Dudu, Palmeiras e Cruzeiro: o erro de cálculo de cada parte envolvida na negociação

Anúncio de contratação por clube mineiro desencadeia uma série de reações que coloca em xeque idolatria do atacante

17 jun 2024 - 16h07
Enquanto Dudu mantém silêncio, Leila e Mattos se pronunciaram sobre negociação
Enquanto Dudu mantém silêncio, Leila e Mattos se pronunciaram sobre negociação
Foto: Divulgação

Desde que o Cruzeiro anunciou o acordo para o retorno de Dudu, no fim da tarde de sábado, uma sequência de desdobramentos pressiona o atacante palmeirense, que viu sua idolatria diante do torcedor alviverde ser arranhada pela possível transferência para o clube mineiro.

A enorme repercussão do acordo evidencia erros de cálculo de cada parte envolvida na negociação, a começar por Dudu, que, na semana passada, se dizia emocionado e grato por reencontrar a torcida no Allianz Parque, mas ainda não se pronunciou sobre as tratativas com o Cruzeiro.

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Com o desejo de buscar novos ares, o jogador acabou subestimando seu tamanho na história do Palmeiras e o que representa para o clube. Naturalmente, ao decidir trocar a camisa com a qual conquistou 12 títulos por outro clube brasileiro, sofreria cobranças pesadas por parte dos palestrinos que o enxergam como grande ídolo da geração mais vitoriosa da Academia.

Além de ter calculado mal a reação da torcida, Dudu ainda escolheu um péssimo timing para abrir conversas com outra equipe. Depois de 10 meses em recuperação de lesão no joelho, ele era visto pela torcida alviverde como a principal esperança do time para suprir a lacuna deixada por Endrick, negociado com o Real Madrid. Há menos de dois anos, o Palmeiras esticou a corda financeira para renovar seu contrato até 2025, tornando-o o jogador mais bem pago do país. Inevitável que, nesse cenário, uma saída por livre e espontânea vontade do atleta soe como ingratidão aos olhos dos torcedores.

Do lado do Palmeiras, o equívoco reside na normalização da saída de um ídolo com a representatividade de Dudu. Embora a gestão de Leila Pereira não se comova com serviços prestados e observe mais o aspecto racional dos vínculos contratuais, perder o atacante para um concorrente nacional pode virar uma dor de cabeça caso falhe na reposição de um jogador com características raras no mercado, fora a idolatria.

Há quem considere Dudu um dos três maiores ídolos da história do Palmeiras. Se o time encontrar dificuldades para manter o ciclo vitorioso dos últimos anos sem o craque, a perda teria potencial para abalar até mesmo o futuro político de Leila, que concorrerá à eleição no fim do ano.

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Em pronunciamento na manhã desta segunda-feira, a presidente palmeirense foi firme ao deixar claro que nenhum jogador é maior que o clube. Tem razão, ainda mais ao não se dispor a fazer loucuras e cobrir uma proposta de cinco anos de contrato, incluindo uma compensação de 4 milhões de dólares, por um atleta de 32 anos que acaba de se recuperar de uma grave lesão.

Já o Cruzeiro, ao sentir o menor sinal da possibilidade de recuo por parte do atleta na negociação, tomou a decisão de antecipar o anúncio oficial do acordo para forçar a assinatura do contrato. Acontece que, pressionado pela reação dos palmeirenses, Dudu foi obrigado a dar um passo atrás, que, evidentemente, não pega bem entre os cruzeirenses que davam o negócio como certo e celebravam o retorno do jogador revelado pelo clube.

Alexandre Mattos, o representante celeste nas tratativas, diz que foi Dudu quem o procurou ao sinalizar o interesse em sair do Palmeiras. Independentemente da origem da negociação, para um clube sob novo comando e que pretende adotar postura mais agressiva no mercado, a contratação seria um recado e tanto, sobretudo após tirar Cássio do Corinthians.

Dudu pode tomar o mesmo rumo do ex-goleiro corintiano, mas tende a sair de seu clube mais desgastado com a torcida. O Cruzeiro pode ter um reforço de impacto, mas corre riscos ao oferecer contrato tão longo – e tão caro. O Palmeiras pode abrir espaço na folha salarial para reformulação e rejuvenescimento do elenco, mas terá de ser cirúrgico ao suprir a ausência de um ídolo.

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Qualquer que seja o desfecho da novela, todos os atores envolvidos poderiam ter se cercado de mais cuidados na condução de um negócio altamente complexo, com potencial de deixar cicatrizes em protagonistas sem o poder da palavra final no enredo: os torcedores de ambos os clubes.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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