O Superior Tribunal de Justiça (STJ) formou maioria para que Robinho cumpra, no Brasil, a pena de nove anos de prisão por estupro determinada pela Justiça italiana. A homologação da sentença representa mais uma derrota judicial e moral para o ex-jogador, que, apavorado com o julgamento, havia lançado no início da semana uma cartada abjeta para se livrar da condenação.
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Robinho, nem mesmo depois de ter sido obrigado a encerrar a carreira de atleta, nunca se engajou em causas antirracistas. Quando foi condenado em primeira instância na Itália, sua defesa debochava de quem cobrava dos clubes que o contratavam qualificando protestos como “lacração”. Tanto o atacante quanto seu entorno jamais se mobilizaram por qualquer pauta identitária.
De repente, em entrevista à Record no último domingo, ele resolveu apelar e posou como vítima de racismo das autoridades na Itália. Não apresentou nenhum indício de manifestação ou distinção racista por parte da Justiça local. O único argumento que expôs nesse sentido foi alegar ter sido o único envolvido no caso de estupro coletivo a arcar com as consequências do ato criminoso. No mínimo, um exagero desesperado.
Ricardo Falco, um de seus amigos denunciado pelo crime, recebeu a mesma condenação. Ele também será julgado em breve no STJ para que cumpra a pena de nove anos no Brasil. Os outros quatro supostos participantes do estupro identificados pela polícia só não foram julgados porque já não estavam mais na Itália no momento da denúncia, ao contrário de Falco e Robinho.
Eles seguem foragidos na Itália, e a homologação das penas em território brasileiro pode abrir precedente para que as autoridades italianas reativem o processo contra o quarteto impune. Logo observa-se que foram questões de ordem técnica e burocrática – e não o racismo institucional apontado por Robinho – que impediram que os amigos o tivessem acompanhado no banco dos réus.
O jogo sujo e rasteiro do ex-jogador ainda usou como exemplo a história de Mario Balotelli, atacante negro que sofreu dezenas de ataques racistas no futebol italiano. Que racismo é um problema grave e banalizado na Itália, não há dúvida. Agora, ao se comparar com uma vítima inconteste de discriminação racial e tentar se safar de uma acusação de estupro repleta de provas – incluindo áudios de revirar o estômago – recorrendo à cartada do racismo, Robinho presta um enorme desserviço à causa antirracista.
Por sorte, ninguém, muito menos os ministros do STJ, se deixou levar pelo discurso vitimista de ex-ídolo injustiçado que Robinho tentou emplacar. Resta ver se a típica impunidade garantida a homens endinheirados, sobretudo no meio do futebol, como a que concedeu liberdade condicional ao também condenado por estupro, Daniel Alves, na Espanha, não entrará em cena novamente para livrar outro estuprador da cadeia.