Trump é empecilho para os EUA em campanha para sediar Copa

Em busca de votos, americanos pedem que cartolas desconsiderem presidente em suas decisões e prometem muito dinheiro

12 jun 2018 - 05h04
(atualizado às 08h44)

Donald Trump, presidente dos EUA, se transforma em um obstáculo real para os americanos e sua campanha para receberem a Copa de 2026. Nesta quarta-feira (14), em Moscou, os 209 delegados da Fifa irão escolher a sede do Mundial. Se a entidade produziu um estudo técnico sobre as diferentes candidaturas, a decisão agora será essencialmente política.

Tecnicamente, a melhor candidatura é dos EUA, México e Canadá, que prometem uma renda de US$ 15 bilhões com o torneio, mais de duas vezes a receita da Copa de 2018. Do outro lado, a campanha do Marrocos sofre diante de várias incertezas sobre a capacidade do país receber 48 seleções.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Foto: Leah Millis / Reuters

Mas seus organizadores têm insistido numa tecla diferente: a política. "Há uma pessoa que se chama Donald Trump e ele é o presidente deles. Não podemos deixar que essa decisão tome esse caminho", disse Fouzi Lekjaa, vice-presidente da Confederação Africana de Futebol e presidente da federação do Marrocos. Os comentários ouvidos pelo Estado ocorreram numa conversa privada com Fatma Samoura, secretária-geral da Fifa.

Entre os dirigentes, não são poucos os que apontam na mesma direção, principalmente aqueles do continente africano, repetidamente humilhados por comentários de Trump.

A campanha americana sabe da existência desse risco. Não por acaso, ao apresentar nesta segunda-feira seus planos aos dirigentes africanos, o grupo dos EUA apelou para que a decisão não seja política, mas sim técnica. "Essa decisão não pode ser baseada em política", disse Carlos Cordeiro, presidente da US Soccer, a federação americana de futebol. "Eu peço a vocês para que não nos julguem pela política do momento", insistiu, numa referência velada a Trump.

A resposta da delegação do Marrocos insistiu na necessidade de que a decisão não se limite às promessas de lucros. "Não estamos fazendo uma Copa para gerar dinheiro para as televisões. Mas sim para gerar empregos", disse uma das delegadas do Marrocos. "Claro que o dinheiro é importante. Mas não se esqueçam do futebol. Temos políticas de imigração mais simples, somos acolhedores, mais tolerantes e abertos", insistiu a delegada, num discurso aos eleitores e também numa referência clara às políticas de Trump.

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Aliados

Mas os americanos têm seus aliados, especialmente na América do Sul. Nesta segunda-feira, a Conmebol voltou a dar garantias de que o bloco de dez votos irá para Cordeiro, com uma promessa sigilosa de que os americanos levariam os votos da América do Norte para uma candidatura de Argentina, Uruguai e Paraguai em 2030.

Mas os sul-americanos também tomaram uma decisão que abriu uma polêmica. A Conmebol decidiu impedir que o Marrocos se apresentasse diante dos dez membros da entidade nesta semana.

A decisão escancarou a tensão no processo de seleção, enquanto delegados americanos percorriam nervosos o lobby do local. Oficialmente, a Conmebol justificou que os norte-africanos já tinham feito uma apresentação há um mês e que outro evento não seria "necessário".

Mas, nos bastidores, o bloco sul-americano não quer dar espaço para que os marroquinos "seduzam" alguma federação da região. Os representantes de Rabat revelaram ao Estado que tentaram uma aproximação com Venezuela e Bolívia, dois países que não disfarçam sua animosidade em relação ao governo americano.

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Os africanos, porém, prometeram um protesto no Comitê de Ética da Fifa diante da atitude dos sul-americanos. "Vamos mandar uma carta para a Fifa", confirmou Hicham El Amrani, diretor-geral do Comitê da Candidatura do Marrocos.

Votos

A tensão não ocorre por acaso. Em reuniões confidenciais, delegados americanos indicaram que estão contando cada um dos votos, e que o resultado final pode ser apertado.

Se as Américas garantiriam 40 votos para os EUA, a África traria praticamente o mesmo numero para o Marrocos. Na Europa, Espanha e França apoiarão o vizinho do sul, enquanto a Rússia promete fazer campanha contra os americanos e levar consigo seus aliados da ex-União Soviética.

A decisão, portanto, ficaria com a Ásia, continente que está dividido entre aliados dos EUA e países islâmicos que fecharam um compromisso com o Marrocos.

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A briga por votos é tão intensa que os norte-africanos querem tentar impedir que federações como Guam, Puerto Rico, American Samoa e Virgin Islands sejam autorizadas a votar. Na Fifa, elas têm o mesmo poder de voto que Alemanha ou Brasil. Mas, politicamente, são territórios dos EUA.

Para dirigentes em Moscou, não restam dúvidas de que a barganha eleitoral vai varar noites, até o momento da votação. "Só um idiota não vê que política e futebol andam juntos", disse Jacques Anouma, dirigente da Fifa encarregado do diálogo entre Zurique e o continente africano.

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