Como considerar um goleiro o melhor de sua geração se ele tem 44 anos, competiu com jovens e veteranos e pensa em encerrar a carreira só aos 50? No futebol, essa é considerada a posição mais longeva, mas ainda assim atuar entre as traves depois dos 40 anos não é um fenômeno comum. A lenda Gianluigi Buffon, com quase 30 títulos na carreira, além de inúmeras premiações individuais e recordes, cogita pendurar as luvas daqui a alguns anos, selando seu nome dentre os maiores da história.
"Vamos ver como terminamos esta temporada. Sinto a responsabilidade de representar o Parma e os torcedores do clube, que me dão amor incondicional. Não seria uma surpresa para mim estar em grande forma aos 48 anos. Penso que posso jogar até os 50", disse em janeiro ao jornal Gazzetta dello Sport.
Nos últimos anos, já deu previsões diferentes sobre sua aposentadoria. Em março do ano passado, por exemplo, contou que poderia atuar somente até 2023. "Na minha cabeça, realmente há um sinal de parada final, um limite máximo, que é junho de 2023. Esse é o máximo, realmente o máximo. Mas eu também poderia parar de jogar em quatro meses", disse ao jornal The Guardian em previsão que se mostrou equivocada.
Sua história com o futebol vem desde o berço. Os esportes estão no DNA da família. A mãe Maria Stella era arremessadora de disco enquanto o pai era levantador de peso. As duas irmãs, Veronica e Guendalina, jogaram vôlei pela seleção italiana. Já o tio Dante também representou a Itália, mas nas quadras de basquete. Lorenzo Buffon, tio de seu pai, também foi goleiro da seleção italiana. Parecia até que Gigi, como é conhecido, não tinha para onde fugir. O esporte era o caminho.
Ele até começou jogando na linha, mas se descobriu mesmo como goleiro. "Meu pai sugeriu que eu tentasse jogar no gol, algo diferente. Decidi tentar por um ano e depois voltar a ser um jogador de linha. Mas depois de cinco ou seis meses eu fiquei muito bom", disse ao site da Uefa.
Aos 13, já fazia parte da base do Parma e, quatro anos depois, estreava no Campeonato Italiano, apontado como uma grande promessa. Entre 1998 e 1999, emendou três títulos com o Parma, além de uma convocação para representar a Itália, ainda como reserva, na Copa do Mundo de 1998. Em 2001, a Juventus pagou mais de 50 milhões de euros à época por sua contratação. Suas grandes atuações e liderança dentro de campo o tornaram ídolo em pouco tempo.
Mas nem tudo foram flores. Em sua autobiografia, revelou que sofreu com depressão, após a Juventus perder a final da Liga dos Campeões de 2003 para o rival Milan nos pênaltis. Em 2019, revelou que teve ataques de pânico na época. Por sete meses, se consultou com um psicólogo para superar o problema.
Durante o período na Juventus, consolidou ainda mais seu posto de um dos maiores goleiros da história. Só em 2018 deixou o futebol italiano. Foi para o Paris Saint-Germain, mas no ano seguinte retornou à Juve, como reserva de luxo. No ano passado, acertou seu retorno ao Parma 20 anos depois de seu início no clube.
"Aos 43 anos, tenho que fazer escolhas que podem parecer estranhas, loucas ou até impopulares", disse Buffon. "Mas o meu lado louco sempre me impediu de estabelecer limites para mim mesmo, me permitiu continuar sonhando e fico feliz quando sonho. Posso não ganhar nada, mas isso não me incomoda. Eu nunca fui atrás de troféus. Ao longo da minha vida o que me interessa é a jornada, o desafio", conta ao site The Athletic.
Quando iniciou sua carreira em 1995, a maioria de seus companheiros de time ainda não havia nascido. De lá para cá, o futebol mudou bastante dentro e fora de campo, mas Buffon seguiu atuando.
O goleiro de 44 anos é sempre questionado sobre como se mantém jogando em alto nível apesar da idade avançada e adota respostas mais evasivas, sem revelar seu segredo. "Dizem que quando você atinge a minha idade, o declínio acontece de uma vez só. Eu não acredito nisso. Eu sinto o que sinto, e as sensações que tenho dentro de mim não me fazem pensar que vai haver algum colapso repentino", diz o goleiro. "Sinceramente, nunca imaginei que iria jogar por tanto tempo. Mas essas são histórias bonitas, eu acho."