Polícia tem provas que ligam autoria de crime a lideranças da Mancha Verde

Seis membros da principal organizada do Palmeiras foram alvos de pedidos de prisão preventiva por serem suspeitos no conflito com a Máfia Azul

31 out 2024 - 16h51
(atualizado às 17h03)
Presidente da Mancha Verde, Jorge Luiz Samapio Santos, é considerado o principal interessado na vingança –
Presidente da Mancha Verde, Jorge Luiz Samapio Santos, é considerado o principal interessado na vingança –
Foto: Arquivo pessoal / Jogada10

Seis integrantes da liderança da Mancha Verde são suspeitos de planejar o ataque a membros da Máfia Azul, no último final de semana. Assim, o presidente da organizada do Palmeiras, o vice e mais quatro componentes foram alvos de pedidos de prisão preventiva. A Polícia colheu indicativos que vinculam estes torcedores do Alviverde à emboscada sobre a organizada do Cruzeiro.

Uma gravação revela um homem gritando o nome do presidente da Mancha Verde enquanto agredia uma das vítimas.

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"É a Tropa do Jorge", gritava o combatente.

Diversas situações de hostilidade entre os delinquentes foram registradas e, na sequência, compartilhadas nas redes sociais. O palmeirense presente no vídeo destacava a organizada, os atuais líderes e até mesmo um antigo fundador. Isso enquanto gritava e agredia os cruzeirenses, que estavam cobertos de sangue e no chão.

Suspeita de presidente da maior organizada do Palmeiras como mentor da emboscada

Assim, a investigação policial aponta o presidente da Mancha Verde, Jorge Luiz Sampaio Santos, como o 'líder intelectual e principal interessado na ocorrência'. Afinal, as autoridades relembram um conflito anterior entre as organizadas em 2022. Na oportunidade, Jorge ficou machucado e teve seus documentos roubados pelos integrantes da Máfia Azul e, posteriormente, tornou-se alvo de insultos. Com isso, a polícia entende que o ataque foi uma espécie de vingança.

"Jorge é o principal interessado e beneficiado da vingança tomada parte no último domingo. Como destacado pela AUTORIDADE, teve seu nome repetidamente aludido durante as agressões quando outros membros da torcida assim se identificavam como 'Tropa do Moacir" [falecido fundador da torcida, que morreu com 22 tiros em março de 2017] e 'tropa do Jorge'. (…) De grande influência e idolatria, nos termos da referência policial, Jorge tem evidente vínculo com os fatos criminosos", detalha documento do Ministério Público de São Paulo.

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"Nas imagens trazidas, com torcedores ensanguentados, alguns aparentemente desacordados, próximo de um ônibus em chamas, indivíduo com pedaço de ferro brada: 'é a Mancha, filha da p***, entendeu? É a Mancha, seu c****, entendeu? (chute na cabeça de uma das vítimas). Aqui é tropa do Moacir, c******, é a tropa do Jorge, seu arrombado'", complementa o documento.

"Não restam dúvidas que Jorge é um indivíduo de alta periculosidade que tem uma influência grande dentro da torcida organizada Mancha Verde e que vem organizando eventos cada vez maiores, criminosos, perigosos, desastrosos, vergonhosos não só para o Esporte como para a Segurança Pública do Estado de São Paulo e do resto do país", aponta o relatório do inquérito policial.

Presidente da Mancha Verde, Jorge Luiz Samapio Santos, é considerado o principal interessado na vingança –
Foto: Arquivo pessoal / Jogada10

Constatação da presença de líderes da Mancha Verde

Aliás, houve o reconhecimento em uma das imagens postadas da participação do vice-presidente da organizada do Palmeiras, Felipe Matos dos Santos. Fezinho, como é também conhecido, é identificado em uma das câmeras de segurança do estacionamento em Mairiporã. Ou seja, a avaliação é de que o mesmo seja um dos mentores da emboscada.

Leandro Gomes dos Santos também aparece em alguns registros do crime. Ele tem relação próxima com a diretoria da Mancha Verde e estava em foto publicada nas redes sociais em período anterior ao conflito e ao lado de Jorge. Aliás, Leandro vestia o mesmo conjunto no decorrer do enfrentamento e no registro nas redes sociais. Por outro lado, até o momento, ainda não houve o reconhecimento do presidente da organizada do Palmeiras nos indícios.

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Veículos ligados a integrantes da torcida do Palmeiras

Nas filmagens de câmeras no local do conflito ou em seus arredores, houve a presença de dois carros. No caso, um Celta, que constatou o envolvimento de mais dois suspeitos: Aurélio Andrade de Lima e Henrique Moreira Lelis. A dupla já participou de outro episódio policial, em 2011.

"Ambos permanecem envolvidos e cometendo praticas delituosas, principalmente no âmbito esportivo", ressaltou a polícia.

O outro veículo diz respeito a um HRV, do qual a propriedade é da companheira de um antigo componente da Mancha Verde, o "Lagartixa". De acordo com as investigações policiais, a avaliação é de que Neilo Ferreira Silva carrega a responsabilidade de ser um dos líderes nas brigas de torcida.

