David Beckham ganha força como investidor do futebol com a chegada de Messi ao Inter Miami, nos EUA

Ex-jogador do Manchester United, Real Madrid e da seleção inglesa tem como desafio fortalecer o esporte no país desde que chegou à MLS, em 2007, e fundou a franquia em 2018; agora, começa a colher os frutos como dono do time

16 jun 2023 - 09h40
(atualizado às 10h26)

David Beckham marcou uma era no futebol inglês nas décadas de 1990 e 2000. Multicampeão pelo Manchester United e herói na classificação da seleção inglesa para a Copa do Mundo de 2002, o meio-campista também deixou seu legado no Real Madrid, Paris Saint-Germain e LA Galaxy. Aos 48 anos, o jogador vive seu momento mais importante da carreira fora das quatro linhas: dono do Inter Miami, ele molda e dá robustez a sua figura de investidor ao levar Lione Messi para os Estados Unidos, competindo contra o dinheiro da Arábia Saudita e o amor do Barcelona, e tenta transformar o esporte na Flórida.

Confirmado na última semana, a chegada do camisa 10 da Argentina promete mudar o panorama da Major League Soccer (MLS). A liga de futebol tem como um dos grandes objetivos expandir o esporte no país e, principalmente, aumentar a visibilidade da competição. Esse é o plano do Inter Miami desde que foi fundado, em 2018. Desde o início da última década, Beckham já almejava expandir seu lado empreendedor na MLS. Messi foi sua tacada de mestre. Eles chegaram a se encontrar nos campos, quando o meia argentino estava começando e Beckham já era um ícone do futebol inglês e mundial.

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Quando foi para os EUA em 2007, Beckham firmou um acordo com o LA Galaxy para adquirir uma franquia de expansão da MLS. Diferentemente dos campeonatos nacionais tradicionais, a Liga e as franquias no futebol americano precisam decidir se aceitam ou não a entrada de um novo membro na organização. Desde que iniciou a empreitada para se tornar um proprietário até fundar o Inter Miami, mais de uma década se passou. O inglês manteve-se firme em seu propósito.

Casado com Victoria Beckham, uma das integrantes do grupo musical Spice Girl, tem controle total sobre a marca "Beckham", que gere os negócios, ativações e parcerias do astro. De acordo com a Forbes, ele possui uma fortuna estimada de US$ 450 milhões (R$ 2,18 bilhões), que iniciou ainda em sua carreira nos gramados. Em 2010, ele foi apontado como o atleta que mais recebia dinheiro com patrocínios, tendo acumulado contrato milionários com marcas de moda e vestuário, como Adidas e H&M.

Atualmente, além do Inter Miami, Beckham investe em sua marca própria de moda, com artigos de luxo. Como filantropo, mantém ações com a Unicef para conscientização dos direitos humanos ao redor do mundo. Recentemente, participou da campanha da entidade sobre a malária, doença que atinge partes da África e regiões do Brasil.

Beckham foi uma das primeiras grandes estrelas do futebol mundial a deixar a Europa para defender uma franquia da MLS. Além disso, Beckham ainda estava no auge: acabara de conquistar o Campeonato Espanhol pelo Real Madrid e disputado o Mundial de 2006, pela seleção inglesa, na Alemanha. Quando Pelé foi contratado pelo New York Cosmos, na década de 1970, a liga americana ainda não estava formada nos moldes atuais. De lá para cá, ela foi se moldando até chegar no formato atual, com suas regras.

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A presença de Beckham pavimentou um caminho para que outros importantes nomes chegassem ao país do basquete, basebol e da NFL: Frank Lampard, David Villa, Steven Gerrard e Ibrahimovic são alguns dos jogadores que, ao fim da carreira, deixaram a Europa rumo à MLS. Neste ano, o ex-jogador e empresário inglês muda a cara do futebol americano ao acertar a contratação de Messi.

A negociação ainda não foi finalizada, mas Messi já demonstrou seu interesse publicamente de defender a franquia de Miami na próxima temporada. "Tomei a decisão de ir para Miami", afirmou o jogador. "Como a coisa do Barcelona não saiu, queria sair da Europa, sair dos holofotes e pensar mais na minha família", disse o argentino. A MLS não esperava que um anúncio acontecesse; além disso, o contrato ainda não foi assinado. No caso do futebol dos EUA, os vínculos dos atletas são acertados com a Liga, e não individualmente com cada clube. O estafe de Messi já tem toda essa documentação em mãos.

