Se o Brasil havia deixado más impressões na fase de grupos ao terminar em terceiro lugar em sua chave, elas foram pulverizadas neste sábado com a vitória por 1 a 0 sobre a França. Mais que o resultado, que garantiu a seleção na semifinal do futebol feminino nas Olimpíadas de Paris, o desempenho diante das donas da casa revigora a confiança do time comandado por Arthur Elias.
O técnico apostou em uma formação leve e, ao mesmo tempo, conservadora. Optou pela zagueira Thaís Ferreira no lugar da lesionada Antônia, na direita, e Yasmin na esquerda. Na frente, sem a suspensa Marta, Adriana foi quem executou a função por trás das atacantes Jheniffer, Gabi Portilho e Gabi Nunes.
Manteve na zaga a questionada Rafaelle, que até sentir uma lesão na etapa final, foi perfeita nas recuperações e coberturas. Ao lado da sempre eficiente Tarciane, cumpriram muito bem a marcação da forte bola aérea francesa, sobretudo nos escanteios que buscavam a grandalhona Wendie Renard.
No único erro defensivo, as zagueiras subiram na mesma bola, que acabou sobrando para Cascarino dentro da área. Em tentativa desesperada de correção, Tarciane cometeu o pênalti, defendido pela goleira Lorena – o segundo dela no torneio. A França seguiu pressionando, mas sem contundência, tampouco conexões com a artilheira Katoto, praticamente anulada pela defesa brasileira.
A agressividade na marcação e nos contragolpes, que faltou contra a Espanha, foi fundamental para igualar a disputa física com as francesas. Pensando nisso, as mexidas cirúrgicas de Arthur Elias no segundo tempo visaram manter a intensidade e, aos poucos, ganhar mais terreno no campo adversário.
Tamires foi a escolhida para substituir Rafaelle. Assim, o desenho tático do Brasil se alterou. Thaís fechou a zaga, enquanto Adriana recuou para ocupar a lacuna no lado direito da defesa. Tamires e Yasmin dobraram a marcação pela esquerda, enquanto o esquema com apenas duas atacantes foi retomado.
Gabi Portilho passou a ser a referência no ataque após a saída de Nunes. Foi dela a primeira grande oportunidade do Brasil no jogo, aproveitando falha de Renard na saída de bola. A finalização passou raspando a trave direita de Picaud, mas ali a equipe havia encontrado o caminho para o gol.
Novamente em pressão bem executada no meio, o Brasil recuperou a bola e lançou Portilho na velocidade. A atacante ganhou das zagueiras francesas, saiu cara a cara com Picaud e, dessa vez, não desperdiçou. Depois de abrir o placar aos 38 do segundo tempo, a craque da partida ainda acertou a trave e por pouco não decretou a vitória.
Com a vantagem mínima, a seleção precisou resistir a inexplicáveis 18 minutos de acréscimo e à pressão da torcida francesa, em maioria nas arquibancadas do estádio de Nantes. Em nenhum momento, porém, o time se desorganizou ou flertou com erros primários como os cometidos diante do Japão na primeira fase.
Um feito duplamente notável. Pela primeira vez, o Brasil venceu a França, algoz nas últimas duas Copas do Mundo, no futebol feminino – e, ainda por cima, jogando na casa das adversárias. O time de Arthur Elias superou críticas merecidas e a ausência de Marta para manter vivo o sonho do ouro olímpico.
Agora, novamente contra a Espanha, atual campeã mundial, o treinador precisa quebrar a cabeça. Devolve a vaga de titular a Marta, que vinha bem até a expulsão contra as espanholas ou dá continuidade à formação mais intensa e dinâmica sem a camisa 10? Um bom dilema para resolver até a próxima terça.