Multa de Mano é só uma pequena parcela da fatura que o Corinthians terá de pagar

Demissão do treinador, contratado a peso de ouro por antiga gestão, engrossa a lista de negligências dos cartolas corintianos

5 fev 2024 - 16h37
Mano conversa com os dirigentes Augusto Melo e Rubão antes de ser demitido do Corinthians
Mano conversa com os dirigentes Augusto Melo e Rubão antes de ser demitido do Corinthians
Foto: Meu Timão

Nenhum clube sai impune após contratar Cuca, que tinha uma condenação por estupro no currículo, como o Corinthians fez no ano passado. Nenhum clube sai impune após oferecer contrato de mais de dois anos a Mano Menezes, como o Corinthians também fez no ano passado.

A multa de aproximadamente 10 milhões de reais que o clube terá de pagar ao treinador, demitido nesta segunda-feira depois de amargar quatro derrotas consecutivas, é só uma pequena parcela da fatura acumulada por negligências dos cartolas tanto das gestões passadas quanto da atual diretoria encabeçada por Augusto Melo.

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Em primeiro lugar, a maior culpada pelo fracasso de Mano Menezes é a gestão de Duilio Monteiro Alves, que fechou acordo milionário com Mano até 2025, a menos de dois meses da eleição no Corinthians. Uma irresponsabilidade sem tamanho, que, na época, não foi brecada pelo Conselho Fiscal do clube nem pelas chapas de oposição.

Mano vinha de trabalhos recentes questionáveis, com passagens contestadas por Palmeiras, Bahia e Internacional, carentes de bons resultados e, principalmente, de bom futebol. Nada justificava um contrato tão longo para um treinador que não conquista títulos importantes há mais de cinco anos, nem mesmo o histórico no Corinthians. Duilio bancou a contratação sabendo que havia grandes chances de seu grupo político perder o poder no clube.

A mazela administrativa estourou no colo do sucessor Augusto Melo, que, pelos primeiros passos de mandato, não pode posar de vítima da situação. O novo presidente só contratou um diretor de futebol (Fabinho Soldado) há pouco mais de uma semana, tempo insuficiente para o profissional remunerado e que deveria ser o responsável por demitir e buscar um substituto avaliar o trabalho do técnico.

Melo simplesmente atropela o dirigente que contratou e toma uma decisão política e populista, jogando para a torcida que pediu a cabeça de Mano após a derrota em casa para o Novorizontino. O trabalho do treinador, desde o fim de 2023, realmente não era bom. Mas o critério técnico passou longe da escolha pela demissão.

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Agora, a gestão aposta em Márcio Zanardi, técnico do São Bernardo, para dar sua cara ao comando de futebol. Porém, como disputa a competição pelo time do ABC, o treinador não pode ser inscrito no Campeonato Paulista, criando a insólita figura do treinador impedido de dirigir a equipe à beira do campo. Um risco e tanto para um clube que já figura na zona de rebaixamento do torneio.

Fora as dívidas com empresários reveladas pela atual gestão e com outros clubes que processam o Corinthians na Fifa, o clube sinaliza que não pretende pisar no freio da gastança estabanada. A administração de Melo, por exemplo, acha normal desembolsar 25 milhões de reais pela contratação de Pedro Raul, que, aos 27 anos, tem média de 0,3 gol por jogo na carreira e vem de passagens frustrantes por Vasco e Toluca.

A média, baixa para um centroavante definidor, é semelhante à de Yuri Alberto, por quem o Corinthians topou ceder quatro jogadores em troca de 50% dos direitos econômicos do atacante, hoje cobrado pela escassez de gols.

Pelo tom das promessas de Augusto Melo e o desespero que bate à porta neste início de temporada, aumentam as chances de o clube alvinegro seguir gastando muito (e mal) em reforços que não mudam o elenco de patamar. Entre os grandes times do futebol brasileiro, o Corinthians é o mais perdido – dentro e fora de campo. Prato cheio para a imprudência financeira de dirigentes que ignoram a realidade de um clube que deve quase 1 bilhão de reais.

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Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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