Depois de uma estreia animadora, o Brasil voltou a acumular erros imperdoáveis que viraram rotina em grandes competições do futebol feminino. Enquanto falhas coletivas resultaram em eliminação na fase de grupos da última Copa do Mundo, no ano passado, dessa vez a classificação na Olimpíada de Paris esteve por um fio devido às más decisões individuais das atletas comandadas por Arthur Elias.
No segundo jogo pelo torneio olímpico, a equipe cedeu a virada para o Japão após pênalti desnecessário cometido pela lateral Yasmin e um erro de passe da experiente zagueira Rafaelle. Já contra a favorita Espanha, a derrota brasileira começou a se desenhar a partir da expulsão totalmente evitável da maior referência dessa geração.
Marta recebeu cartão vermelho por acertar uma voadora na cabeça de Olga Carmona, ainda no primeiro tempo. Mesmo mais exigida na recomposição defensiva, nada justifica a entrada imprudente e violenta, sobretudo de uma jogadora tão cascuda que, como capitã, deveria ser exemplo de conduta às demais.
Por todos os serviços prestados à seleção, a camisa 10 tem crédito e foi amparada pelas companheiras ao deixar o gramado aos prantos. De qualquer forma, precisa ser advertida pela comissão técnica pelo ato inconsequente, que, caso o Brasil não avance nas quartas de final, pode ficar marcado como sua despedida melancólica dos Jogos Olímpicos. Um pecado para quem tanto fez pelo futebol, mas inconcebível em jogos desse tamanho.
Com uma jogadora a mais, a Espanha aumentou a pressão no segundo tempo e lançou a campo titulares que haviam sido poupadas, como Aitana Bonmatí e Mariona Caldentey, que descolou cruzamento pela esquerda, mal rebatido pela goleira Lorena, para Athenea del Castillo abrir o placar.
Em que pese a desvantagem numérica e no marcador, o Brasil encontrou brechas para reagir por meio dos contra-ataques. Num deles, Ana Vitória pecou pelo individualismo e conduziu demais a bola, que deveria ter sido passada para Gabi Portilho, completamente livre de marcação pelo lado direito. Nos acréscimos, Alexia Putellas fechou a conta a favor das espanholas com um chute colocado de canhota.
Não há dúvidas de que decisões de Arthur Elias merecem questionamento, como o excesso de mexidas nas escalações e de apego defensivo diante da Espanha, que, antes mesmo da expulsão de Marta, já sufocava o recuado Brasil no campo de defesa. Mas, depois de fracassos sob a direção de Vadão e Pia Sundhage, está claro que os problemas da seleção vão além do comando técnico e precisam ser reconhecidos pelo grupo de jogadoras.
Marta deixou as companheiras na mão e será desfalque nas quartas. Lorena não foi tão segura como nos jogos anteriores. Yasmin e Rafaelle se desconcentraram antes do apito final. Faltou sangue frio contra o Japão. Faltou bom senso coletivo contra a Espanha. E todos esses aspectos passam pelas atitudes das atletas, não somente do treinador.
Sem Marta, o Brasil terá de corrigir os erros infantis que minam as chances de medalha no futebol. Por não ter conseguido se classificar entre as duas melhores do grupo, a seleção pega a França, algoz nos últimos dois Mundiais, no próximo sábado. A missão se complicou bastante, mas não está perdida, desde que as jogadoras assumam a responsabilidade por falhas que custarão ainda mais caro a partir de agora.