Sugestão de Renato Gaúcho abre brecha para que outros clubes se aproveitem da tragédia

Imunidade contra rebaixamento no Brasileirão pode induzir lobby interesseiro de equipes alheias às enchentes no Rio Grande do Sul

21 mai 2024 - 14h55
Treinador do Grêmio sugere que não haja rebaixamento nesta temporada
Treinador do Grêmio sugere que não haja rebaixamento nesta temporada
Foto: Alejandro Pagni/Getty Images

Diante dos inequívocos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre as equipes gaúchas, que tiveram centros de treinamento e estádios alagados, o técnico do Grêmio lança uma sugestão controversa. “Sobem quatro [da segunda divisão] e não cai ninguém”, defende Renato Portaluppi, em alusão ao descenso nesta temporada da Série A do Campeonato Brasileiro.

Ao contrário do que o treinador gremista imagina, a imunidade irrestrita contra o rebaixamento pode induzir o lobby interesseiro de clubes não impactados pelas enchentes. Renato tem plena razão ao pontuar sobre a necessidade de compensar o prejuízo esportivo e emocional dos times gaúchos afetados pela tragédia, mas a solução para o problema não é suspender a possibilidade de descenso.

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Primeiro, porque geraria um estrago duradouro no campeonato, inchando em efeito cascata o número de participantes de cada divisão e, consequentemente, o calendário de jogos nas próximas temporadas. Prejuízo dobrado para as equipes gaúchas, que já precisam lidar com a sequência de partidas atrasadas.

Em outro aspecto, a imunidade antiqueda encontra ecos oportunistas nos bastidores de clubes que começaram mal no campeonato ou que têm vivido crises internas neste primeiro semestre. Mais do que aos grandes gaúchos, à exceção do Juventude, que tem como principal objetivo a permanência na Série A, é conveniente aos dirigentes desses clubes usar a suposta solidariedade esportiva como pretexto para salvar a própria pele.

Há sete anos, a Chapecoense disputou o Campeonato Brasileiro depois de perder praticamente todo o elenco em acidente aéreo na Colômbia e rechaçar o benefício da imunidade contra o rebaixamento. Terminou a competição em oitavo lugar, garantindo vaga na Copa Libertadores.

O verdadeiro baque esportivo da tragédia só foi sentido anos depois pelo clube de Chapecó. Em 2019, a equipe catarinense acabou rebaixada após sofrer um gradativo colapso nas finanças e acumular atrasos de salário, em contraste com o equilíbrio exemplar antes do desastre de avião, quando era referência como o único clube sem dívidas do país.

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Pelo exemplo da Chape, percebe-se que o socorro mais urgente aos clubes gaúchos afetados pelas enchentes não é esportivo, mas sim econômico. Para evitar a sangria financeira com a reconstrução de gramados e centros de treinamento, perda de receita com bilheteria e a rotina itinerante fora do estado nos próximos meses, que compromete a sustentabilidade de médio e longo prazo, é fundamental a criação de um fundo de amparo a todas as equipes do Rio Grande do Sul.

Uma medida que teria caráter mais efetivo que a mera suspensão do rebaixamento, que, ao menos até agora, não foi oficialmente proposta pelas diretorias de Grêmio e Inter. É legítimo Renato Gaúcho cobrar assistência aos times gaúchos. Porém, sua sugestão abre perigosa brecha para que outros clubes se aproveitem da tragédia alheia.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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