"O formato das contratações de jogadores por clubes da MLS difere muito do que estamos acostumados no mercado da bola. A regra geral é: assinam a transferência o clube vendedor, o comprador e o atleta. Seja no Brasil, Inglaterra ou Chile, essa é a lógica. Nos Estados Unidos é diferente. A MLS é parte do contrato e ela participa ativamente das negociações", afirma Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo.

"É algo que difere totalmente das demais ligas de futebol pelo mundo. É justamente devido a essa atuação diferenciada que um jogador como o Messi pode chegar a MLS recebendo não apenas o salário do Inter Miami, mas também uma participação em negócios da liga."

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A engenharia para levar Messi aos EUA, ainda que nos ajustes finais, contou com negociações e cláusulas inéditas. Assim como Beckham, em 2007, Messi terá a possibilidade de adquirir parte das ações do Inter Miami quando encerrar seu contrato. Além do ex-jogador inglês, Simon Fuller, Marcelo Claure, Masayoshi Son e os irmãos Jorge e Jose Mas têm participação em ações da franquia. Messi se tornará mais um dos sócios no futuro.

Além disso, Messi também terá uma parte das ações da Apple, que tem os direitos de transmissão da MLS. O formato ainda não foi definido, mas o atacante deve receber uma parcela do valor de novas assinaturas internacionais do Apple+, serviço de streaming da marca.

Antes do camisa 10, a franquia de Beckham contou com o reforço de Higuaín. Após a vinda de Messi, o empresário agora busca outros nomes para reforçar o elenco e expandir a marca do Inter Miami. Esportivamente, o time era lanterna da competição. Ainda não se achou dentro de campo. Messi certamente vai mudar essa condição.

Expansão do esporte na Flórida

Uma das metas de Beckham ao fundar o Inter Miami era de expandir o futebol nos EUA e, principalmente, na Flórida. Na América do Norte, futebol americano, basquete e beisebol são mais populares. Além disso, o estádio do Inter Miami, o DRV PNK Stadium, também está longe de ser um caldeirão, tendo capacidade para apenas 18 mil torcedores.

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"Esta propriedade está empenhada em trazer para Miami o time de futebol de elite, o estádio e a experiência dos torcedores que ela merece. Estamos ansiosos para trabalhar com toda a organização em um lançamento estratégico e bem-sucedido para o clube de Miami", afirmou Don Garber, comissário da MLS, no lançamento da franquia em 2018.

Um dos planos com a vinda de Messi, segundo revelou o The Athletic, é transformar cada jogo em um espetáculo. Miami tem sido referências em eventos esportivos, como o Super Bowl, o GP de Fórmula 1 e será uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2026. Para isso, houve rumores de que o clube poderia transferir alguns jogos para o Hard Rock Stadium, estádio do Miami Dolphins da NFL com capacidade para mais de 65 mil torcedores, localizada em Miami. Isso ainda não está decidido.

"O mercado americano é disputadíssimo, tem quatro ligas predominantes, mas há tempos investe no futebol e tal dedicação vem rendendo frutos, sobretudo nos Estados de predominância latina. A combinação de Messi, Copa América e Copa do Mundo nos próximos três anos tem tudo para mudar de vez esse jogo e fazer com que o futebol jogado com os pés conquiste o coração e a atenção de mais americanos definitivamente", analisa Ivan Martinho, especialista em marketing esportivo e professor da ESPM.

Perfil do time

O Inter Miami tem 29 jogadores, sem contar Messi. A média de idade do elenco é de 15 anos. Messi, perto dos 36, vai aumentar essa média. Há no grupo 20 atletas estrangeiros, e isso representa 69% de todos os jogadores inscritos na liga. São 11 jogadores de seleção. O site Transfermarkt informa que seu valor de mercado é de 34,1 milhões de euros, o equivalente a R$ 180 milhões. Não é um valor alto para os padrões do futebol mundial. O time está na liga há quatro anos. Suas contas ainda andam no vermelho, ou seja, o time de Beckham mais gasta do que ganha. A receita no último balanço foi de 2 milhões de euros e as despesas, de 4,8 milhões de euros.

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Estima-se que Messi receba entre US$ 125 milhões a US$ 150 milhões, de acordo com o jornal Miami Herald por um contrato de dois anos e meio. Ele vai ganhar salário e bônus. Há até uma data prevista para sua estreia, 21 de julho, Messi pediu dispensa do segundo amistoso da Argentina nesta segunda para entrar em férias. O prazo é curto para ele se preparar. O Inter Miami é a 25ª franquia da competição. Em 2010, o comissário Don Garber colocou na cabeça que a MLS seria maior do que era e de tornaria uma das principais ligas até 2022. Ele estava esperançoso na Copa no país, não a de 2026, mas uma das duas antes, da Rússia e do Catar.

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