Finalista do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro colhe os frutos de uma gestão profissional que assumiu o clube em estado falimentar. Comprado pelo ex-jogador Ronaldo Nazário e convertido em SAF, o time conseguiu deixar a Série B do Campeonato Brasileiro após três anos, se manteve na primeira divisão e tenta retomar o protagonismo de outros tempos.
Porém, um tema extracampo precisa ser colocado em pauta pela administração celeste. Na semana passada, o Cruzeiro promoveu o evento Kick-Off, encontro anual para debater planos e metas do clube. Em uma selfie tirada por Ronaldo, alguns torcedores chamaram a atenção para a baixa representatividade racial entre funcionários da instituição, especialmente na parte administrativa.
De fato, a predominância de brancos e a escassez de negros no quadro de colaboradores cruzeirenses é bastante perceptível, colocando em xeque a atuação do Comitê de Inclusão e Diversidade do clube. Criado em 2020, o grupo é responsável pela discussão de temas sobre equidade de gênero, diversidade racial, LGBTQI+ e pessoa com deficiência.
Em 2023, o Cruzeiro criou um Comitê de Torcedores que pretendia incluir representantes de minorias étnicas e diversidade. Entretanto, no próprio grupo, a população negra está sub-representada, já que a maioria dos 16 integrantes é composta por homens brancos.
Infelizmente, a falta de diversidade no time mineiro reflete a situação de boa parte dos clubes de futebol, sobretudo na esfera de gestão, que segue impondo flagrantes barreiras raciais. Mas, até mesmo por sua origem e trajetória no esporte, Ronaldo deveria se incomodar com a baixa representatividade do estafe.
Único negro entre presidentes estatutários de clubes e donos de SAF na primeira divisão nacional, o Fenômeno já reconheceu, em participação recente no podcast de Mano Brown, ter se equivocado em posicionamentos sobre racismo e questões raciais no passado, como quando afirmou ser branco, na época em que ainda jogava.
Após se dizer frustrado por ter demorado a tomar consciência racial e admitir erros ao longo desse processo de autoconhecimento, Ronaldo também assume a obrigação de mudar atitudes na prática. Hoje dono de clubes de futebol, ele pode ser um ator efetivo na luta contra o racismo.
Já está provado que dar oportunidades a pessoas negras, promovendo a diversidade racial principalmente em cargos de gestão, não é só uma virtude de responsabilidade social, mas um movimento benéfico e lucrativo para as empresas. Em uma administração guiada pela lógica empresarial como a SAF do Cruzeiro, inserida em um país de maioria negra, passou da hora de rever a predominância branca, servir de exemplo e evitar novo constrangimento na foto do próximo evento da firma.