A derrota por 1 a 0 para o Palestino, no Chile, é sintomática sobre o momento do Flamengo. Um time completamente sem brilho e sem brio, que viu o adversário, apesar de ter orçamento quase 30 vezes inferior, acertar mais finalizações no gol e acumular o dobro de desarmes e duelos vencidos.
Individualidades que antes salvavam o parco futebol coletivo do rubro-negro agora mal aparecem em campo. Sem contar Arrascaeta, desfalque contra os chilenos, jogadores como Gerson, Allan, Pedro e Wesley comprometeram pela falta de intensidade com e sem bola. Jogador mais lúcido do time, De La Cruz segue escalado longe de sua posição ideal por Tite, que insiste em posicioná-lo adiantado e mina suas infiltrações vindo de trás.
Sob pressão pelo desempenho sofrível, o treinador acumula erros de leitura e estratégia. Diante do Palestino, que surpreendeu ao subir a marcação e pressionar a saída de bola no primeiro tempo, o Flamengo apostou em lançamentos improdutivos, com índice de acerto de passes inferior a 80%.
Já na formação, o técnico não abre mão do 4-3-3 habitual e, para isso, com a volta de Cebolinha, manteve Bruno Henrique na esquerda e “sacrificou” o atacante revelado pelo Grêmio do lado direito. O time só melhorou depois de Tite inverter a posição dos pontas.
Dos 10 gols sofridos pelo Flamengo na temporada, três deles tiveram origem em escanteios, como o do Palestino. Cornejo, totalmente livre na entrada da área, aproveitou a rebatida da defesa com um belo chute. No jogo anterior, o time de Tite saiu atrás no placar contra o Red Bull Bragantino após uma cobrança de escanteio.
Melhor defesa do Campeonato Carioca, com apenas um gol sofrido, o grande crédito do técnico na temporada já se esfarelou. Somada à falta de repertório no ataque, inconsistência defensiva demonstra que o trabalho, ao menos até aqui, entrega justamente o oposto do prometido por Tite: uma equipe desequilibrada.
Precisando buscar o empate no Chile, o técnico falhou ao deixar de acionar no banco de reservas o jovem Lorran, que tem dado mais dinâmica ofensiva ao time quando entra, a exemplo da partida em Bragança Paulista. A opção por Gabigol, mais uma vez, não deu resultado.
Com a derrota, o Flamengo soma apenas quatro pontos em quatro jogos na Libertadores. Embora atue em casa nos próximos dois compromissos, a situação se tornou complicada. Caso o Bolívar vença o Millionarios, a equipe brasileira já não terá possibilidades de alcançar o primeiro lugar do grupo, algo inimaginável para o elenco mais caro da América do Sul.
Tite não é o maior culpado pela crise técnica. Afinal, o Flamengo virou uma máquina de rifar bons treinadores e subaproveitar craques nos últimos anos por causa do amadorismo da diretoria de futebol, encabeçada por Marcos Braz, o cartola-vereador que só aparece para apresentar reforços ou reclamar de arbitragem, mas se esquiva de prestar contas sobre os problemas crônicos de seu departamento.
De qualquer forma, não há como escapar da constatação de que, em sete meses, o trabalho de Tite no Flamengo é decepcionante. Como um técnico experiente e vencedor, ele ainda tem condições de retomar o equilíbrio tão alardeado em entrevistas. Mas, neste momento, o futebol praticado por seu time representa um desgosto profundo para o torcedor rubro-negro.