Em meio aos embates ideológicos das redes sociais, a previsão catastrófica de que o Brasil viraria uma Venezuela jamais se concretizou, nem na esfera política, tampouco na econômica. Ironicamente, é na bola que a grande potência da América do Sul, que sempre se orgulhou de ser o “país do futebol”, mais se aproxima do vizinho imerso em longa crise político-social.
Diante de outra atuação sofrível do time comandado por Dorival Júnior, que perdeu para o Paraguai nesta terça-feira e amarga o quinto lugar nas Eliminatórias sul-americanas, empatado em pontos com a seleção venezuelana, que tem uma vitória a menos, mas também menos derrotas e gols sofridos em comparação ao Brasil, a comparação se torna inevitável.
Seria tão tragicômico quanto as conjecturas politiqueiras de botequim cravar que a Venezuela alcançou o país pentacampeão do mundo em quantidade de bons jogadores à disposição, mas não é exagero dizer que a equipe dirigida pelo técnico argentino, Fernando Batista, hoje não deve em nada ao futebol praticado pela seleção brasileira.
Apesar de contar com craques como Endrick, Rodrygo e Vini Jr., um trio de ataque do Real Madrid, Dorival ainda não conseguiu formar um conjunto confiável. Assim como na Copa América, o time mostrou nos últimos dois jogos de Eliminatórias que segue sem ideias e pobre de repertório com a bola. Para completar, mesmo com a promoção de André entre os titulares, a marcação no meio-campo continua frágil e descompactada.
Desde o fim da Copa do Mundo no Catar, em 2022, Brasil e Venezuela fizeram 19 partidas cada. Enquanto os venezuelanos somam 65% de aproveitamento, a seleção brasileira tem 47%, com sete vitórias, seis derrotas e seis empates. Já são quatro reveses nas Eliminatórias, pior campanha do país na história da competição.
Se, por um lado, a Vinotinto aposta no trabalho de longo prazo de Batista para, enfim, conseguir vaga em sua primeira Copa, por outro, a CBF se perdeu completamente após a saída de Tite. Dorival já é o terceiro treinador do ciclo, após passagens frustrantes de Ramon Menezes e Fernando Diniz pelo comando, além do desmoralizado plano de contratar Carlo Ancelotti, que preferiu a estabilidade no Real Madrid.
Tal qual o Brasil, a Venezuela parou nas quartas de final da Copa América. Mas, em que pese a histórica fragilidade no futebol e seus escassos destaques individuais, como o veterano Rondón, Soteldo e Savarino, tem feito muito mais com menos, a ponto de arrancar um empate quando jogou na Arena Pantanal, no ano passado.
Brasil e Venezuela voltarão a se enfrentar em novembro pelas Eliminatórias, com Dorival bastante pressionado por atuações nada inspiradoras. O fato de atualmente estarem na mesma prateleira de forças continentais é emblemático. Quem nunca disputou uma Copa sonha com a proeza inédita. Quem tem cinco títulos mundiais flerta com o risco de ficar fora pela primeira vez.