O turbilhão que envolve a CBF há mais de um mês expõe as entranhas da entidade, com intrigas, acusações e indefinições em capítulos que se sucedem pela disputa de poder. Para o ex-secretário-geral da CBF, Walter Feldman, a confederação vive a “pior crise de sua história”.
“É uma situação dramática. Falta diálogo e sobram arrogância, agressividade, intransigência”, disse ele, em entrevista ao Terra.
Feldman foi exonerado em junho, numa ação orquestrada pelo vice-presidente Gustavo Feijó, que levou o então presidente interino, coronel Antônio Nunes, a tomar a medida. Foi uma represália a acolhida de Feldman aos 20 clubes da Série A durante o anúncio formal de criação da liga independente dos clubes, dias antes, no Rio.
“Os 20 clubes da Série A estavam no Rio para uma reunião. Não teria o menor sentido a CBF não os receber. Paguei por isso. A CBF tem que aceitar o diálogo, construindo uma nova relação de poder com federações e clubes.”
O Terra apurou, antes mesmo do contato com Feldman, que Feijó e Nunes seguiram assim ordem de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, banido pela Fifa em 2018 por envolvimento em escândalos de corrupção.
Apesar de sua exclusão, Del Nero manteve nos últimos meses ingerência nos rumos da confederação.
Com larga experiência na administração pública e na vida parlamentar (foi vereador, deputado estadual e deputado federal), além de sua atuação como médico, Feldman ficou seis anos na CBF. Nesse período, criou programas voltados para a conexão entre o esporte e o social, com a participação da entidade em projetos espalhados pelo País que visavam a dar oportunidades a jovens carentes por meio do futebol.
Sem mágoas, como ele faz questão de dizer, mas chateado com o desfecho de sua passagem pela CBF, Feldman busca novos caminhos. “Não volto ao futebol. Fiz medicina para conhecer as questões de vida e morte; fui secretário de Estado e do município de São Paulo para conhecer as relações de poder e sociedade; fui parlamentar para conhecer política e estive no futebol para lidar com paixões. Está bom, né?”