Os jogos da primeira perna das quartas de final da Champions League superaram todas as expectativas, reforçando a fama de maior (e melhor) torneio de futebol entre clubes do mundo. Tamanha a intensidade envolvida em cada partida que parecia se tratar de outro esporte, ainda mais em comparação com o nível técnico de competições no Brasil e na América do Sul.
Foram incríveis 18 gols em apenas quatro jogos, média de quase cinco tentos por partida. Nesta quarta-feira, o Barcelona bateu o PSG fora de casa, por 3 a 2, superando a famosa “lei do ex” – Dembelé marcou o gol de empate, no começo do segundo tempo – e uma virada dos franceses. No jogaço de 33 finalizações, regado a muita trocação, melhor para o Barça, que viu Raphinha, inspirado, marcar duas vezes e Christensen selar a vitória, de cabeça.
Já no duelo mais modesto, mas não menos agitado, o Atlético de Madri abriu vantagem ao vencer o Borussia Dortmund por 2 a 1 no estádio Metropolitano. Na primeira etapa, os comandados de Cholo Simeone exerceram pressão avassaladora na saída de bola do time alemão, que voltou melhor no segundo tempo e, por pouco, não empataram ao acertar duas bolas no travessão.
Na terça, Real Madrid e Manchester City, que se encontram pela terceira vez seguida na fase de mata-mata, voltaram a protagonizar um espetáculo digno da magnitude de seus elencos. Um 3 a 3 com direito a duas viradas no Santiago Bernabéu, marcado pela faceta de garçom de Vini Jr. e o recital de Phil Foden.
Outro empate após alternância no placar decretou o equilíbrio entre Arsenal e Bayern de Munique. Se o momento do time inglês na temporada inspira mais confiança que o dos alemães, coube à equipe de Thomas Tuchel contar com o faro goleador de Harry Kane, artilheiro da Champions e da Bundesliga, e falhas do adversário para reacender o ânimo. O time de Mikel Arteta evitou a derrota graças à participação decisiva de Gabriel Jesus, que entrou no segundo tempo e deu assistência para o gol de Trossard, mas lamenta os descuidos na defesa que renderam um tropeço em casa.
Ainda assim, todos os confrontos das quartas continuam em aberto. A tendência é que, na próxima semana, os jogos de volta sejam ainda mais emocionantes. E quem se pergunta por que a Liga dos Campeões da Europa é capaz de proporcionar tantos duelos memoráveis em sequência encontrará a resposta em uma rápida comparação de realidades.
Somente o elenco do Manchester City, o mais valioso do planeta (cerca de 7 bilhões de reais), equivale ao de todos os 20 clubes brasileiros de primeira divisão somados. Os oito times envolvidos nas quartas de final da Champions têm elencos que batem a cifra de 38 bilhões de reais em valores de mercado. Com metade da capacidade de investimento do Barcelona, por exemplo, tanto Atlético de Madrid quanto Borussia Dortmund bancam equipes três vezes mais caras que a do Flamengo, clube mais rico da América do Sul, com elenco avaliado em 900 milhões de reais.
Obviamente, a infraestrutura para os jogos, como a boa condição dos gramados, contribuem para a qualidade do espetáculo. Mas o maior diferencial da Champions para a Copa Libertadores da América ou qualquer outra competição continental é o estrondoso poderio financeiro das grandes equipes europeias, que, cada vez mais cedo e com mais voracidade, importam jovens talentos ao redor do mundo.
Mesmo que melhore o calendário, o nível da arbitragem e o estado dos gramados, o futebol brasileiro jamais conseguiria competir com a desigualdade econômica imposta pelos europeus. Na era do esporte globalizado, quem tem mais dinheiro e, consequentemente, os melhores atletas, dita as regras do jogo a ponto de criar parâmetros inalcançáveis.
Por isso, a Liga dos Campeões da Europa parece outro esporte. O segredo nada oculto para elevar o sarrafo como referência mundial da modalidade é o privilégio de poder comprar os melhores jogadores nos mercados onde venderá ainda mais caro o direito de vê-los em ação. Surpreendente seria se o produto recheado com tantas estrelas não fosse o cardápio suculento servido esta semana.