As quartas de final da Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2023 decidiram que a atual edição terá uma campeã inédita: Espanha, Inglaterra, Suécia ou Austrália. As espanholas e australianas já fazem suas melhores campanhas na história do torneio, chegando às semifinais pela primeira vez.
A única seleção entre as semifinalistas que já tem experiência em jogar uma final de Copa do Mundo é a Suécia, que foi derrotada pela Alemanha em 2003, com um gol de ouro de Nia Künzer no primeiro tempo da prorrogação. A edição de 2003 marcou também a última vez que um país-sede terminou entre os quatro melhores, feito que será repetido pela Austrália vinte anos depois.
Os jogos das quartas de final foram equilibrados: um empate e três vitórias por um gol de diferença. É a segunda vez na história das Copas do Mundo Femininas que nenhum jogo das quartas termina com uma margem de vitória maior que um gol, depois de 2015.
Além da decisão por pênaltis entre França e Austrália, duas outras partidas das quartas de final tiveram cobrança de penalidade máxima no tempo regulamentar. Já são 19 gols de pênalti no torneio, um novo recorde, superando os 18 de 2015 e 2019.
Espanha continua sua melhor campanha
As quartas de final começaram com um domínio espanhol – ao menos nas estatísticas. A Espanha finalizou 28 vezes contra a Holanda, que arrematou apenas 10 vezes. O placar de Gols Esperados (xG) também apontou vantagem das espanholas ao final da prorrogação (3,4 a 0,8).
A Roja finalizou pelo menos 20 vezes em quatro de suas cinco partidas na Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2023 – nenhuma outra seleção tem mais de dois jogos com ao menos 20 chutes nesta edição do torneio.
O histórico mostra que o resultado não foi surpreendente: afinal, a Espanha venceu seus quatro últimos jogos contra a Holanda por todas as competições, marcando um total de sete gols e sofrendo apenas um.
Nesta edição do Mundial, a Espanha anotou 15 gols. No entanto, nenhuma jogadora individualmente ultrapassou os três tentos. Quando Mariona Caldentey e Salma Paralluelo balançaram as redes diante da Holanda, elas se tornaram a sétima e oitava atletas espanholas a marcar nesta Copa. Apenas o Japão tem gols de tantas jogadoras distintas no torneio (também 8).
Salma Paralluelo, por sinal, também se converteu na jogadora mais jovem a marcar em uma prorrogação na história da Copa do Mundo Feminina da FIFA (19 anos, 271 dias). Ela também chega às semifinais como a jogadora que mais completou dribles na competição até o momento (21).
Outro destaque individual da Espanha é Teresa Abelleira, a jogadora que mais criou chances no Mundial até agora (21). Diante da Holanda foram quatro, maior marca da equipe na partida (empatada com Mariona Caldentey).
Pelo lado derrotado, ficou engasgada a fase de quartas de final. A seleção holandesa foi eliminada nessa etapa em três grandes torneios seguidos: Olimpíadas 2020, Euro 2022 e Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023.
A zagueira artilheira da Suécia
A Suécia despachou a única seleção campeã do mundo que seguia viva nas quartas de final ao bater o Japão por 2x1. De quebra, tornou-se a equipe mais tradicional a alcançar as semifinais de 2023: esta será a quinta fase semifinal das suecas em Copa do Mundo Feminina da FIFA, sendo a segunda consecutiva (2019 e 2023).
Para eliminar a seleção que foi campeã em 2011, a Suécia precisou superar uma das defesas mais fortes da competição: o Japão chegou para as quartas de final tendo sofrido apenas um gol em quatro partidas. No entanto, as escandinavas anotaram logo dois com Amanda Ilestedt e Filippa Angeldahl.
Apesar de ser zagueira, Ilestedt vem desempenhando uma campanha artilheira que está próxima de se tornar histórica no Mundial de 2023. Ela anotou seu quarto gol nesta competição e está a apenas um tento de igualar a maior artilheira da Suécia em uma mesma edição e Mundial: Lena Videkull, com cinco, em 1991.
A defensora também ajudou sua seleção a não permitir uma finalização sequer ao Japão no primeiro tempo – as japonesas só chutaram pela primeira vez no 18o minuto da segunda etapa. Desde 2011, as nipônicas haviam conseguido pelo menos um arremate na etapa inicial em todas as suas partidas de Copa do Mundo Feminina da FIFA.
