Guia para assistir à Copa do Mundo feminina sem preconceitos

É perfeitamente possível curtir o Mundial e torcer pelas jogadoras brasileiras deixando de lado os estereótipos machistas

19 jul 2023 - 07h58
(atualizado às 08h00)
Geyse, atacante da seleção brasileira, em treino na Austrália
Geyse, atacante da seleção brasileira, em treino na Austrália
Foto: Thais Magalhães/CBF

Você está preparado para a Copa do Mundo feminina? Preparado, não no sentido de saber o nome ou onde jogam todas as atletas, mas sim em relação ao modo de torcer e viver o torneio.

Historicamente, o futebol feminino sofre com restrições e preconceitos que acabam reverberando ainda mais durante a maior competição da modalidade, que ocorre de quatro em quatro anos.

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Se você está disposto a rever estereótipos machistas e a apoiar a seleção brasileira sem se portar como um torcedor preconceituoso, aí vão alguns toques sobre os tipos de crítica e comentário que você pode evitar ao longo do torneio que começa nesta quinta-feira.

1) Não venha com papinho de diminuir o tamanho dos gols

É só uma goleira falhar que a velha história de “é preciso diminuir as traves” volta a pipocar pelas redes sociais. Qualquer medida de melhoria do futebol feminino deve passar pelo crivo das atletas e, acredite, nunca partiu delas nenhuma sugestão para reduzir o tamanho dos gols.

Mary Earps, goleira da Inglaterra e atual melhor do mundo na posição, tem 1,73 m. Embora algumas das concorrentes superem sua estatura em mais de 10 cm, ela demonstra enorme segurança entre as traves.

Com a evolução da modalidade, as goleiras tem se tornado cada vez mais confiáveis, o que reflete na redução de falhas. Tanto que a média de gols da última Copa feminina (2,81 por partida) foi bem próxima da masculina (2,69).

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Quer que o futebol feminino siga evoluindo? Então prefira cobrar investimentos na modalidade em vez de propor mudanças que as atletas jamais reivindicaram.

2) Não desmereça o trabalho das narradoras

Nos últimos anos, emissoras de TV iniciaram a revisão de uma histórica injustiça que não abria espaço para mulheres na narração de futebol. Hoje, finalmente, temos narradoras ocupando um espaço até então restrito a homens.

É natural que, por ter se acostumado a vida inteira com vozes masculinas narrando os jogos, você a princípio estranhe a novidade. Mas é importante separar avaliação profissional de preconceito.

Se resolver questionar o desempenho de alguma narradora, tente refletir se você faria a mesma crítica no caso de um homem. Se for adiante, busque se apegar ao aspecto técnico da narração: fluência, nível das informações prestadas durante a transmissão, pronúncia dos nomes das jogadoras, identificação correta da atleta que recebe a bola ou faz o gol etc.

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Lembre-se que, assim como os narradores, elas também evoluem com o tempo e uma crítica realmente construtiva pode ajudar nesse processo.

3) Evite comparar jogadoras com atletas do masculino

“Pelé de saias”? “Messi de batom”? Não, por favor!

Tudo o que as atletas desejam durante uma Copa do Mundo é o reconhecimento de seu talento e de seus esforços, não comparações com jogadores do futebol masculino.

Se você não acompanha tão de perto a modalidade, procure saber mais sobre a trajetória de cada jogadora e dispense paralelos entre homens e mulheres, ainda que seja com o intuito de elogiar.

Marta, por exemplo, não precisa ser comparada a Pelé para ser reconhecida como a maior jogadora de todos os tempos.

4) Cultive bons hábitos de Copa

Brasileiro vive uma Copa do Mundo de maneira muito intensa e peculiar. Mesmo que não seja fã de futebol, sempre dá um jeitinho de acompanhar os jogos da seleção. Se esforce para manter esse costume no Mundial feminino.

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Como naquela Copa masculina de 2002, sediada por Coreia do Sul e Japão, acorde mais cedo para assistir à seleção na Austrália. Reúna os amigos e familiares, nem que seja para um café da manhã caprichado. Ou combine um happy hour antecipado com os colegas de trabalho — se você for chefe, libere seus funcionários para chegar um pouco mais tarde em dias de jogos do Brasil.

Ah, e não se esqueça de colecionar o álbum com as figurinhas das nossas craques. Acorde, torça e olhe pra elas.

5) Eduque as crianças 

Aproveite a oportunidade da Copa do Mundo para educar seus filhos, netos, sobrinhos e afilhados sobre a importância da igualdade de gênero e do apoio ao esporte feminino. Várias atletas, como Marta, Megan Rapinoe e Alexia Putellas, têm levantado essa bandeira e podem servir de inspiração para as novas gerações.

O futebol, por sua natureza popular e inclusiva, é uma excelente ferramenta de educação, ajudando a desconstruir estereótipos e preconceitos que crianças não devem mais carregar.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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