Estamos diante do Campeonato Brasilleiro que insiste em contradizer todas as probabilidades. O Cuiabá, que antes da competição encabeçava cotações para o rebaixamento, se vê livre da queda com duas rodadas de antecedência. O Botafogo, que chegou a abrir 13 pontos de vantagem na liderança, acumula nove jogos sem vencer e já não depende só de suas forças para ser campeão.
Oportunistas, Atlético-MG e Flamengo, que pareciam desacreditados, ainda têm chances de título. E o principal: o Palmeiras, que viveu esta temporada uma de suas piores fases recentes, agora figura no topo da classificação e como grande favorito ao bicampeonato consecutivo.
Seria mais assombroso o time alviverde deixar escapar a taça que caiu no colo do que qualquer outra reviravolta já vista ao longo do Brasileirão. Primeiro, pelas circunstâncias da tabela. Depois de golear o já rebaixado América, o Palmeiras joga novamente em casa contra o Fluminense, que, como adiantado pelo técnico Fernando Diniz, provavelmente poupará muitos titulares para se precaver dos riscos de lesão em gramado sintético, de olho no Mundial de Clubes.
Na última rodada, o adversário será o Cruzeiro, no Mineirão. Dependendo da combinação de resultados no fim de semana, a equipe celeste pode chegar ao jogo derradeiro livre da ameaça de rebaixamento e, assim como o Fluminense, sem maiores ambições esportivas no campeonato.
Por mais que tropece em um desses jogos, dificilmente o Palmeiras amargará alguma derrota na reta final. É um time talhado por Abel Ferreira para os momentos decisivos. Ao contrário do Botafogo, tem frieza e estofo emocional de sobra ao lidar com a pressão imposta pela expectativa da torcida.
Dizer que o título caiu no colo do Palmeiras não significa dizer que veio de graça. O time carrega o enorme mérito de ter sido o mais regular do campeonato, sempre beirando os 60% de aproveitamento, nos dois turnos. Quando mais oscilou e acumulou quatro derrotas seguidas, em outubro, nem o elenco nem a comissão técnica imaginavam que a possibilidade de título ainda estaria em aberto.
Abel finalmente encontrou as soluções para a equipe sem Dudu, que, lesionado, só retorna na próxima temporada. Com três zagueiros, retomou a consistência defensiva típica de seu trabalho. Ao reconhecer que viveu neste ano a pior fase da passagem vitoriosa pelo Brasil, após a eliminação para o Boca Juniors na Libertadores, o técnico soube juntar os cacos e mobilizar os jogadores a tempo de uma reação.
Impossível não definir a virada de 4 a 3 sobre o Botafogo, no Nilton Santos, como o divisor de águas para a guinada rumo à liderança. O time alvinegro, é verdade, se esforçou bastante para entregá-la de bandeja nas rodadas finais. Mas as virtudes coletivas do Palmeiras são indiscutíveis, tanto quanto o favoritismo ao título que agora debandou para o Allianz Parque.