Veja 5 lições que o Brasil pode aprender com o Chile

6 jul 2015 - 08h31
(atualizado às 08h33)
28 de junho de 2014 - Brasil 3 x 2 Chile - Estádio Mineirão, Belo Horizonte
28 de junho de 2014 - Brasil 3 x 2 Chile - Estádio Mineirão, Belo Horizonte
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Foi-se o tempo em que a Seleção Brasileira dava exemplos e influenciava outros times ao redor do mundo. Atualmente a equipe da CBF decepciona, passa vexame e precisa aprender com outras histórias de sucesso. Neste sábado, o Chile deu uma verdadeira aula de futebol na final da Copa América. Só ganhou nos pênaltis, mas dominou o jogo contra a poderosa Argentina e poderia ter vencido nos 90 ou 120 minutos.

Se a CBF e o técnico Dunga forem humildes para reconhecerem que o Chile tem muito a ensinar para o Brasil, poderão tirar cinco lições básicas para a Seleção:

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Volantes técnicos e participativos

Poucas seleções têm um jogador como Vidal
Foto: Felipe Zanca / Latin Content/Getty Images

É assustador observar como a Seleção Brasileira só cria jogadas pelas pontas. O time não tem meio-campo, já que Fernandinho e Elias, os titulares da Copa América, se tornam extremamente burocráticos - quando recebem a bola, só tocam para os lados ou para trás. Além disso, não tentam infiltrações na área, apesar de ambos saberem fazer isso. Orientação do técnico ou falha dos jogadores? Difícil saber. Mas é algo que precisa ser mudado,

Talvez a solução passe até pela escalação de outros jogadores. Luiz Gustavo (cortado da Copa América por lesão), Hernanes, Casemiro, Rômulo e Lucas Silva são alguns jogadores que podem melhorar o Brasil nesse ponto daqui para frente. Uma ideia mais ousada pode ser recuar Oscar para jogar como segundo volante. Ele é disciplinado taticamente e certamente melhoraria a saída de bola brasileira. Mas é difícil acreditar que Dunga testaria isso.

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No Chile a situação é totalmente diferente. Marcelo Díaz, um híbrido de zagueiro e volante, participa ativamente da saída de bola com bons passes. Charles Aránguiz, jogador do Inter e bem conhecido dos brasileiros, também sabe tocar bem a bola e ainda tem qualidade quando entra na área. Já Arturo Vidal é um jogador excepcional e sintetiza todo estilo de jogo do Chile, com intensidade desde a marcação até a finalização de jogadas no ataque.

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Jogar sem centroavante

Eduardo Vargas fez quatro gols na Copa América
Foto: Daniel Jayo / Getty Images

Desde que reassumiu a Seleção Brasileira, Dunga entendeu que o ideal para o Brasil no momento é jogar sem centroavante, aquele camisa 9 fixo na área, o "homem gol". O País não tem um grande jogador que faça essa função atualmente. Então ele tentou colocar Diego Tardelli e Roberto Firmino como atacantes móveis, que até entram na área, mas também voltam e abrem para criar jogadas. Deu certo nos amistosos, mas não funcionou na Copa América. E já teve muita gente pedindo pela convocação de novos centroavantes.

Nesse sentido a principal lição do Chile é: dá certo sim jogar sem centroavante. Eduardo Vargas (um dos artilheiros da Copa América) e Alexis Sánchez atuaram abertos em muitos momentos e recuaram com frequência para criar jogadas. Mas com a intensidade típica dessa seleção chilena, sempre havia alguém presente na área para pelo menos preocupar a defesa adversária. Resultado: Chile foi o melhor ataque da competição, com 13 gols em seis jogos.

O Brasil tem uma série de jogadores do meio para frente que são melhores ou do mesmo nível que Vargas e Sánchez: Willian, Oscar, Philippe Coutinho, Lucas e Robinho, por exemplo. Ainda existem algumas promessas que estão em alta e merecem chances, como Lucas Lima e Felipe Anderson. E nem precisa citar Neymar, que é algo que o Chile não tem, um supercraque que pode fazer o ataque do Brasil funcionar perfeitamente. O "homem gol" do Brasil tem que ser ele.

