No verão europeu de 2017, quando trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain, Neymar buscava a única oportunidade que não havia encontrado no Camp Nou: ser o protagonista de um clube. Àquela altura, ele já era a maior referência da seleção brasileira, campeão europeu e figurava entre os três melhores jogadores do mundo.
Porém, faltava a cereja do bolo, que, na visão do jogador e de seu estafe, era se tornar o maior astro da equipe. No Barça, tal status era inviável, já que o amigo Lionel Messi detinha o posto absoluto de liderança em campo e no vestiário. Ainda havia Luis Suárez, que fechava o consagrado trio MSN.
Então, surgiu o PSG, disposto a pagar mais de 800 milhões de reais para contratá-lo. Além da grana, era a grande chance esportiva para capitanear um clube em ambicioso processo de expansão. Mas a chegada a Paris logo mostrou que não seria tão simples quanto Neymar pensava assumir o papel de protagonismo à la Messi no Barça.
O embate com Cavani pela condição de batedor oficial de pênaltis foi o primeiro arranhão na imagem do reforço milionário com a torcida do PSG, que idolatrava o uruguaio. Suspensões por reclamação com arbitragem, confusão com torcedor, declarações como a entrevista em que disse que o jogo mais marcante de sua vida foi a virada do Barcelona por 6 a 1 sobre a equipe parisiense e várias lesões impediram que Neymar brilhasse como a maior estrela do clube.
Para complicar, no mesmo ano de sua chegada, o PSG anunciou a contratação do então promissor Kylian Mbappé, que na temporada seguinte se sagraria campeão do mundo com a seleção francesa e reivindicaria o trono de protagonista da equipe que Neymar nunca conseguiu ocupar. Depois, ainda chegaria Messi, que eliminou de vez qualquer chance do brasileiro ser o “dono” da equipe.
Há quatro anos, Neymar já havia tentado forçar o retorno ao Barcelona, em negociação frustrada pelo PSG, que endureceu na compensação financeira para fechar um acordo. Agora, o enredo parece se repetir, mas em cenários bem diferentes.
Em 2019, Messi ainda jogava no Barcelona e reivindicava o retorno do amigo. Por outro lado, Mbappé estava consolidado no papel de maior estrela do PSG. Já sem Messi, o Barça atual se reformulou sem um protagonista equivalente, apesar do destaque goleador de Lewandowski. O técnico Xavi conduziu a equipe ao título espanhol apostando na força coletiva e, como ex-companheiro de Neymar, teme que o retorno do craque contamine com individualismo a mentalidade do grupo.
No PSG, entretanto, Neymar conta com o apoio de Luis Enrique, treinador que o comandou em seu auge no Barcelona e o enxerga como elemento-chave na equipe francesa. Nesta temporada, inclusive, existe a possibilidade de o clube negociar Mbappé com o Real Madrid, o que abriria caminho para o camisa 10 finalmente se tornar o protagonista de um time em reconstrução.
Em que pese a frustração pelo excesso de lesões somada às seguidas eliminações na Champions League, Neymar renovou com o PSG e tem contrato até 2027, um ano depois da Copa do Mundo que pode ser a última de sua carreira. Aos 31 anos, o jogador teria tempo de sobra, mesmo que Mbappé só saia no meio do ano que vem, para deixar a marca do tão sonhado protagonismo num clube europeu.
Para isso, o brasileiro, retornando novamente após mais um longo período de lesão, precisa fazer as pazes com a torcida do Paris Saint-Germain e mostrar que realmente compartilha da ambição de ajudar o clube a fincar bandeira entre os gigantes da Europa. Voltar ao Barça seria desperdiçar a chance que tanto esperava desde que tomou a decisão de se mudar para Paris há seis anos.