"Lagartixa, lutador profissional de boxe e muay thai, é um dos linhas de frente da torcida nos embates contra outras torcidas e se intitula como sendo da pista na torcida", especificou o documento policial.

Detalhes da investigação

O episódio ocorreu, na manhã do último domingo (27), e contou com a participação de aproximadamente 150 torcedores de Palmeiras e Cruzeiro. Em um primeiro momento, o incidente foi registrado na Delegacia de Mairiporã (SP), que fiscalizou de imagens de câmeras de segurança e pediu que as vítimas realizassem exames junto ao IML.

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A Polícia Civil do estado de São Paulo conseguiu reconhecer uma parte dos agressores que foram responsáveis por uma morte e outros 17 feridos. Aliás, a identificação ocorreu por meio da emissão de sinais dos celulares dos suspeitos. Além da apreensão de imagens de câmeras de segurança da rodovia. Atualmente, o inquérito está sob a responsabilidade da Delegacia de Repressão as Delitos de Intolerância Esportiva (Drade). A missão é identificar e responsabilizar os envolvidos no crime.

As autoridades policiais indiciam o ataque como homicídio, incêndio, associação criminosa. Assim como lesão corporal e promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos.

O ataque

O conflito provocou a morte de José Victor Miranda, de 30 anos, depois de sofrer queimaduras e contusões graves após pancadas com barras de ferro. Segundo à Polícia, todas as vítimas dizem respeito a torcedores do Cruzeiro. Eles se locomoviam pela rodovia Fernão Dias. Até que a organizada palmeirense surpreendeu-os com a emboscada.

As agressões se iniciaram por volta das 5h20 e ocorreram com barras de metal e madeira, no quilômetro 65 da estrada, perto do túnel de Mairiporã. Ainda por cima, a Mancha Verde incendiou o ônibus da Máfia Azul. Entre as 17 pessoas que ficaram com ferimentos, dois deles permanecem internados no Hospital Estadual de Franco da Rocha. A propósito, um deles se encontra em estado grave.

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Mancha Verde se posiciona

A principal torcida organizada do Palmeiras manifestou-se sobre o caso através de nota, na última segunda-feira (28). Deste modo, desmentiu o envolvimento e que sofre acusações injustas e qualificou o episódio como "fatídico e lamentável".

Em seguida, a Mancha Verde alegou que não pode ser culpada por "ações isoladas de 50 torcedores". Ainda por cima frisou que sua rede de associados ultrapassa as 45 mil pessoas. Assim, repudiou o ataque, destacou que não concorda com a violência e que está apta a colaborar com a polícia.

Promessa de medidas de combate ao caso

Segundo o jornalista Mauro Cezar Pereira, o Ministério Público planeja algumas ações de combate à principal torcida organizada do Palmeiras. Especialmente com uma punição para os envolvidos no conflito. Assim, de acordo com apuração do profissional de comunicação, a intenção é reprimir a Mancha Verde.

Com isso, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) chamou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para colaborar no inquérito. Além disso, busca orientações com juízes e observando a atuação da Polícia Civil. A Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade) permanece no processo de identificação dos suspeitos e utiliza tecnologia e inteligência policial.

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Aliás, a avaliação do MPSP, é de que houve um minucioso planejamento há um certo tempo. Principalmente pelos sinais de suposta participação da alta hierarquia da torcida organizada, bem como a presença de sofisticação. Além de não haver a possibilidade do envolvimento de 150 pessoas em um impactante ataque durante a madrugada em pouco tempo. Inclusive, trata-se de um enorme problema, pois não houve a capacidade de prever esse encontro.

Devido à intensa rivalidade que existe entre as organizadas, o órgão governamental avalia que é necessário haver uma investigação profunda dentro destas torcidas. Assim como entendeu que havia o planejamento da vingança desde 2012. Com isso, pediu a colaboração de sua unidade em Minas Gerais para melhor compreensão do nível de hostilidade.

Ministério Público deseja punição aos integrantes da Mancha Verde

O Ministério Público de São Paulo imagina o estabelecimento de diversas medidas criminais. Especialmente atreladas a homicídio e tentativa de homicídio. Bem como associação criminosa e até ações da lei geral do esporte, que antevê banimento e priorização da segurança dos torcedores. Há a possibilidade também de apreensão de bens e valores de responsáveis pela torcida e da própria organizada. Principalmente com o objetivo de recompensar as vítimas, com a chance de vetar as movimentações financeiras dos criminosos.

Por sugestão do Ministério Público, a Federação Paulista de Futebol aceitou proibir a presença da Mancha Verde nos estádios. Há a espera de que medidas voltadas para punição sejam determinadas, de acordo com o MPSP. Posteriormente na última quarta-feira, o MPMG, enviou pedidos de sugestões à Federação Mineira de Futebol e à CBF pela exclusão da Mancha Verde por dois anos.

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