Flexibilidade tática

Argentino, Sampaoli mostrou que é um técnico diferenciado
Foto: Gabriel Rossi / Latin Content/Getty Images

O Chile apresentou uma ótima variedade de sistemas táticos durante a Copa América. Nas escalações iniciais o técnico Jorge Sampaoli colocou o time no 4-3-1-2 ou no 3-4-1-2. Mas foi interessante observar também como a formação mudou durante alguns jogos, às vezes sem nem acontecerem substituições. Sampaoli explorou ao máximo a versatilidade dos atletas e claramente deixou tudo treinado para mudar de acordo com o andamento das partidas.

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Já no Brasil isso é impensável há alguns anos. Na Copa do Mundo um dos problemas foi exatamente a rigidez tática excessiva, já que o time seguiu igual do começo ao fim, mesmo sem apresentar um bom futebol. É verdade que Dunga teve pouco tempo para criar essas opções, mas se julgarmos pela outra passagem dele pela Seleção, criar essa flexibilidade tática não é uma prioridade.

Proximidade com a torcida

Comemoração chilena após o título foi parecida com a festa após cada jogo
Foto: Hector Vivas/Latin Content / Getty Images

A relação entre a torcida do Chile e sua seleção é totalmente diferente da relação entre os brasileiros e o time da CBF. As festas que os chilenos fizeram a cada partida foram impressionantes. E o carinho é recíproco, porque os jogadores também tiveram atitudes de carinho - basta observar que, na véspera da final, eles saíram da concentração e foram cumprimentar, tirar fotos e abraçar fãs na rua.

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Já no Brasil a situação é bem diferente. Além do time estar com a imagem arranhada, pelo vexame do 7 a 1 e pelos escândalos de corrupção, os jogadores e a CBF não colaboram. Dunga até surpreendeu em dois momentos durante a preparação para a Copa América, abrindo treinos para a torcida. Mas é pouco. O fato do Brasil sempre jogar amistosos no exterior também atrapalha. Mas nas Eliminatórias não terá jeito, as partidas serão no País e então veremos como ficará essa relação com a torcida. Dificilmente chegará aos pés do amor recíproco dos chilenos.

Cultura do resultado

Esse foi o resultado que sobrou para o Brasil
Foto: ABLO VERA LISPERGUER / AGENCIAUNO

Esse é um dos maiores problemas do futebol brasileiro e um dos mais difíceis de resolver. Isso atrapalha os clubes, já que nenhum projeto é mantido a longo prazo, com demissões de técnico a cada rodada. Na Seleção Brasileira isso é refletido de duas maneiras: quando está ganhando, o time não quer saber de ampliar o placar ou jogar bem, basta vencer; e quando perde, nada presta e é preciso recomeçar do zero. 

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Contra o Paraguai, na Copa América, vimos como isso é nocivo: o Brasil fez 1 a 0 e se acomodou por estar vencendo. Poderia ter pressionado e goleado um time visivelmente mais fraco. Mas então aconteceram erros individuais, e o time foi eliminado. Antes disso, a Seleção já vinha mostrando sinais desse problema: após a vitória nada convicente contra o Peru, os jogadores ficaram repetindo o mantra de que o Brasil estava bem porque acumulou 11 vitórias seguidas. Não é bem assim. Só o resultado não justifica mudanças nem inércia. É preciso avaliar o todo friamente.

No Chile a postura é bem diferente. Basta lembrar que o time foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2014, pelo Brasil, mas mesmo assim foi recebido com festa no país. Afinal, jogou bem e se entregou demais. Sampaoli foi mantido no cargo e implantou de vez uma filosofia ofensiva, que faz o Chile atacar sempre, mesmo com o placar a favor - contra a Bolívia, mesmo já classificado para as quartas de final, o time não esmureceu e aplicou 5 a 0. Tudo isso resultou na consagração deste sábado, que é valorizada pela taça, mas também pelo bom futebol apresentado pelo Chile. Isso deveria ser muito valorizado no Brasil. Que sirva de lição.

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Fonte: Terra
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