Previsão de caos e confrontos antes de Brasil x Uruguai leva tensão a BH

Pancadaria nas duas partidas anteriores da Copa das Confederações deixa mineiros com medo do que pode ocorrer em uma semi com maior visibilidade

26 jun 2013 - 07h10
(atualizado às 10h19)

Conversar em Belo Horizonte sobre Neymar, a rivalidade histórica entre Brasil e Uruguai e a evolução do time de Felipão, só com muita insistência. Apreensivos com o que pode acontecer na cidade no dia que deveria ser o mais festivo da cidade na Copa das Confederações, os mineiros têm como preocupação quase que exclusiva o que pode acontecer fora do Mineirão. A previsão de caos e novos confrontos com manifestantes é compactuada até pela Polícia e faz de BH a cidade do medo nesta quarta-feira.

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Basta pegar um táxi na cidade para atestar que não se trata de exagero. Desde domingo, um dia depois do quebra-quebra e violência que deixaram Belo Horizonte com cenário mais próximo de uma guerra, é difícil encontrar um só motorista que não manifeste sua preocupação com um novo dia de caos na cidade. Muitos que trabalham em cooperativas dizem que, se dependesse exclusivamente de suas vontades, o carro sequer sairia da garagem.

<p>Confronto nas ruas de Belo Horizonte depois de México x Japão foi um dos mais violentos do País</p>
Confronto nas ruas de Belo Horizonte depois de México x Japão foi um dos mais violentos do País
Foto: AP

O clima de medo é justificado pelo acirramento de ânimos desde que um confronto que começou antes de México x Japão e se estendeu até a madrugada de domingo provocou danos e pânico na capital mineira. No dia seguinte, a Polícia disse ser inevitável novos confrontos e prometeu endurecer o tratamento a baderneiros. O prefeito Márcio Lacerda reforçou as palavras, falou em Tolerância Zero contra quem provocasse vandalismo e aumentou o clima de apreensão na cidade. Muitas lojas vítimas de depredação no último sábado cobriram suas vitrines de tapumes e recriaram no Brasil cenas típicas de regiões prestes a serem atingidas por um furacão.

Nas redes sociais, os eventos #vempraruaBH e Assembleia Popular BH contam, juntos, com a confirmação de mais de 70 mil pessoas e fervilham de boatos, sugestões para aumentar a visibilidade da manifestação e promessas de ruas lotadas. Na terça, uma foto de um tanque de guerra sendo transportado em um caminhão, supostamente em uma rodovia de acesso à capital mineiro, virou febre e aumentou o clima de apreensão de forte repressão antes de ser desmentida. Com o pavor latente na cidade, Polícia e Estado mudaram de tática e, de última hora, se esforçaram para conter boatos, prometer tolerância e abrir diálogos.

Entrevistas, encontros e promessas

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A véspera de Brasil x Uruguai transformou-se em uma corrida contra o tempo para controlar um ambiente de medo que fugiu do controle de qualquer autoridade. Primeiro, uma notícia de difícil avaliação sobre o impacto que vai causar nas manifestações. O Diário Oficial de Belo Horizonte amanheceu com a informação de que o prefeito Márcio Lacerda decretou feriado municipal nesta quarta-feira.

“É imprevisível qual será o impacto, mas era preciso pensar na mobilidade urbana”, disse o comandante gera da Polícia Militar de Minas Gerais, Coronel Márcio Martins Sant’Ana. Com menos carros nas ruas, a expectativa é de pelo menos amenizar os problemas vistos nos dois jogos anteriores do torneio. A diferença é que o desta quarta mobilizará um número de torcida maior do que os dois públicos anteriores somados.

Manifestante "enquadra" sec. segurança de Minas Gerais
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BH anuncia esquema de segurança para jogo do Brasil
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Na mesma entrevista, o comandante da Polícia adotou um discurso bem menos duro do que de domingo. Ao lado do secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo de Carvalho Ferraz, confirmou um efetivo de 5567 policiais espalhados em pontos críticos da cidade, quase 2 mil a mais do o jogo anterior. Por outro lado, se esforçou para apresentar um discurso pacificador, de repressão apenas em casos excepcionais e de total respeito ao manifesto. Força do Exército? Apenas de prontidão, como nos dois jogos anteriores.

O governador Antônio Anastasia também entrou em cena. Convocou uma reunião com lideranças do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa e, no final da noite, anunciou acordos dos quais se destacam dois: o distanciamento policial do principal ponto de bloqueio ao estádio do Mineirão e abertura de um canal de diálogo com a Assembleia Popular Horizontal. Em contrapartida, houve a promessa de uma manifestação pacífica.

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O problema é que a estimativa aponta para um número superior aos 65 mil (100 mil nas contas dos manifestantes) do protesto de sábado e muitos grupos agem por conta própria, já pré-dispostos à violência. O Coronel Márcio Martins Sant’Ana disse que se a manifestação chegar a 200, 300 mil pessoas, não há como dar garantia alguma de nada. Será possível o controle de uma massa tão difusa e com diferentes reivindicações? A resposta será dadasaa partir das 12h (de Brasília), horário marcado para o início da concentração na Praça Sete. Como esperança, fica a lembrança de que a expectativa por algo muito ruim nem sempre é consumada.

No meio de tudo, um jogo de futebol e muitas personalidades

Belo Horizonte é a cidade mais hostil à Fifa até o momento na Copa das Confederações. Placas pichadas, bandeira vaiada e carros a serviço da entidade vítimas de insultos. O questionamento sobre os altos gastos para a Copa do Mundo ganhou força em Belo Horizonte e criou um clima hostil para recepcionar Joseph Blatter. O presidente da Fifa cancelou um evento na manhã de quarta na cidade, chegará em cima da hora e receberá segurança mais do que reforçada.

Cartazes da Copa das Confederações são alvo de vandalismo em Belo Horizonte
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

A preocupação da polícia se estende aos deslocamentos das seleções, em especial do Brasil. Local da concentração do País, o Hotel Ouro Minas fica na rota do protesto até o estádio e ganhará segurança reforçada. Diante das sugestões de tentativa de bloqueio de todas as vias de acesso ao Mineirão, a Polícia Federal arquiteta alternativas para que o traslado ocorra sem problemas.

Até o momento, no entanto, o clima na cidade não respingou na Seleção. Diferente de Goiânia, Fortaleza e Salvador, onde grupos aproveitaram a visibilidade do time para fazerem reivindicações, o hotel e locais de treino da Seleção tiveram arredores sem arruaças. Diante de tantas preocupações, uma vitória brasileira merecerá festa apenas se, fora do Mineirão, tudo transcorra muito melhor do que o esperado.

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Fonte: Terra
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