O melhor ano de uma equipe no futebol feminino na América do Sul. Em 2023, as mulheres do Corinthians venceram a Quádrupla Coroa e chegam ao número de 17 títulos conquistados desde a reativação da modalidade em 2016. Hoje, elas estão no topo do ranking das melhores equipes do continente segundo o Internacional Federation Of Football History & Statistics. Em comparação mundial, ocupam a quarta colocação. Uma temporada perfeita com uma dose de emoção e garra, tendo que lidar com o desgaste físico e com o fortalecimento do fator psicológico.
Vale lembrar que, mesmo tendo um dos maiores investimentos do futebol feminino em comparação às demais equipes adversárias, a estrutura das brabas ainda é inferior à do masculino. Ainda assim, se tornaram uma potência e seguem no auge atingindo a temporada mais lucrativa com R$ 11,45 milhões de reais em premiações. Antes, o maior rendimento do clube com o feminino tinha sido em 2022 com R$ 2 milhões de reais e R$ 700 mil reais em 2021, com o antigo recorde de 3 títulos, quebrado por elas mesmas.
O ano foi marcado pela despedida do técnico presente em todos os títulos dessa equipe, Arthur Elias. Ele agora comanda a seleção brasileira e Rodrigo Iglesias, antigo auxiliar técnico dele, ficou com o cargo interino. Em 2024, o comando do time pode mudar. Além disso, parte dos contratos terminam já em dezembro de 2023, como é o caso da Gabi Zanotti, uma das caras desse Corinthians campeão. A meia Grazi, jogadora que mais vestiu a camisa do timão - na equipe desde 2016 - anunciou que vai se aposentar aos 41 anos e 15 títulos conquistados. Poderia ser um momento de instabilidade e renovação, mas seguiu o plano de homenagens e legados. A pergunta é: como isso é possível?
E não pense que as conquistas foram fáceis. Com exceção da Supercopa do Brasil em que as brabas venceram o bicampeonato contra o Flamengo com os placares elásticos de 3 a 0 e 4 a 1, no Brasileirão elas tiveram uma disputa complicada com a Ferroviária de Araraquara, que depois de um empate sem gols começou o jogo de volta saindo na frente. O timão conseguiu a virada com a Tamires e se tornou pentacampeão do torneio. Depois veio a Libertadores Feminina com a classificação nos pênaltis contra o Internacional e uma final contra o rival Palmeiras com Vic Albuquerque perdendo o pênalti e Tarciane expulsa. O Corinthians venceu com o gol da Millene.
Após a última conquista com 40 mil pessoas nas arquibancadas em casa, quando o Corinthians venceu o São Paulo por 4 a 1 ao construir uma virada histórica, grande parte da equipe corintiana foi escolhida para a seleção do torneio na premiação do Paulistão Feminino 2023: a zagueira Mariza, a lateral esquerda Yasmin, a meia Vic Albuquerque - que também foi a artilheira da competição com 10 gols e 13 jogos, e a atacante Millene. Seis jogadoras do timão também foram para esta data FIFA da seleção brasileira e se apresentaram logo em seguida para dois amistosos contra o Japão, são elas: a goleira Lelê, as laterias Yasmin e Tamires, as meias Luana e Duda Sampaio e a atacante Gabi Portilho. Conversamos com algumas atletas para entender a construção dessa força no futebol feminino.
"Porque trabalha muito, trabalha muito e trabalha com bastante qualidade e tem uma mentalidade vencedora, onde a gente não se cansa de vencer e levantar troféus. É isso, trabalho e essa mentalidade", disse a lateral Yasmin que completou sobre ser a melhor lateral esquerda. "Muito trabalho e também muito estudo. Eu passei por um processo de realmente me transformar numa lateral esquerda desde a minha tenra idade (menos de 10 anos de idade). Então é isso, muito trabalho, estudo, dedicação e muita confiança de quem me colocou para estar nessa posição e quem me deu oportunidade de estar jogando e estar desenvolvendo o meu futebol"
"Eu acho que o segredo é trabalho. É clichê falar isso, a gente sempre fala, mas esse é o segredo maior de todos. Quanto mais a gente ganha, mais a gente trabalha. Nós somos um time que gostamos de ganhar! Então, pra gente continuar ganhando a gente tem que trabalhar sempre dobrado", palavras da zagueira Mariza. Uma das duas melhores zagueiras da competição aos 22 anos, acredita que "isso coroa a temporada e o coletivo, eu gostaria de dividir ele com as outras meninas também: com a Andressa, com a Tarciane e com a (Giovanna) Campiolo. Porque eu sei que isso aqui (o troféu) não é só meu, sabe. Eu precisei muito delas por ser uma posição nova pra mim e eu estou muito feliz exatamente por isso, é a minha primeira temporada jogando de zagueira e eu acho que eu consegui corresponder bem". Ainda mais no estadual mais competitivo do país. "A gente também fala muito sobre isso, que o ano acaba ficando ainda mais espetacular se pensarmos por esse lado. Nós não estamos jogando contra equipes fracas, sem estrutura. São jogos equilibrados, elencos que quando você olha estão cheios de craques e isso acaba tornando a nossa conquista esse ano ainda mais relevante".
Vic Albuquerque, artilheira do Paulistão 2023 e melhor meia, revelou que o investimento na modalidade conta para tranquilizar as jogadoras. "Nada mais e nada menos do que muito trabalho, muita seriedade e respeito ao futebol feminino dentro da instituição que permite que a gente trabalhe com alegria e com leveza e principalmente com amor à modalidade. Está aí, bem fácil, é só acreditar nas mulheres!".