Preso há um ano sob acusação de estupro em Barcelona, o ex-lateral da seleção brasileira, Daniel Alves, recorre a um expediente comum em casos do tipo às vésperas de seu julgamento: a culpabilização da mulher.
Em uma campanha coordenada, baixa e covarde, que viola o direito de preservação da intimidade de denunciantes de violência sexual, familiares, incluindo a mãe Maria Lucia Alves e o irmão Ney Alves, e parças do jogador, como o especialista em sensacionalismo de rede social, Raiam Santos, compartilharam um vídeo que expõe nome e imagem da mulher que o denunciou por estupro em uma boate na Espanha.
Tanto a Constituição brasileira quanto a espanhola garantem o sigilo de identidade e o anonimato a pessoas que denunciam crimes sexuais. Porém, com a proximidade do julgamento marcado para o início de fevereiro, os defensores de Daniel Alves usam a mesma estratégia de muitos homens acusados de estupro, que consiste em desqualificar palavras e atitudes da mulher, ainda que isso viole direitos básicos, com o intuito de influenciar a opinião pública e, por consequência, o próprio tribunal na Justiça.
Sem acesso a redes sociais desde que foi preso, o jogador conta com o círculo íntimo – à exceção das ex-mulheres, que se afastaram dele ao longo do processo criminal – para disseminar a narrativa de que a suposta vítima estaria se divertindo e frequentando festas enquanto aguarda o julgamento, vendendo a ideia de que ela não estaria traumatizada como alega na acusação.
Além de ser uma relação completamente equivocada (o trauma com a aparente rotina de uma “vida normal”), o vídeo difundido pelo entorno de Daniel Alves não passa de uma edição tendenciosa e sem qualquer comprovação de datas em que as imagens foram gravadas, muito menos de que se tratam da mulher que acusa o jogador após a denúncia.
Típico de réus desesperados com a possibilidade de serem condenados, o “dossiê” tem potencial apenas para complicar ainda mais a defesa de Alves, que mudou seis vezes sua versão em depoimento às autoridades espanholas e já contratou três advogados diferentes.
Depois da repercussão negativa do vídeo, Ney Alves se pronunciou reconhecendo que o irmão errou, mas somente com a ex-esposa Joana Sanz, com quem estava casado na época da denúncia. “Onde que tá o crime?”, questiona Ney.
Cabe à Justiça espanhola julgar se Daniel Alves cometeu ou não estupro. Mas, antes do julgamento, é preciso lembrar que quem divulga a identidade de denunciantes de violência sexual pode ser punido por não respeitar a garantia constitucional do anonimato.