Um cruzeiro de três dias e três noites pelo litoral brasileiro com vários shows e celebridades, lotação máxima e todas as cabines VIPs, vendidas por mais de 30.000 reais, esgotadas. Este é o principal programa de fim de ano de Neymar, promotor do evento batizado de Ney Em Alto Mar, que prevê faturamento de 15 milhões de reais somente com ingressos.
Inegavelmente, o atacante do Al Hilal já pode adicionar o cruzeiro entre os cases de sucesso comercial de sua milionária carreira, pautada por inúmeras ações de marketing e intensa agenda publicitária. Por outro lado, o rolê em alto-mar representa o naufrágio da imagem de atleta de um jogador que quase sempre preferiu o status de celebridade.
A aparição pública badalada “coroa” a pior temporada de Neymar. Com duas lesões graves de ligamentos – uma no tornozelo e outra, a mais recente, no joelho –, ele disputou apenas 17 jogos em 2023, seu ano com menos participações em toda a carreira. Desde 2021, acumula uma temporada mais decepcionante que a outra.
Já com 31 anos, o craque submergiu no noticiário de famosos e acumula cinco anos consecutivos fora do top 10 da Bola de Ouro, a tão sonhada premiação individual de seu início de trajetória que ainda não conseguiu conquistar. Não por acaso, a última temporada mais regular e decisiva de Neymar foi justamente a que conseguiu evitar a superexposição de popstar para focar no campo.
Em 2019-20, ele exerceu o papel de protagonista ao conduzir o PSG à final da Champions League. Foi também a primeira vez desde que chegou a Paris que esteve à disposição do time no mata-mata da competição europeia e em sua melhor forma física, quando adotou um perfil mais discreto em festas, eventos e redes sociais.
Porém, em boa parte da carreira, Neymar relegou a imagem de atleta ao segundo plano em nome da fama como estrela pop. A decisão de organizar um cruzeiro se encaixa na escala invertida de prioridades, já que o evento foi anunciado em janeiro deste ano, quando ele ainda era jogador do Paris Saint-Germain.
Qualquer atleta em atividade, seja Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo, sabe o desgaste que representa atrelar sua imagem a uma ação midiática dessa magnitude, ainda mais como organizador. Até porque marcar presença em um cruzeiro de três dias e três noites não é exatamente o que torcedores esperam de um jogador de futebol.
Ao se transferir do PSG para o Al Hilal, Neymar já tinha consciência de que não estaria de férias no período do evento em alto-mar. Antes do fim do ano, seu clube ainda disputa mais uma partida pela liga saudita, nesta sexta-feira, data prevista para o encerramento do cruzeiro. Se não estivesse lesionado, o jogador teria de escolher entre servir ao time ou à embarcação.
De qualquer forma, as imagens que brotam aos montes do atleta dançando e se esbaldando entre convidados de seu evento, enquanto se recupera de grave lesão sofrida há dois meses, certamente não caem bem dentro do clube que lhe paga um dos maiores salários do mundo, muito menos para o disciplinador técnico Jorge Jesus.
Neymar tem todo o direito de promover eventos e ações de marketing, assim como o de conduzir sua carreira da forma que julgar mais conveniente. Mas, por navegar frequentemente em mares pouco compatíveis com a rotina de um esportista profissional, não pode se sentir injustiçado ao ser mais julgado como celebridade do que como atleta.