Atlético-MG e Botafogo decidem Libertadores em final bilionária e buscam consagração das SAFs

Clubes tiveram investimento bilionários de seus novos donos, os empresários Rubens Menin e John Textor, e turbinaram suas finanças

30 nov 2024 - 00h00
(atualizado às 04h21)

BUENOS AIRES - Em 2021, o Botafogo era praticamente insolvente financeiramente e estava perto da falência. Passados três anos, o clube carioca se transformou em SAF (Sociedade Anônima do Futebol), foi comprado pelo magnata John Textor e está a 90 minutos de ser campeão da Libertadores pela primeira vez em sua história. O adversário na decisão neste sábado, 30, em Buenos Aires é o Atlético Mineiro, outro que migrou do modelo associativo sem fins lucrativos para o empresarial. A bola rola às 17h no Mâs Monumental.

Aprovada por meio de projeto de lei e em vigor desde agosto de 2021, a Lei da SAF permite que um clube se estruture como empresa e tenha dono. O modelo é adotado, geralmente, com o pensamento de salvar as agremiações de graves crises financeiras e torná-las competitivas, liberando a renegociação de dívidas.

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Antes à beira da falência, o Botafogo hoje está a um passo da glória graças ao então desconhecido magnata americano, que comprou 90% das ações do clube e se comprometeu a investir ao menos R$ 400 milhões. No ano anterior à venda, o time disputava a Série B.

"No Botafogo, ressuscitamos um clube histórico da falência na 2ª divisão para lutar por campeonatos no topo da Série A", disse o empresário quando anunciou o desejo de vender sua participação no Crystal Palace, da Inglaterra.

Ele é proprietário da Eagle Football Holdings, um conglomerado de clubes a nível mundial que conta com participações majoritárias, além do Botafogo, no Lyon, da França, RWD Molenbeek, da Bélgica, e uma participação minoritária no Crystal Palace, da Inglaterra.

O empresário fez do Botafogo o caso esportivo de maior sucesso das SAFs no Brasil, ainda que o trabalho não tenha sido coroado com um título por enquanto. Foi o único dos clubes do qual é dono que prosperou.

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Foi montado um elenco competitivo com alguns atletas pouco conhecidos e estrelas como Thiago Almada e Luiz Henrique, as duas mais caras contratações da história do futebol brasileiro. O meia argentino custou R$ milhões R$137,4 milhões e o atacante brasileiro, R$ 106,6 milhões.

O Atlético Mineiro alterou seu modelo administrativo em julho do ano passado, quando vendeu 75% das ações por R$ 913 milhões ao Galo Holding, conglomerado formado pelos 4Rs - Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. O Centro de Treinamento e a Arena MRV foram transferidos para a SAF. Os quatro investidores, que participam da administração atual do Atlético-MG, fizeram um aporte inicial de R$ 600 milhões e se comprometeram a assumir 100% das dívidas, o que deixou a associação, que detém 25% das ações, sem déficit.

No início do ano, o Conselho Deliberativo do Atlético aprovou o aumento de capital, com mais R$ 200 milhões, aplicados 100% pelo FIP Galo Forte, que já detinha participação na sociedade. O novo aporte fez com que o capital social total da SAF aumentasse para R$ 1,422 bilhão. Rubens Menin, conhecido empresário dono de um conglomerado de empresas em diferentes setores, é o acionista majoritário e quem mais se destaca. Para ele, a SAF atleticana "está um pouco à frente das outras" porque combina gestão do futebol com gestão empresarial.

"Independentemente da conquista da Libertadores, o modelo de gestão adotado com a SAF terá continuidade e será permanentemente aperfeiçoado. É um caminho sem volta, que vem sendo traçado com planejamento e cuidado", diz ao Estadão Bruno Muzzi, CEO da SAF atleticana. "Claro que um clube estruturado fora de campo tem mais chances de conquistar títulos, mas os resultados esportivos não dependem somente dessa organização administrativa".

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O elenco do Atlético, antes da transformação em SAF, já era estrelado, com Hulk, Guilherme Arana e Paulinho. Neste ano, foi reforçado com a repatriação de figuras importantes, casos de Gustavo Scarpa e Bernard, os dois meia-atacantes que vieram do futebol grego.

Muzzi crê ser possível que o Atlético se coloque como uma das principais potências no continente. "O clube já vem disputando os principais títulos nacionais e internacionais nos últimos anos. Na medida em que as coisas caminham bem fora das quatro linhas, a tendência é que isso reflita dentro de campo".

E o fair play financeiro?

Há queixas, porém, por partes de cartolas de clubes que se mantêm no modelo associativo. Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, time mais rico do País, reclama com frequência e diz que é urgente a implementação de um fair play financeiro no futebol brasileiro, em referência às despesas do Botafogo, superiores à arrecadação. Leila Pereira, reeleita presidente do Palmeiras, cobra a mesma medida.

As queixas fizeram Thairo Arruda responder a Landim com uma analogia sobre financiamento imobiliário e reconheceu que as reclamações são resultado da ida agressiva do Botafogo ao mercado.

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"Imagina um profissional que ganha R$ 20 mil por mês. Como ele vai comprar um apartamento de 500 mil reais? Ele paga à vista uma parte e financia o resto. Daqui a três quatro anos eu ganho 30 mil, posso vender o apartamento e comprar um melhor", iniciou a explicação.

"Isso é o que fazemos no Botafogo. O Botafogo ganha 400 milhões e não pode gastar 600 milhões? Existe financiamento pra isso, para honrar os compromissos e ter fluxo de pagamento", argumentou o braço direito de Textor. Na visão de Arruda, a forma correta de instituir o fair play financeiro é controlar o pagamento. "Não precisa controlar o quanto pode gastar, mas sim a capacidade de pagar os compromissos assumidos".

O Atlético, diz Muzzi, desenhou o Galo 2030, projeto que prevê times competitivos que disputem títulos e, ao mesmo tempo, um clube que se mantenha saudável financeiramente. "Há vários exemplos de clubes que gastaram muito mais do que arrecadaram para buscar o sucesso esportivo e que, em curto espaço de tempo, tiveram muitos problemas. Não há mais espaço para gestões não profissionais no futebol porque a conta sempre chega", afirma o CEO atleticano.

ATLÉTICO-MG X BOTAFOGO

ATLÉTICO-MG: Everson; Lyanco, Battaglia, Alonso; Fausto Vera, Alan Franco, Scarpa e Arana; Paulinho, Hulk e Deyverson. Técnico: Gabriel Milito.

BOTAFOGO: John; Vitinho, Adryelson, Barboza e Alex Telles; Gregore, Marlon Freitas e Thiago Almada; Luiz Henrique, Savarino e Igor Jesus. Técnico: Artur Jorge.

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ÁRBITRO: Facundo Tello (Argentina).

HORÁRIO: 17h (de Brasília).

LOCAL: Mâs Monumental, em Buenos Aires, na Argentina.

ONDE ASSISTIR: Globo, ESPN, Disney+ e Paramount+.

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