O jornal britânico The Independent dedica a manchete desta quarta-feira aos protestos que inflamam as principais cidades brasileiras. Com o título "A gente se vê no Rio? Protestos contra a Copa do Mundo varrem o Brasil", a matéria liga as convulsões sociais com as preparações para o Mundial no ano que vem.
O texto diz que quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou em 2007 que a Copa seria sediada no Brasil, ele previu que o evento teria um grande impacto social e cultural no país.
"E teve, mas não como ele esperava", diz o Independent. "Em vez de unir o Brasil em festa, o maior prêmio do futebol, que está voltando ao país que o sediou há 54 anos e que ganhou mais títulos mundiais do que qualquer outro, está provando ser um catalisador para grandes protestos".
O texto diz que os protestos, os maiores de uma geração, são "um choque" para as autoridades, que não estão habituadas ao descontentamento popular. O texto lembra que as mobilizações acontecem durante a Copa das Confederações, um mês antes da Jornada Mundial da Juventude, a um da Copa do Mundo e dois das Olimpíadas.
"Os brasileiros sofrem há muito tempo com um Estado ineficiente, com estimados 30 bilhões de libras (R$ 102 bi) desviados em evasão fiscal e corrupção todos os anos", acrescentando que os 40 milhões de brasileiros que passaram a integrar a classe média agora "querem mais de seus governantes".
"O que começou com o Movimento Passe Livre agora está ganhando o nome de 'Revolução do Vinagre', depois que pelo menos uma pessoa foi presa por carregar um vidro de vinagre para aliviar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo".
Reação
Em seu blog BeyondBrics, o portal do diário financeiro britânico Financial Times comentou o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff que disse que a voz das ruas têm de ser ouvida.
"Como reação política, sua estratégia foi clara. Até agora os protestos não tiveram sua administração como foco, mas sim os governos estaduais e prefeitos, além de governantes e responsáveis diretos pela gerência de serviços públicos", diz o texto.
O FT avalia que, como até agora as manifestações têm como alvo todos os partidos, o objetivo de Rousseff será se tornar "o menor alvo possível", enquanto tentará negociar com políticos locais, como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobre como acalmar a situação.
"Se eles conseguirem planejar uma forma dele voltar atrás na proposta de aumentar a tarifa de ônibus, deve ser o suficiente para acalmar um pouco os protestos e dar a presidente um tempo para respirar".