Uma tenista desbancando Serena Williams, um nadador superando Michael Phelps ou um velocista tirando a medalha de Usain Bolt. Este é o tamanho do feito na ginástica artística de Rebeca Andrade, maior atleta olímpica brasileira de todos os tempos.
Agora, que ela se tornou a esportista do país com mais medalhas em Olimpíadas e venceu Simone Biles na final do solo para garantir seu segundo ouro, já se pode cravar, assim como seus movimentos precisos no tablado, que a ginasta nascida em Guarulhos entrou para a história ao acumular feitos que nenhum outro atleta jamais conquistou pelo Brasil.
Rebeca se despede de Paris com seis medalhas olímpicas no total, sendo duas de ouro, três de prata e um transcendental bronze por equipes, o primeiro da ginástica nacional. Antes do início da semana, ela já havia se tornado a mulher brasileira com mais medalhas e, não satisfeita, superou os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt como maior medalhista individual do país.
Talvez a ginasta de ouro só se dê conta de seu verdadeiro tamanho para o esporte, sobretudo depois de derrubar o favoritismo da grande referência histórica de sua modalidade, daqui a algum tempo, quando a ficha dos Jogos de Paris realmente cair. Mas, ao menos em outra dimensão tão ou mais relevante que as conquistas esportivas, Rebeca já tem a exata noção de sua magnitude.
No ano passado, em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN, ela explicou a importância de Daiane dos Santos para sua carreira na ginástica. “Eu olhava pra televisão e falava: ‘Nossa, a gente é igual’.” Em um esporte historicamente branco e elitizado, Daiane abriu portas para meninas como Rebeca, que agora abre outras para meninas que querem ser como ela.
“É um orgulho ser uma mulher preta e poder inspirar tantas crianças e jovens pretos”, afirma, orgulhosa, a bicampeã olímpica, consciente sobre o valor da representatividade no esporte. Além de atleta vencedora e talentosa, ela também se revela protagonista na luta antirracista, sem negar a potente mensagem por igualdade que sua trajetória carrega.
Mais do que simbólico, o pódio do solo composto apenas por ginastas negras, em que duas norte-americanas reverenciam Rebeca, é um sinal dos tempos. Um tempo em que a ginástica artística deixou de ser privilégio dos brancos. Um tempo em que a maior atleta olímpica brasileira de todos os tempos é uma mulher negra, periférica e orgulhosa de suas raízes. Um tempo de saltos que já não têm mais volta.