Em qualquer outro clube do Brasil, oferecer contrato de dois anos para repatriar o zagueiro Thiago Silva, que completará quatro décadas de vida em setembro, seria considerado um movimento arriscado. Menos no Fluminense. E a explicação é simples.
Antes de tudo, o jogador que disputou quatro Copas do Mundo pela seleção brasileira sempre foi idolatrado nas Laranjeiras. Em três temporadas no clube, conquistou uma Copa do Brasil e chegou à final da Libertadores, em 2008. Faz tempo que a torcida tricolor desejava e reivindicava seu retorno.
Todavia, o que realmente justifica a aposta de longo prazo em Thiago Silva é o fator esportivo. Mesmo aos 39 anos e com o Chelsea amargando mais uma temporada decepcionante, o zagueiro ainda tem lenha para queimar. Em todos os clubes por onde passou, os cuidados com o corpo e a plenitude física o mantiveram entre os jogadores com mais minutos disputados no elenco.
Pelo clube inglês, desde 2021, quando conquistou a Champions League e o Mundial, ele disputou 151 partidas e foi titular na maioria delas. Conserva a regularidade que marcou sua carreira, como um zagueiro com ótimo senso de posicionamento, boa leitura de espaços e qualidade na saída de bola.
Esses atributos são bastante valiosos para o Fluminense de Fernando Diniz, que ainda não conseguiu retomar a fluidez do time após a perda de Nino. Com a chegada de Thiago Silva, a equipe não só volta a contar com mais uma liderança experiente na zaga, mas também com a segurança de quem sabe sair jogando com os pés e ainda se garante na bola aérea, que se tornou um problema para o tricolor.
Por isso, com a possibilidade real de repatriação do zagueiro, a diretoria assumiu o risco de guardar uma vaga na defesa para o meio do ano, embora fosse visível a carência de um substituto à altura de Nino. Outro risco assumido pelo Fluminense é o tempo de contrato, já que, via de regra, jogadores com mais de 35 anos tendem a receber propostas de apenas uma temporada.
A partir de julho, a defesa tricolor passará a ter média de idade de 38 anos, composta por Fábio (43), Samuel Xavier (33), Thiago Silva (39), Felipe Melo (40) e Marcelo (35). O que, para Diniz, não é um entrave. O treinador confia que atletas com histórico de profissionalismo e dedicação plena ao futebol se garantem em campo.
Tanto para o técnico quanto para o Fluminense, a longevidade é questão de perfil, não de idade. E o perfil de Thiago Silva se encaixa perfeitamente na estratégia inusitada do clube. Enquanto outros concorrentes repelem veteranos, o time das Laranjeiras os acolhe como um diferencial competitivo. Risco calculado que, ao menos na última temporada, se mostrou certeiro.
Dos reforços contratados pelo Fluminense neste ano, Thiago Silva é, disparado, o melhor. Entre as contratações badaladas do futebol brasileiro, como De La Cruz, Borré e Luiz Henrique, todos com menos de 30 anos, nenhum tem currículo tão vencedor nem tamanha identificação com o clube como o futuro zagueiro tricolor.