Novos depoimentos reforçam a versão de José André da Rocha Neto, dono da Vai de Bet, sobre o acordo entre a empresa e o Corinthians. O negócio é objeto de investigação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo, por suspeita de furto qualificado, apropriação indébita, corrupção privada no esporte e lavagem de capitais. As versões contradizem Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, que diz ter procurado a empresa e afirma ter intermediado o acordo.
Segundo o Estadão havia noticiado, José André da Rocha Neto entrou em contato com o empresário Antônio Pereira dos Santos, o Toninho, ao tomar conhecimento da busca do Corinthians por um novo patrocinador máster, no fim de 2023. Toninho e seu funcionário, Sandro dos Santos Ribeiro, então, assumiram a função de intermediar o negócio.
Os dois esperavam receber R$ 25 milhões como comissão, mas até hoje não tiveram nenhum centavo do trabalho nas suas contas. "Nós não estávamos lá de graça. A gente foi e estava intermediando para ter uma comissão", disse Toninho, em depoimento revelado pelo Fantástico, da TV Globo.
O motivo de Neto ter procurado Toninho era que o empresário tinha contatos dentro do clube. "Toninho me liga um dia: 'Sandrinho, aciona aquele amigo seu do Corinthians, porque o menino da Vai de Bet, o André, está fechando patrocínios. De repente, a gente põe eles no Corinthians'. Na hora eu já pensei que, se a gente fecha um negócio desses, uma comissão de um patrocínio do Corinthians, ganhei meu ano", depôs Sandro, funcionário de Toninho.
O contato ao qual eles se referem é Washington Araújo Silva, que trabalhou na campanha de Augusto Melo à presidência, em 2023. Sandro e Toninho, então, reiteraram o encontro no Hotel Tivoli, em São Paulo, relatado por José Rocha Neto.
Foi nesta reunião, segundo os três depoimentos, que houve o acerto entre Corinthians e Vai de Bet. Além de Sandro, Toninho e José Rocha Neto, estavam presentes Augusto Melo, na época presidente eleito, e Marcelo Mariano, que viria a assumir a diretoria administrativa do clube, também chamado por Marcelinho.
"Chegando lá em São Paulo, estava o Marcelinho, o presidente (Augusto Melo) e mais três pessoas, Toninho e duas que não sei o nome", disse José André da Rocha Neto em seu testemunho. "No meio da reunião, o presidente saiu para uma outra reunião, deixou o Marcelinho lá com essas três pessoas. Pedi um tempo para pensar, subi para o quarto do hotel. Pensei, desci depois de duas horas, e fechei o negócio", completa.
O relato de Jose Rocha Neto coincide com o que foi dito por Toninho e Sandro e mostrado pelo Fantástico. Segundo eles, houve uma tentativa de definir os termos para a comissão, mas Marcelo apontou que era necessário que o contrato fosse feito por uma empresa já cadastrada no Corinthians, no caso a Rede Social Media, de Alex Cassundé.
"Falei: 'Certeza que vai dar essa 'embarrigada' na gente'. Pronto. Foi dito e feito", disse Sandro em depoimento. Tanto o nome dele quanto o de Toninho não estão no contrato. O dono da Vai de Bet nega ter conhecido Alex Cassundé.
Ainda conforme depoimento de José Rocha Neto, ele não discutiu o percentual para a intermediação. "Deixamos certo que a (comissão) da intermediação seria nesses R$ 360 milhões, mas não me meti em percentual de intermediador".
As três versões contradizem Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, que afirmou às autoridades que encontrou a marca por meio do ChatGPT e, assim, conseguiu o contato da empresa. Ele é dono da intermediadora suspeita de fazer repasses de parte da comissão a uma empresa "laranja", registrada no município de Peruíbe, no litoral paulista.
Procurado pela reportagem nesta semana, o advogado de Cassundé, Claudio Salgado, disse, em nota, que as informações prestadas em junho foram "sustentadas por provas de como os fatos aconteceram". Do R$ 1,4 milhão pago à empresa de Cassundé, R$ 1 milhão foi transferido para a Neoway. Em seu testemunho, ele afirmou que o pagamento era referente a um serviço de telemedicina, mas que foi vítima de um golpe. Contudo, não registrou boletim de ocorrência.
A empresa que recebeu os valores é a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, com endereço na Avenida Paulista que serviria como "laranja". Ela está no nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher de origem humilde que vive em Peruíbe, no litoral paulista. "Todas as empresas ligadas, direta ou indiretamente, a pessoas do litoral, de Peruíbe, são empresas relacionadas à organização criminosa PCC", disse o delegado Tiago Correia, ao Fantástico.
Augusto Melo nega relação com Cassundé e diz que confia em Marcelinho, responsável pelo negócio
O presidente do Corinthians, citado por deixar a reunião do acordo, disse que não tomou decisão sobre qual CNPJ seria registrado no contrato, mas que isso já chegou definido a ele. Ao Fantástico, Melo disse confiar no ex-diretor Marcelo Mariano, que, segundo ele, deixou o cargo para poder se defender no caso.
Augusto Melo novamente negou qualquer relação com Alex Cassundé, o que é o contrário do que o dono da Rede Social Media diz. O programa da TV Globo também mostrou uma nota de Marcelinho, em que o ex-diretor afirma que o contrato só foi possível pela atuação de Cassundé e que o patrocínio foi "assinado por todas as partes, sem questionamento, o que comprova lisura do procedimento".
O acordo de R$ 360 milhões da Vai de Bet com o Corinthians previa o pagamento de R$ 10 milhões ao longo dos 36 meses de contrato — ao todo, o clube recebeu R$ 66 milhões pelo tempo de parceria. O contrato previa o também pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.
O dono da empresa de apostas disse que não teve contato com mais ninguém do Corinthians após fechar o acordo, com exceção de Marcelo Mariano, com quem discutiu como a marca da Vai de Bet seria utilizada no clube, e que não participou da coletiva do anúncio da parceria porque estava de férias em Orlando, nos Estados Unidos. Por isso, pediu a André Murilo de Paes Bezerra, diretor administrativo da Vai de Bet, para participar do anúncio.
André Murilo prestou depoimento no mesmo dia e também afirmou que nunca teve contato com Alex Cassundé e que, em nenhum momento, recebeu ligação do intermediário apontado no contrato com o Corinthians e não tem conhecimento de conversas entre Cassundé e qualquer outro representante da marca. Após o caso vir à tona, José André conta que acionou a equipe jurídica da Vai de Bet.
Processo de impeachment de Augusto Melo continua nesta segunda-feira
Em 12 de dezembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) derrubou a liminar que suspendeu a votação do impeachment de Augusto Melo. Com isso, o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., pode convocar nova reunião. Se a destituição for aprovada, o tema anda terá de passar pelo crivo da assembleia de associados. O presidente tem confiança de que não será tirado do cargo em um eventual retorno da votação.
Para Augusto Melo, a movimentação fere o estatuto do Corinthians. Isso porque a Comissão de Ética e Disciplina recomendou a suspensão da votação até o fim das investigações da Polícia Civil no caso da Vai de Bet.