Sampaoli, assim como poderia ter comunicado ao clube com antecedência que faltaria à reapresentação na última segunda-feira.
Resposta a insubordinação pode ser multa, afastamento, advertência ou até mesmo rescisão contratual, jamais agressão. Comissão técnica e diretoria teriam razão ao cobrar o jogador, mas isso fica em segundo plano a partir do momento em que um integrante do estafe recorre à violência.
O soco no rosto é uma humilhação, uma atitude extrema que nunca pode ser normalizada em qualquer ambiente profissional. E não há precedente parecido no vitorioso Flamengo dos últimos anos. Sim, o departamento de futebol já havia punido Gabigol em 2021 por não ter se juntado à delegação após partida pela seleção brasileira, alegando uma lesão muscular. Porém, é descabido comparar a suspensão imposta ao camisa 10 com a situação de Pedro.
Se um profissional é agredido, o clube precisa rever o tratamento à vítima, independentemente do erro que ela tenha cometido. Nesse primeiro momento, Pedro deveria receber acolhimento incondicional do Flamengo. Depois que a poeira baixasse e o trauma da agressão já estivesse superado, a diretoria poderia questionar — e punir — os equívocos do jogador.
Suspender o atacante na mesma semana em que foi covardemente agredido no vestiário é um ato de insensibilidade e, ao mesmo tempo, pouco inteligente do Flamengo. Além de transferir a culpa para a vítima, cria um clima insustentável para um jogador que já se mostrou decisivo, mas vive momento ruim dentro e fora de campo.
Nenhum jogador deve ser blindado de punição por indisciplina e quebra de hierarquia, desde que não tenha tido sua integridade física atacada no ambiente de trabalho. Nada justifica a violência que Pedro sofreu. O episódio no Independência demanda suporte, compreensão e diálogo com o atleta, não punição no calor de uma agressão.