Na última temporada, Paulo Nobre fez um tour pelos quatro Grand Slams do circuito mundial de tênis. Registrou a aventura posando para fotos vestindo camisas do Palmeiras em todos os eventos. Porém, em nenhuma delas, a marca da Crefisa, patrocinadora oficial do Palmeiras desde 2015, aparece no centro do uniforme.
O ex-mandatário adota um boicote nada velado à empresa de Leila Pereira, atual presidente do clube, em suas redes sociais e até mesmo em seu círculo pessoal. Só voltou a mencionar o nome da patrocinadora no fim da semana passada, em carta aberta endereçada a Leila após a dirigente afirmar em entrevista coletiva que o Palmeiras voltaria para a segunda divisão caso ela e suas empresas deixem a equipe.
“Sem a Crefisa, já éramos o maior campeão do Brasil”, ressaltou Nobre, antes de afirmar que Leila se acha dona do clube. Ironicamente, ele era o presidente em exercício quando o Palmeiras fechou o acordo de patrocínio com a Crefisa. Desde então, sua relação com a patrocinadora tomou rumos conflitantes.
Depois de seguidos desgastes devido ao que considerava uma ingerência excessiva de Leila e da Crefisa no dia a dia do clube, Nobre viu seu sucessor e ex-aliado, Mauricio Galiotte, estreitar relacionamento com a patrocinadora a ponto de ser um dos fiadores da admissão da empresária no Conselho palestrino, algo que passou a qualificar como uma traição ao sair do clube.
O ex-presidente se desiludiu tanto com a política palmeirense que, em 2019, renunciou ao cargo de conselheiro vitalício e se afastou completamente dos bastidores, embora fizesse questão de ressaltar a paixão pelo alviverde em postagens e aparições públicas. Por isso, a carta aberta publicada na última sexta-feira é tão emblemática.
Com críticas pesadas à gestão de Leila, sobretudo ao inequívoco conflito de interesses por ser presidente e patrocinadora ao mesmo tempo, o manifesto de Nobre é interpretado como uma volta ao jogo interno do antigo dirigente, que pode minar os planos de poder da atual mandatária.
Leila não esconde de ninguém a intenção de se candidatar à reeleição no Palmeiras, tanto que tem usado uma possível extensão de contrato do técnico Abel Ferreira como moeda eleitoral. Entretanto, ter um ex-presidente respeitado como Paulo Nobre engrossando as fileiras da oposição acirra ânimos que pareciam pacificados na política do clube.
Rompida com a Mancha Verde, principal organizada palmeirense, e alvejada por uma enxurrada de críticas pela temporada abaixo das expectativas do time, Leila nunca havia se visto no olho do furacão como agora, ainda mais após a polêmica entrevista que despertou a ira não só de Nobre, mas também de uma parte expressiva da torcida e de conselheiros. Tacadas como a proposta para tirar o atacante Bruno Henrique do Flamengo, por exemplo, sinalizam desespero para acalmar as pressões.
Por outra ironia do destino, Leila pode acabar destituída da presidência do Palmeiras justamente por quem viabilizou sua entrada no clube por meio do patrocínio ao uniforme. O boicote à Crefisa, que antes se resumia a uma implicância pessoal de Nobre, começa a ganhar novos adeptos entre palmeirenses e turbina uma oposição sem precedentes à patrocinadora-presidente.