Independentemente do adversário, a Espanha avança à final da Eurocopa como favorita ao título. Não só pela vitória por 2 a 1 sobre a França, de virada, mas por ter sido o time mais estável e regular ao longo de toda a competição.
Os Blues bem que tentaram, abriram o placar com Kolo Muani, aproveitando o cruzamento perfeito de Mbappé, mas, ainda no primeiro tempo, sucumbiram ao estilo envolvente da Espanha, que soube corrigir os espaços concedidos ao craque francês nas costas de Jesús Navas e, aos poucos, se impor pela posse de bola.
Prestes a completar 17 anos, a revelação do Barcelona, Lamine Yamal, provou que já é uma realidade ao tirar da cartola um golaço de canhota para empatar a partida, se tornando o jogador mais jovem da história a marcar na Euro. Bastante ativo pelo lado direito, ele também iniciou a jogada do gol da virada, antes do intervalo.
Com o melhor ataque do torneio, a Espanha chegou a 13 gols anotados e é a primeira seleção a chegar à decisão com 100% de aproveitamento. Caiu em uma das chaves mais difíceis, se classificou sem ser vazada na fase de grupos e, para completar, deixou pra trás a Alemanha, dona da casa, e a atual vice-campeã mundial, de Mbappé, Griezmann e companhia.
Méritos para o trabalho discreto, porém eficiente do técnico Luis de la Fuente. Pelo bom histórico de serviços prestados às seleções de base espanholas, ele assumiu o time principal no fim de 2022, no lugar do xará Luis Henrique, logo depois da Copa do Mundo. Sua missão era aproveitar a fornada de novos talentos, rejuvenescer a equipe e retomar o jogo coletivo que marcou a geração mais vitoriosa do país.
Cumpriu à risca todos os objetivos, principalmente pela coragem de bancar o processo de renovação e promover jovens como Yamal e Nico Williams a titulares. O time bem armado, organizado e de vocação ofensiva potencializa a qualidade individual, que virou o trunfo de uma Espanha que agora concilia a troca insistente de passes com dribles e velocidade pelos lados.
De la Fuente era o treinador da equipe sub-23 espanhola na final da Olimpíada de Tóquio, vencida pelo Brasil. Ali começou a plantar a semente que agora dá frutos, em um time que tinha o goleiro Unai Simón, o lateral Cucurella, os meias Pedri, Merino e Dani Olmo e o atacante Oyarzabal – todos eles agora integram o grupo que disputa a Euro.
Embora o Brasil atual também tenha nomes remanescentes daquela decisão na seleção principal, como Guilherme Arana, Douglas Luiz e Bruno Guimarães, faltou à CBF um projeto de médio prazo semelhante ao dos espanhóis. Com três técnicos diferentes depois da saída de Tite, o time brasileiro desperdiçou tempo após a última Copa e não consegue tirar o melhor de seus destaques individuais, a exemplo de Vinicius Jr. e Rodrygo, titulares e campeoníssimos no Real Madrid.
Fazendo inveja aos torcedores brasileiros, nem tanto pelos talentos que revela, e mais pela capacidade de praticar um bom futebol coletivo, a Espanha aguarda o vencedor de Holanda e Inglaterra na outra semifinal. Nenhum deles jogou tanta bola nesta Eurocopa quanto a Fúria de Lamine Yamal, um craque expoente que brilha sem carregar o peso da obrigação de decidir sozinho.