O Japão anotou seu gol de honra aos 42 minutos do segundo tempo, com Honoka Hayashi, que havia saído do banco seis minutos antes nas substituições que tiraram de campo Hinata Miyazawa, que terminou a partida sem conseguir uma finalização sequer. No entanto, ela volta para a casa como a artilheira da Copa do Mundo Feminina da FIFA até o momento, com cinco gols.
Recorde de gols em disputa de pênaltis
O embate entre as donas da casa e as francesas foi o único das quartas de final decidido após disputa de pênaltis. O 0x0 não refletiu a produção das duas equipes. Foi o empate sem gols das últimas quatro Copas com o maior índice de gols esperados (3,66 xG). Essa estatística mede a qualidade das finalizações das equipes, indicando que o jogo deveria ter visto ao menos três gols. A Austrália terminou a partida com 1,71 de xG, enquanto a França teve 1,95.
A França abusou das bolas na área, marcando a quarta vez que uma seleção superou 40 cruzamentos em um jogo na atual edição da Copa do Mundo Feminina da FIFA. Três dessas vezes foram da própria seleção francesa: 47 contra a Austrália, 42 contra o Panamá e 41 contra a Jamaica.
As tentativas da França pelo alto consagraram a zagueira Alanna Kennedy. Foram 15 duelos aéreos disputados (8 vencidos), colocando a australiana na primeira posição no torneio em duelos desse tipo disputados (53) e vencidos (30) na atual edição do Mundial. Kennedy também lidera o torneio em rebatidas: 40, com 17 delas ocorrendo contra a França.
Se durante os 120 minutos mais acréscimos a bola não encontrou o fundo da rede, a disputa de pênaltis entre Austrália e França bateu o recorde de gols em uma Copa do Mundo Feminina da FIFA. Foram 20 cobranças, com 13 sendo convertidas.
A goleira francesa Solène Durand entrou no último minuto da prorrogação só para disputar os pênaltis. Ela fez seu trabalho, defendendo duas cobranças, mas não evitou a eliminação da França. A Austrália segue no torneio em busca de um feito alcançado apenas pelos Estados Unidos em 1999: conquistar o título dentro de casa.
Inglaterra elimina única seleção sul-americana restante
Uma das favoritas ao título da Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2023 desde o início da competição, a Inglaterra se manteve firme na busca pela inédita conquista ao bater a Colômbia por 2x1 na última partida da fase de quarta de final.
As leoas, por sinal, têm sido extremamente consistentes com seus resultados em grandes competições. Esta será a terceira semifinal consecutiva da seleção inglesa em Mundiais (2015, 2019 e 2023), fase que também foi alcançada nas últimas duas Eurocopas (2017 e 2022).
Contudo, apesar do favoritismo, quem abriu o placar foi a Colômbia: a seleção sul-americana saiu na frente com um gol de Leicy Santos aos 44 minutos da primeira etapa. As colombianas haviam vencido as quatro partidas anteriores de Copa do Mundo Feminina nas quais haviam se colocado em vantagem no marcador.
Mais uma marca a ser quebrada pela Inglaterra, que se tornou a primeira seleção a bater a Colômbia após sair atrás no placar. Lauren Hemp empatou o jogo ainda na primeira etapa, aos 51 minutos, se convertendo na jogadora inglesa mais jovem a balançar as redes em mata-mata de Mundial (23 anos, 5 dias).
No segundo tempo, aos 18 minutos, Alessia Russo consolidou a virada. A atacante anotou seu segundo tento nesse Mundial, sendo que já tinha marcado quatro gols na Eurocopa de 2022. Somando as duas competições, apenas a alemã Alexandra Popp (10) balançou as redes mais vezes. Das 17 finalizações de Russo no Mundial, 11 foram no alvo. Ninguém tem mais chutes certos que a atacante inglesa na competição até o momento.
Grande destaque das colombianas, Linda Caicedo liderou sua equipe contra a Inglaterra em finalizações (3, mesmo número de Ivonne Chacón), ações com bola na área rival (5, empatada com Leicy Santos), assistências (1), passes para finalização (3, igualada a Leicy Santos e Catalina Usme), dribles tentados (10), dribles completados (4) e faltas sofridas (2).
Inclusive, as duas jogadoras que mais tentaram dribles no Mundial são da Colômbia: Mayra Ramírez (41) e a própria Linda Caicedo (39). A melhor campanha colombiana na história do Mundial não foi suficiente para quebrar uma marca negativa dos países sul-americanos. Com o último time da CONMEBOL se despedindo do Mundial, nenhuma seleção da América do Sul alcança as semifinais desde 2007, quando o Brasil conseguiu sua melhor campanha e terminou como vice-campeão.