O que Domènec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho e Paulo Sousa têm em comum? São técnicos de futebol muito conhecidos pelos cariocas, ambiciosos, perseverantes ... e reféns de Jorge Jesus. Sim, não há como negar que o encanto produzido por Jesus no Fla-2019 deixou rastros que, por um lado, orgulham os rubro-negros, e que, por outro, jogam o clube num redemoinho a cada período de instabilidade em campo.
Domènec foi o primeiro a sentir isso na pele. Por causa de tropeços no Brasileiro de 2020, acabou demitido. Registre-se que na oportunidade de sua dispensa o Flamengo ocupava a terceira posição no campeonato nacional, estava classificado para as oitavas de final da Libertadores e para as quartas da Copa do Brasil.
Pode-se aqui fazer uma analogia com o desfile das escolas de samba do Rio. Quando uma delas é ovacionada na Sapucaí, com uma apresentação espetacular, a que vem em seguida sofre bastante, porque tem a responsabilidade de, no mínimo, fazer igual. O exemplo cabe para traduzir a passagem de Domènec pelo Flamengo. Ele não fazia um trabalho ruim. Mas caiu diante da pressão por resultados e atuações convincentes.
Rogério Ceni tomou seu lugar e também não conseguiu se livrar da sombra de Jorge Jesus. Teve um início claudicante, mas, aos poucos, conseguiu um equilíbrio na equipe e foi o técnico que levantou o troféu do Brasileiro de 2020. Ganhou também o Carioca de 2021 e a Supercopa do Brasil no mesmo ano.
Todavia, Ceni se perdeu por causa de embates com profissionais do Departamento de Futebol do Fla e em razão da sua falta de identidade com o clube da Gávea. Além disso, comprou brigas públicas com Gabigol e Pedro. Bastaram alguns reveses para vir a sentença: demitido.
Já havia no ar especulações de que Renato Gaúcho, curtindo a praia do Rio diariamente, estaria à espreita para dizer “sim” a um convite do Flamengo. Foi o que ocorreu. E o ex-jogador do Rubro-Negro chegou ao clube com o status de “salvador da pátria”. Ele seria o responsável por reconduzir o Fla aos caminhos pavimentados por Jorge Jesus.
Assumiu a equipe em julho de 2021, período em que muita gente lembrava de seu discurso de meses antes, segundo o qual só Atlético-MG e Flamengo no Brasil – os cariocas investiram R$ 200 milhões para contratar reforços -, poderiam ser cobrados por futebol bonito. Não foi o que se viu.
Renato não soube arrumar o time para disputar os títulos do segundo semestre e o Flamengo caiu na Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores. Apesar da relação histórica que mantém com os flamenguistas, a perda dessas competições acabou determinando sua saída com a aprovação de boa parte da torcida.
Restou então à diretoria do Flamengo uma nova investida em Jorge Jesus para resolver logo essa questão e pôr fim a esse fantasma que rondava o clube. Até que se tentou um acordo com o treinador, mas ele demorou a dar a resposta. As negociações travaram e aí o Flamengo partiu para o plano “B” – retirar Paulo Sousa da seleção da Polônia, numa contratação de repercussão internacional.
O português largou a Polônia e a possibilidade de participar de uma Copa do Mundo - os poloneses confirmariam a classificação depois – para trabalhar num dos maiores clubes do mundo. Fez contrato até dezembro de 2023 e esperava iniciar uma lua de mel com os rubro-negros já em janeiro, quando do início do Estadual.
Paulo Sousa rodou muito o time, testou vários jogadores e parece ter exagerado na dose. Tanto que o Fla, favorito ao título do campeonato caseiro, viu o troféu ser erguido pelo Fluminense. Esse insucesso não foi bem digerido na Gávea. Para piorar, teve a perda da Supercopa do Brasil para o Atlético-MG.
Tudo, porém, poderia ter sido resolvido desde que houvesse uma campanha produtiva no Brasileiro e na Libertadores. Nesta competição, até que o Flamengo está bem, com boa performance na fase de grupos, da qual foi o líder de seu grupo.
Mas o que dizer do desempenho no Brasileiro? São atuações ruins umas atrás de outras e o resultado disso é a 14ª posição na tabela, bem perto da zona de rebaixamento. Para o Flamengo milionário de hoje, a situação é insustentável. Paulo Sousa, assim, acaba o sonho carioca como a quarta vítima da sombra de Jorge Jesus – espectro que deve tirar o sono também dos próximos treinadores do Fla.
