O desejo dos clubes da Série A em formarem uma liga de futebol para organizar o Campeonato Brasileiro rendeu forte expectativa nesta terça-feira. A manifestação assinada em carta por 19 clubes e entregue à CBF em reunião no Conselho de Clubes foi vista como um grande passo por especialistas entrevistados pelo LANCE!.
Consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi traçou algumas perspectivas. Segundo ele, novas receitas podem surgir com a liga.
- Com relação à notícia, eu acho boa, acho positiva, mostra que o futebol brasileiro tem de parar de depender da CBF, das federações e decidir se o campeonato vai começar em março ou em fevereiro, depois da pré-temporada, depois dos times excursionarem... Ou se em julho vai ter uma parada para os times brasileiros irem para a Europa ou para os Estados Unidos. Não é o presidente da CBF que vai decidir, é a liga! Eu vejo com bons olhos, podem vir novas receitas do meio digital - e ressaltou:
- É a vitória dos clubes frente a esse modelo arcaico, coronelista, no qual você não pode crescer pois não é permitido isso. Essa falta de democracia, na qual você não pode definir o que fazer com seu marketing ou fazer um jogo amistoso com o Manchester é importante. A liga pode permitir não só o crescimento doméstico, mas também o crescimento internacional dos clubes. O mundo está conectado e os clubes estão fora - completou.
O consultor de marketing e gestão esportiva vê como um desafio a busca por organização interna entre os clubes.
- É sempre bom lembrar que até hoje os clubes nunca conseguiram montar uma estrutura organizativa, um ambiente gerencial, pois não adianta o presidente de um dos clubes ser o presidente da liga. Tem de ter executivos de ponta, tem de ter um projeto de Brasil, não adianta pensar nos Top-20, nem nos 20 da Série B, tem que pensar num projeto de Brasil, de fomento de futebol como indústria - disse.
Em seguida, Somoggi vê onde o passo pode ser diferente em relação a outras tentativas frustradas de liga.
- Se esse caminho for traçado, se não for só para faturar mais com televisão e patrocínio, se o foco for ampliar o impacto da indústria do futebol, pode ser o passo que não foi dado em 1987, que não foi dado em 2000 e que agora pela crise profunda pela qual passa a CBF, é o grande momento. Eu esperava isso em 2014, mas nós somos um pouco demorados - declarou.
O jornalista Eduardo Tironi também acredita que a organização da liga não deva ficar nas mãos de cartolas.
- O ideal é que quem estivesse à frente desta liga não tivesse relação aberta com os clubes, como são as ligas americanas, por exemplo. Pode ser gente ligada a esporte, mas não umbilicalmente ligada a clubes. A presidência da liga não pode ficar nas mãos do presidente do Flamengo, do São Paulo, do Corinthians... Essa é a sabedoria do negócio. O profissionalismo tal que esta liga não seja marcada como a liga de um clube, como aconteceu com a Primeira Liga. É preciso de alguém que não tenha proximidade com clubes.
Amir Somoggi crê que, com o Brasileiro nas mãos de uma liga, os clubes têm um gigantesco poder de decisão.
- Seria uma mudança de mentalidade. Se toma uma decisão como liga, todos os clubes terão de seguir e arcar. Não dá para jogar fora colocando o poder nas mãos de dirigentes de clubes, pois senão será fracasso anunciado. Mas montar modelo empresarial, contratar executivos, ter empresas envolvidas e deixar só o clube fundador participando das reuniões é o ideal - e, em seguida, ele se mostra cético:
- Não acredito no poder gerencial do futebol brasileiro. A não ser que coloque dois ou três clubes que tenham esse poder. Mas na hora de soma eles são bagunçados, não respeitam protocolo de gestão... Estou meio descrente em relação a isso sair do papel da forma certa. De qualquer forma, tem tudo para sair, pois precisam de dinheiro, não sabem da onde tirar e a criação da liga é um caminho - completou.