O fim de ano melancólico do Corinthians masculino, que perdeu para o Internacional neste sábado, mas corre pouco risco de rebaixamento, é a expressão de uma temporada em que nada deu certo no clube, à exceção do histórico e vitorioso time feminino. Dos jogadores à diretoria, ninguém se salvou.
Pela primeira vez na história da Neo Química Arena, a equipe foi derrotada pelo Inter. Com isso, também de forma inédita desde a inauguração do estádio, o Corinthians termina o Campeonato Brasileiro com menos de 50% de aproveitamento, sem conseguir somar nem a metade dos pontos em disputa nos jogos em casa.
Mano Menezes está demorando para “desesculhambar” o time, que segue irregular e fisicamente inferior a quase todos os adversários. Com elenco envelhecido, sofreu mais uma vez para marcar as transições em velocidade do Inter, seu ex-clube. Demonstrando o ressentimento de quem não superou a demissão, o treinador voltou a alfinetar os gaúchos, insinuando que a diretoria colorada teria aumentado o bicho dos jogadores, que, em tese, já não têm ambições esportivas no campeonato.
Como se o suposto incentivo financeiro fosse determinante para o resultado, e não mais uma fraca exibição de sua equipe, Mano continua resistindo em assumir a necessidade de uma profunda reformulação no elenco e no departamento de futebol corintiano. Prefere terceirizar responsabilidades e encontrar culpados externos com um discurso recalcado a expor o real diagnóstico dos problemas que lhe cabem.
Apesar de ter uma folha salarial superior a 20 milhões de reais, uma das maiores da Série A, o Corinthians fez sua pior campanha como mandante desde o ano do rebaixamento, em 2007. Maior responsável pela montagem de um grupo desequilibrado de atletas, o presidente Duílio Monteiro Alves termina o mandato sem títulos, outro feito inédito entre cartolas de seu grupo político, desalojado do poder após 16 anos de hegemonia.
O Corinthians de 2023 será lembrado como o time que abraçou por completo a mediocridade, dentro e, principalmente, fora de campo. Em seu ato mais desastrado em toda a gestão, Duilio bancou a contratação de Cuca à revelia do time feminino e de boa parte da torcida, que protestaram devido à condenação que pesa contra o treinador por violência sexual.
Um movimento que, de certa forma, acabou comprometendo o restante da temporada. Cuca durou apenas dois jogos e não resistiu à justa pressão da opinião pública. Na partida de sua despedida, na classificação contra o Remo pela Copa do Brasil, os jogadores correram em direção ao banco para abraçar o treinador e dedicaram a vitória ao profissional que carrega uma mancha em seu currículo por ter se envolvido no estupro coletivo de uma garota de 13 anos, na década de 1980, e nunca ter cumprido a pena estipulada pela Justiça da Suíça.
Liderados pelo capitão Cássio, que puxou o abraço infame a Cuca, o elenco corintiano se mostra cada vez mais desgastado com o torcedor. Figuras como Fagner, Gil e Renato Augusto já não são confiáveis do ponto de vista físico. Fábio Santos, que padeceu com buracos pelo lado esquerdo da defesa, se despediu do clube aos 38 anos.
A necessidade de reformulação é o desafio mais urgente do presidente recém-eleito, Augusto Melo, para 2024. Uma das poucas esperanças para a torcida, único legado deixado por Vanderlei Luxemburgo, aposta emergencial pós-saída de Cuca, é a safra de jogadores que despontaram da base. Gabriel Moscardo, o principal deles, já está na mira de clubes europeus e deve ser negociado para ajudar a bancar parte da reciclagem do elenco.
Nos últimos anos sem conquistas, o Corinthians gastou mal em contratações e perdeu completamente o rumo no departamento masculino do futebol profissional. E, como cereja do bolo, encerra a temporada abraçado ao vexame institucional da diretoria que preferiu rasgar valores de um clube que se orgulha do passado democrático para sustentar escolhas medíocres do presente.