A chegada de Fernando Diniz ao comando da seleção brasileira, ainda que interinamente, até a prometida contratação do italiano Carlo Ancelotti, desenha um cenário animador para a grande referência técnica do futebol brasileiro nos últimos anos. Neymar pode ser o maior beneficiado durante a passagem do técnico do Fluminense, que é especialista em melhorar jogadores — dos mais limitados aos craques.
Desde os tempos de Audax, Diniz é reconhecido pela capacidade de potencializar qualidades adormecidas de atletas, que, convencidos pela metodologia do trabalho, tendem a comprar sua ideia de jogo. Se na terceira divisão paulista, onde começou como treinador, o mérito era extrair o melhor de elencos de baixo nível técnico, foi no alto escalão dos clubes profissionais que ele comprovou que sua competência se estende também aos fora de série.
No Audax, descobriu e lapidou o talento de Bruno Guimarães, hoje jogador fundamental do Newcastle e figura certa neste ciclo da seleção. No Fluminense, foi o principal responsável por recuperar o bom futebol de Paulo Henrique Ganso, até então um mero coadjuvante no elenco tricolor.
Se mantiver seu método e ganhar a confiança de Neymar, o atacante tem tudo para seguir o mesmo caminho do ex-companheiro de Santos, após seguidas lesões, temporadas decepcionantes no Paris Saint-Germain e campanhas frustradas em Copas do Mundo.
Uma sinalização nesse sentido Diniz já tem, pois, antes mesmo de ser contratado pela CBF, o técnico havia sido elogiado publicamente por Neymar pelo estilo de jogo. “Gosto muito do Diniz como treinador. Uma pena que no Brasil não dão tempo suficiente”, afirmou há um ano o jogador do PSG, que também já reiterou que considera o treinador “o cara ideal para a seleção”.
De fato, o dinizismo, que aguça os saudosistas dos tempos de futebol-arte do Brasil, tende a favorecer não apenas Neymar, mas também jogadores como Vinicius Jr., Gabriel Martinelli, Richarlison e Raphinha, justamente por privilegiar a técnica, atletas com características ofensivas e o jogo envolvente, ainda que isso implique correr mais riscos na defesa.
Em sua apresentação no cargo, Diniz fez questão de elogiar o craque, indicando que pretende dar atenção especial ao atacante que, apesar de não ter feito parte das últimas convocações por causa de lesões, nunca perdeu o status de imprescindível para a seleção. “Neymar é um supertalento, desses que demora a nascer outro. Precisamos aproveitar ao máximo um jogador como ele”, disse Diniz.
O primeiro desafio é instigar o aspecto mental de Neymar. Após a eliminação para a Croácia na última Copa, o camisa 10 se mostrou abatido e até mesmo desmotivado, a ponto de deixar no ar a possibilidade de não disputar o próximo Mundial, em 2026, quando terá 34 anos.
Se ao menos conseguir reavivar o agora questionado protagonismo de Neymar na seleção, além da motivação do craque em nome de seu primeiro título mundial pelo Brasil, Diniz já poderá se gabar de um relevante legado para Ancelotti, seu provável sucessor no comando.