Porto Alegre recebeu cinco jogos da Copa do Mundo e atraiu milhares de turistas falantes da língua inglesa, entre eles os australianos. Holandeses, argelinos e nigerianos também tentaram se comunicar utilizando o inglês. Mas eles enfrentaram dificuldades de encontrar quem pudesse informar e ajudar com clareza, bem como não puderam travar uma conversa de mais de minutos com a maioria dos gaúchos. A constatação é feita pelos estrangeiros.
Para a australiana Sarah Green, os gaúchos que a ajudaram não conseguiam explicar direções e sugerir lugares. “Foi difícil encontrar quem falasse inglês bem aqui. Ninguém conseguia dizer como chegar à Rua Lima e Silva”, comentou.
Jerry, natural de Sydney, ressaltou que, nos restaurantes, os garçons somente apontaram as opções no cardápio: “Caso eu precisasse perguntar sobre alguma comida, eles chamavam outra pessoa. Raramente eles me entendiam”, lembra.
O universitário Lucas Lima diz que não estudou inglês por muito tempo e, por isso, não
soube se comunicar com clareza. “Estava em uma loja de artigos de decoração, e um estrangeiro começou a perguntar: ‘how much?’. Eu fiquei nervoso e respondi ‘oito’”, relatou. “Até mesmo a atendente, aflita, respondeu em português, deixando os turistas confusos”, concluiu.
A Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul (SETUR/RS) abriu vagas para cursos de qualificação na língua inglesa em janeiro deste ano, o TchêQualifica. Para o garçom Lauro Lopes não houve divulgação suficiente: “onde eu trabalho não foi oferecida essa oportunidade, então, não fiz. Agora, ainda estou com dificuldades”. Ele ainda salientou que teve vontade de falar com turistas: “Atendi muitos estrangeiros, e eu morria de curiosidade de falar com eles”, disse.
Além dos cursos oferecidos pela prefeitura e governo, os alunos também têm disciplina de língua inglesa na escola. Atualmente, o Ministério da Educação exige que as escolas ensinem pelo menos uma língua estrangeira a partir do 6° ano do Ensino Fundamental. A maioria opta pela língua inglesa, mas a carga horária depende da diretora de cada instituto de ensino. Os alunos, entretanto, não dedicam muito tempo a essa disciplina, que julgam desnecessárias.
A aluna da sétima série Fernanda Porto tem aulas de inglês na escola regular: “Não gosto das aulas, e o inglês é meio inútil. Não vou usar mesmo, aqui todo mundo fala português”, constatou.
Muitos gaúchos já tiveram contato com a língua inglesa, mas ainda assim acreditam que algumas habilidades são mais difíceis. Helena Carolina, estudante de Psicologia, freqüentou aulas da língua em um curso particular: “Para mim, falar inglês é quase impossível.”, contou.
Quando ela foi ao bairro Cidade Baixa, onde a maioria dos turistas estava festejando, não conversou com nenhum estrangeiro: “Tentei puxar assunto com alguns, mas não passa de ‘Hi, how are you?’”.
Para muitos cursos de inglês, o campeonato mundial foi um gancho para chamar alunos. Muitos acabaram, de fato, inscrevendo-se nas aulas. No entanto, não há como ter certeza se houve mesmo o aprendizado. Há muitas controvérsias em relação ao “inglês para Copa”.
A diretora do curso de inglês Challenge Centro de Idiomas, em Canoas, Maria da Graça Galinatti Flach, discorda do conceito de ensino destinado ao evento. “O que é inglês para Copa?
Ensinar meia dúzia de palavras? Para conseguir diálogo na língua, é preciso fluência, tempo. Eu não creio no inglês dissociado dessa maneira”, explica. O inglês é aprendido para agregar conhecimento, incrementar currículo, desfazer linhas territoriais, aumentar cultura, diferenciar-se. Os gaúchos que compreendem essa necessidade conseguiram se destacar no meio dos estrangeiros.
Este foi o exemplo da canoense Natália Zuchetto, que estuda a língua inglesa há mais de dez anos: “Eu conversei com vários australianos por bastante tempo”, contou. Para ela, o evento foi uma oportunidade de praticar a fala. Para muitos, foi uma oportunidade de perceber que o aprendizado do inglês é necessário.
Supervisão: professora Anelise Zanoni