Futebol masculino precisa evoluir muito para se equiparar ao feminino

Enquanto jogadoras se unem contra a violência machista, homens do futebol usam privilégios para acobertar agressores de mulher

15 abr 2024 - 17h53
Jogadoras do Corinthians fazem protesto em jogo contra o Santos, na Vila Belmiro
Jogadoras do Corinthians fazem protesto em jogo contra o Santos, na Vila Belmiro
Foto: Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians

Graças à mobilização de atletas, o treinador Kleiton Lima pediu demissão do Santos. Ele havia sido recontratado no início do mês após o clube não ter levado adiante a investigação de denúncias de assédio moral e sexual contra o técnico.

Na reestreia de Lima, jogadoras de vários times se uniram em protesto direcionado ao profissional, incluindo atletas do Corinthians, que enfrentaram o Santos na Vila Belmiro. Com as mãos sobre a boca e o ouvido, elas manifestaram repúdio ao retorno do treinador e à maneira como a cúpula santista conduziu o caso.

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Esta não foi a primeira vez que as Brabas corintianas, time mais vencedor da atualidade no futebol feminino, levantaram a bandeira contra a violência machista. No ano passado, quando a equipe masculina alvinegra anunciou a contratação de Cuca, até então condenado por estupro na Suíça, as jogadoras do Corinthians também engrossaram manifesto de parte da torcida endereçado à diretoria. O técnico não resistiu à pressão e durou apenas dois jogos no cargo.

Com frequência, jogadoras usam sua voz e visibilidade para reivindicar melhorias para o futebol feminino, cobrar valorização e igualdade e fazer coro a diversas causas sociais. Maior atleta de todos os tempos na modalidade, Marta, por exemplo, se posicionou recentemente em favor da equidade de gênero, tema presente em seus discursos nas últimas duas Copas do Mundo.

Por outro lado, enquanto várias atletas mulheres cobraram punições severas a agressores sexuais antes idolatrados, como Daniel Alves e Robinho, o espectro do futebol masculino adota um silêncio constrangedor diante da reincidência de casos de estupro protagonizados por jogadores. Isso quando não fazem pior.

Não faltam homens da bola dispostos a abraçar, defender e até mesmo pagar pela liberdade de estupradores condenados na Justiça. Salvo exceções, como Vinicius Jr. e Paulinho, a maioria dos dirigentes, técnicos, jogadores e ex-boleiros se omite de usar seus privilégios e evita se posicionar sobre temas políticos ou causas sociais.

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Além do mais, o ambiente tóxico do futebol masculino, onde ofensas, xingamentos e crimes como racismo e homofobia são constantemente relativizados, não se estende ao feminino. Mesmo nos jogos com grande público, como os do Corinthians ou da seleção brasileira, o clima nas competições entre mulheres é muito mais acolhedor e inclusivo. Brigas envolvendo jogadoras e torcedores são tão raras quanto ocorrências de insultos discriminatórios.

Quem insiste em desqualificar a modalidade sempre bate na tecla rasa de que o futebol feminino ainda precisa evoluir muito para se equiparar ao nível de jogo do masculino. Na verdade, em termos de comportamento, civilidade e responsabilidade social, é o inverso: o futebol masculino está anos luz atrás do feminino.

Parece até que homens foram proibidos de jogar bola por quatro décadas, tamanho o atraso. Mas, por sorte, existe o futebol das mulheres para servir como referência de postura e coragem na luta por um esporte e um mundo melhores.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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