Um dia antes da goleada sofrida para o Botafogo, Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, se reuniu com integrantes de torcidas organizadas para alinhavar apoio a sua candidatura à reeleição como vereador do Rio de Janeiro. Amostra evidente de uso político do clube, mais uma vez inerte diante do desvio de função do dirigente.
Logo depois do clássico, Braz tirou o foco da dura derrota ao expor o zagueiro Fabrício Bruno. O cartola demonstrou insatisfação com a postura do jogador, que recusou uma proposta do West Ham, mas reiterou o sonho de atuar na Europa.
“Ele teve tempo para ter o sonho dele, ir para a Inglaterra e não quis. O que importa agora é o sonho do torcedor, e não de ninguém”, alfinetou o dirigente ao ser questionado sobre o futuro do zagueiro, titular absoluto do time de Tite e um dos jogadores de mais personalidade do elenco em momentos de pressão.
Fabrício Bruno sempre foi profissional no Flamengo. Respeita o clube, os companheiros e o torcedor. É legítimo que tenha o sonho de jogar no futebol europeu e que rejeite propostas que não atendam a suas pretensões financeiras. Idas e vindas fazem partes de qualquer negociação.
Braz estaria correto em defender os interesses do clube se não expusesse de forma tão direta um atleta com contrato vigente e, ainda mais neste momento de várias baixas por lesão, imprescindível para a equipe. Alimenta um mal-estar desnecessário às vésperas de um compromisso decisivo na temporada, o jogo de volta contra o Bolívar, em La Paz, pelas oitavas de final da Libertadores, inflamando o ambiente rubro-negro.
Também chama a atenção o cinismo do dirigente ao falar em respeito aos anseios do torcedor. Desde que se elegeu vereador e, em seguida, fracassou na campanha a deputado federal, Marcos Braz utiliza descaradamente o Flamengo como trampolim, se apropriando, inclusive, das cores da instituição em seus materiais publicitários.
Qual seria a autoridade de um dirigente que coloca interesses pessoais e políticos à frente do clube para enquadrar jogadores com o argumento de “respeito ao torcedor”? Somente a parte bajuladora de político da torcida ainda engole esse tipo de lábia do cartola-vereador.
Sem nunca ter sido cobrado pela diretoria, nem mesmo no episódio em que agrediu um torcedor, Braz segue tratando o Flamengo como curral eleitoral, enquanto o departamento que comanda protagoniza atitudes amadoras capazes de minar a relação com um elenco que deveria ser gerido de forma menos panfletária e mais profissional.