Um dos primeiros treinadores de Kylian Mbappé contou certa vez que o astro francês aprendeu a cantar A Marselhesa, o hino do país, com apenas seis anos. O menino também gostava de assistir às coletivas de imprensa de alguns dos maiores jogadores de futebol da época e, depois, fazer de conta que ele próprio concedia as suas. Mais do que curiosidade ou uma brincadeira de criança, havia naquilo tudo um desejo que beirava à premonição. "Um dia vou jogar a Copa do Mundo pela França", explicava o garoto.
Pois o jogador não só cumpriu seu objetivo como, aos 23 anos, poderá se tornar bicampeão mundial. Depois de conquistar a Copa da Rússia em 2018, ele chegou ainda mais completo para a disputa no Catar. Em cinco jogos, deu duas assistências e marcou cinco gols, alcançando a artilharia da competição ao lado de Lionel Messi - o gênio que, muitos dizem, ele irá suceder.
"Esta Copa do Mundo é uma obsessão para mim, é a competição dos meus sonhos", declarou Mbappé há algumas semanas, em uma das raras vezes em que falou com a imprensa que está no Catar cobrindo a Copa do Mundo. "Construí minha temporada em torno desta competição e de estar preparado física e mentalmente para ela."
Mbappé foi eleito três vezes o melhor jogador em campo nesta Copa do Mundo, nos jogos diante de Austrália e Dinamarca, pela primeira fase, e com a Polônia, nas oitavas de final. Nas duas primeiras ocasiões, ele não apareceu para dar a entrevista oficial pelo prêmio, o que fez a Fifa multar a federação francesa. Houve quem levantasse a hipótese de que o atacante francês estivesse de má vontade com a imprensa, mas ele próprio explicaria a razão das ausências após a vitória sobre os poloneses, em que marcou dois gols.
"Eu só precisava me concentrar na minha competição. Quando preciso me concentrar, preciso estar 100 por cento. Não posso perder energia em outras coisas, por isso não falei antes", contou. "Soube que a federação vai receber uma multa, mas prometi pagar pessoalmente."
E ninguém duvida que o foco esteja de fato dentro de campo. Mbappé não fez uma única partida abaixo da média - que é bastante alta em se tratando do camisa 10 da seleção - no Mundial do Catar. Suas arrancadas pela esquerda, as quais usa o limite da margem do campo para o terror de quem tenta marcá-lo, são sempre o prenúncio de um gol que se avizinha.
Quando acelera pelo flanco, o atacante é capaz de atingir uma velocidade de quase 35 km/h, o que explica por que muitas vezes ele chega antes na bola do que zagueiros que estavam muito melhor colocados. Mas não é apenas isso que faz do craque da seleção francesa o grande destaque que é na Copa do Mundo. Mbappé também dribla pelo meio com a leveza de uma pluma, tabela com os companheiros com a maior naturalidade e é incisivo quando toma a direção do gol.
A potência ofensiva do francês é tanta que faz até o ex-atacante Ronaldo, campeão de duas Copas do Mundo e autor de dois gols na decisão com a Alemanha, em 2002, se tornar um saudosista. "Posso falar sobre o quão rápido Mbappé é e o quão bom ele é. Me lembrou de quando eu jogava", disse ele.
Neste domingo, diante da Argentina, Mbappé poderá igualar o Fenômeno em títulos. Uma grande atuação também poderá ser decisiva para apontá-lo como o melhor jogador da Copa do Mundo. Isso, porém, não parece ser importante para ele. "Não vim aqui para ganhar a Bola de Ouro. Não é por isso que estou aqui", afirmou o atacante francês. "Estou aqui para vencer e ajudar a seleção francesa."