Deu a lógica. O Manchester City se impôs e venceu o Fluminense por 4 a 0 na final do Mundial de Clubes. Mesmo desfalcado de Haaland e De Bruyne, o time de Pep Guardiola era franco favorito ao título, que amplia a superioridade das equipes europeias sobre as sul-americanas alicerçada pela desigualdade econômica.
Embora tenha sofrido um gol após erro de Marcelo, aos 40 segundos de jogo, o Flu demonstrou poder de reação e enorme personalidade para se recuperar no duelo. Convicto em sua filosofia, Fernando Diniz dobrou a aposta na obsessão pela bola — e vários jogadores ao redor dela — para tentar surpreender um adversário muito mais técnico e estrelado.
Nos primeiros 20 minutos, a equipe tricolor superou a marca de 60% de posse de bola, arriscando passes com Fábio desde a pequena área e envolvendo a primeira linha de marcação do City. Um feito raríssimo na era Guardiola, que, em 95% dos jogos à frente do time inglês, terminou com maior posse que o oponente.
Evidentemente, pelas limitações físicas e de elenco, seria complicado o Fluminense sustentar o mesmo ritmo ao longo dos 90 minutos. Mas, se quisessem ter alguma chance de bater os campeões europeus, Diniz e seus comandados teriam de flertar com o impossível.
Um flerte que chegou a dar esperanças à torcida, como no lance do pênalti sofrido por Cano, mas anulado por impedimento na origem da jogada. Até que o gol contra de Nino, na sequência de um passe milimétrico de Rodri para Foden, representou um banho de água fria que devolveu o Flu à realidade. Sem pernas para seguir pressionando a saída do City, à exceção do bravo e incansável Arias, a equipe carioca foi para o intervalo com menos posse, porém com a mesma precisão de passe (91%).
De forma previsível, o segundo tempo foi de controle e dosagem por parte do Manchester City, que transformou a vitória em goleada sem grandes esforços, enquanto o Fluminense tentava resistir e atacar com a energia renovada de John Kennedy, que não conseguiu ver sua estrela brilhar como na final da Libertadores.
Não há vexame nenhum em ser goleado pelo City, clube que tem faturamento 10 vezes maior que o Fluminense e investe em média 1 bilhão de reais por ano em contratações. Um universo totalmente distante do futebol brasileiro, que mantém o jejum de mais de uma década no Mundial de Clubes.
Mesmo que resolvesse mudar radicalmente seu estilo de jogo, Diniz poderia fazer até mágica que, ainda assim, seria improvável que o Flu vencesse a final. Jogadores e treinador não negociaram com ideais e convicções. O recorte dos 20 minutos de equilíbrio e envolvimento com a bola impressionou o mundo pela coragem de jogar. O dinizismo ganha novos adeptos e, apesar da derrota tão amarga quanto esperada, encerra 2023 consagrado pela temporada mais fantástica da história tricolor.