O mérito de um grande treinador é fazer o mais simples possível funcionar em situações óbvias, porém complexas. Se há um especialista neste tipo de desafio, ele fala italiano, reside em Madri e é fluente na língua universal dos jogadores: a bola.
Carlo Ancelotti não é o maior campeão da Europa por acaso. Construiu sua carreira pautado por uma filosofia que sempre busca simplificar a vida dos atletas. Assim, ele levou a campo a versão 2024-25 do Real Madrid diante da Atalanta, pela Supercopa da Uefa.
Havia a expectativa sobre como o treinador italiano encaixaria Kylian Mbappé no tripé consagrado da temporada passada, com Bellingham, Rodrygo e Vini Jr – e se um deles seria sacado para a entrada do astro francês.
Novamente, Ancelotti recorreu ao simples bem-feito. Com a bola, um trio formado pelos atacantes brasileiros e o novo camisa 9 mais centralizado, municiados por Bellingham, Valverde e Tchouaméni no meio-campo. Sem bola, o time se defendia no 4-4-2. Vini e Mbappé recompondo na primeira linha de marcação, Rodrygo pelo lado direito e o meia inglês voltando pela esquerda, auxiliando Mendy.
No primeiro tempo, o bom time da Atalanta, comandado pelo também italiano Gianpiero Gasperini, conseguiu equilibrar as ações com rápidas transições ofensivas e muitas faltas, sobretudo em cima de Vini. Ainda assim, a melhor chance veio pelos pés dos brasileiros. Rodrygo acertou o travessão após passe do companheiro de seleção.
Já na segunda etapa, o quarteto fantástico do Real Madrid tornou a missão impossível para os marcadores adversários. Os craques abriram o arsenal (e a defesa italiana) a partir de movimentações incessantes, dribles em velocidade, aproximações para tabelas e trocas de posição no ataque.
Em associação com Bellingham pela esquerda, Vini Jr. não tomou conhecimento do marcador e deu linda assistência para Valverde abrir o placar, aos 14. Oito minutos depois, Rodrygo desarmou pelo lado direito, acionou Vini, que cruzou para dentro da área. O camisa 5 dominou no segundo pau e rolou para Mbappé marcar seu primeiro gol com a camisa merengue.
O lance que decretou o título da Supercopa é emblemático. De pé em pé, a bola passou por todos os jogadores de ataque até morrer nas redes da Atalanta. Uma abertura de temporada perfeita para os maiores campeões europeus, que se animam pelo futebol solidário praticado por suas grandes estrelas.
Por mais que Mbappé tenha mostrado faro artilheiro, Bellingham mantido o nível da última temporada, Vini alcançado 12 participações em gols em 11 finais e Rodrygo ostentado a habitual inteligência tática, o que realmente impressionou no debute madridista foi o jogo coletivo potencializado pela simplicidade clássica de Ancelotti.
Endrick assistiu do banco à vitória, mas, aos 18 anos, já levanta uma taça na Europa e ainda terá muitas oportunidades para mostrar serviço. Pela exibição inaugural do time, é bastante improvável que o técnico do Real Madrid faça alterações imediatas em seu quarteto dos sonhos.