Já é público que os dois grupos que lutam pelo poder na CBF – os de Marco Polo Del Nero e Rogério Caboclo – estão empenhados (pelo menos estavam, até dias atrás) em “fritar” o técnico Tite e afastá-lo da Seleção brasileira. A derrota para a Argentina na final da Copa América, em julho, no Maracanã, alimentou bastante essa expectativa. Se o Brasil fracassasse de novo contra os argentinos, no jogo de domingo, em Itaquera, o caminho estaria mais aberto ainda para o afastamento do treinador.
Com uma equipe desmantelada, por causa da não liberação de jogadores de clubes europeus e com Neymar fora de forma, não seria surpresa se a Argentina vencesse de novo. Eis então que surgiu o agente Saldanha, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e policiais federais para interromper a partida com cinco minutos de bola rolando, por causa do imbróglio com os quatro jogadores argentinos que burlaram normas sanitárias.
Seria uma incoerência tamanha se a ação da CBF se concretizasse, com a eventual demissão de Tite, pois não faz parte do script do futebol trocar de técnico quando seu time lidera com folga a competição que disputa, no caso as eliminatórias para o Mundial do Catar.
As razões, no entanto, não falariam ao que a Seleção produz ou não em campo. Estariam direcionadas a questões políticas, como a de agradar ao presidente Jair Bolsonaro, que já deixou claro sua insatisfação com Tite, basicamente pelo comportamento independente do treinador em momentos recentes nos quais o governo federal tentou pegar carona na Seleção brasileira para melhorar sua imagem.
Portanto, mesmo sem querer, o agente Saldanha pode ter funcionado como o 12º jogador de Tite, o elemento surpresa que entrou em campo para decidir, a carta na manga que manteve o Brasil com 100% de aproveitamento na competição, uma vez que o clássico foi suspenso e deve ser remarcado pela Fifa.
Para seguir rumo ao Catar com a Seleção, Tite precisa continuar acumulando vitórias. Isso inibiria as movimentações para sua saída. Nesse sentido, é bom que o Brasil vença o Peru, nessa quinta (9), em Pernambuco, o que é provável, para que novas assombrações não lhe perturbem o sono.