Dispensa de preparador por post contra aborto reflete problema mais amplo no esporte feminino

Profissional vinculado à seleção feminina de basquete perdeu a confiança de atletas após posicionamento sobre PL do Aborto

26 jun 2024 - 11h39
Diego Falcão foi dispensado pela CBB depois de revoltar jogadoras da seleção
Diego Falcão foi dispensado pela CBB depois de revoltar jogadoras da seleção
Foto: Divulgação

Diego Falcão, preparador físico da seleção feminina de basquete, foi dispensado do cargo pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB) após manifestar apoio ao projeto de lei que pretende equiparar o aborto ao crime de estupro. Caso seja aprovado, vítimas de violência sexual só poderiam interromper a gestação até a 22ª semana, sob o risco de serem condenadas a uma pena maior que a do estuprador.

Consequentemente, o posicionamento do profissional nas redes sociais desagradou as jogadoras da seleção, que o repudiaram em manifestações públicas contrárias ao PL do Aborto. Diante da quebra de confiança com as atletas, a CBB optou por não recorrer mais aos serviços de Diego Falcão, que alega ter sido censurado.

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Mais do que a hipocrisia de quem se esconde atrás da religião para ignorar o impacto da criminalização do aborto sob a perspectiva das mulheres, que veem direitos básicos atacados no Congresso Nacional, o caso do preparador reflete um problema mais amplo no esporte feminino, que também precisa ser debatido: o predomínio masculino em cargos de comando.

Homens continuam sendo maioria até mesmo em comissões técnicas de modalidades femininas, como é o caso do basquete. A seleção brasileira das mulheres é treinada por José Neto, ao lado dos auxiliares Virgil Lopez e João Almeida Camargo. Na última temporada da Liga de Basquete Feminino, das oito equipes finalistas, apenas uma era comandada por mulher.

Não bastasse o peso da falta de representatividade, a escassez de mulheres no topo da cadeira do esporte, sobretudo em equipes femininas, contribui para a perpetuação de ambientes em que as atletas não são devidamente ouvidas e representadas. 

Diante da enorme desigualdade de gênero, parlamentares de extrema direita ligados ao esporte, como o ex-nadador e deputado federal Luiz Lima (PL-RJ), que manifestou solidariedade ao preparador Diego Falcão, preferem mover esforços por pautas que desconsideram a opinião das mulheres do que ouvir suas demandas no contexto esportivo.

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Fosse uma mulher ocupando cargo importante na comissão técnica da seleção, certamente se preocuparia em ao menos escutar as atletas que treina antes de emitir qualquer posicionamento em um tema tão sensível. Mas Falcão não se preocupou com as consequências de seu ato para as jogadoras da equipe, que agora precisam aturar ataques nas redes sociais por causa da exposição gerada pelo preparador. A quebra de confiança é resultado da manutenção do privilégio a homens em espaços ainda resistentes a lideranças femininas.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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