Mundial sediado na Austrália e na Nova Zelândia deve atingir quase 2 milhões de ingressos vendidos, e FIFA estima que audiência global chegue a dois bilhões de pessoas. Sucesso deve levar futebol feminino a novo patamar.O barulho foi imenso. Quando Hannah Wilkinson marcou o gol da vitória da Nova Zelândia sobre a Noruega na estreia da Copa do Mundo Feminina de 2023, cerca de 42 mil pessoas foram à loucura.
Foi o maior público da história a assistir um jogo de futebol na Nova Zelândia, seja masculino ou feminino, e esmagou o recorde anterior de futebol feminino de 26 mil espectadores.
Poucas horas depois, a Austrália seguiu o exemplo, com quase 75 mil torcedores aplaudindo a vitória de 1 a 0 das Matildas (como são chamadas as jogadoras da seleção australiana) sobre a Irlanda.
Agora, à medida que as semifinais se aproximam, espera-se que um total de 1,98 milhão de ingressos sejam vendidos até o fim do torneio, o que seria equivalente a uma média de 31 mil torcedores em cada uma das 64 partidas.
O número supera facilmente o recorde anterior de 1,35 milhão de pessoas na Copa do Mundo Feminina de 2015 no Canadá, que teve uma média de 26 mil torcedores por jogo.
Considerando que a meta inicial era de 1,3 milhão - depois aumentada para 1,5 milhão -, o comparecimento representa um enorme sucesso para as nações anfitriãs, Austrália e Nova Zelândia. O futebol simplesmente explodiu nos dois países no último mês, e o interesse global foi igualmente impressionante.
Chegou a vez do futebol na Austrália
A Austrália é uma nação esportiva fanática, mas o futebol sempre teve dificuldades em atrair a atenção geral em comparação com o rúgbi e o futebol australiano, que dominam as manchetes da mídia e os índices de audiência da TV.
No entanto, a partida das oitavas de final das Matildas contra a Dinamarca alcançou 6,54 milhões de pessoas na emissora de TV aberta Seven Network, mais do que os maiores eventos esportivos do país em 2022: as grandes finais da National Rugby League e da Australian Football League.
"Tem sido imenso, é incrível ver todo o apoio que temos, seja nas arquibancadas, pela TV ou nos sites ao vivo", disse a zagueira australiana Ellie Carpenter à DW após a partida. "É como se fosse uma pessoa a mais em campo."
O número não inclui os espectadores do serviço de streaming por assinatura Optus Sport, que detém os direitos de todos os jogos da Copa do Mundo de 2023 no país.
A Austrália mostrou que é de fato uma nação do futebol. Quase 1,27 milhão de ingressos terão sido vendidos até o fim do evento, uma média de público de quase 36 mil pessoas em cada um dos 35 jogos no país, com uma lotação média dos estádios de 93%.
"A vantagem de jogar em casa, a torcida da casa, está nos incentivando neste torneio", disse a jogadora Caitlin Foord. "Todo o crédito é para eles [os torcedores], por serem barulhentos e nos apoiarem."
Três recordes quebrados em Auckland
Estatisticamente, em termos de público, a Nova Zelândia se saiu um pouco pior que a Austrália, com cerca de 700 mil ingressos vendidos, em uma média de 24.500 espectadores por partida.
Os jogos em Auckland e Wellington tiveram um bom público, mas a decisão de realizar partidas em Dunedin, com uma população de apenas 129 mil habitantes, reduziu significativamente os números. O estádio da cidade não atingiu, em média, 50% da capacidade em seus seis jogos, embora tenha esgotado os ingressos para o empate da Nova Zelândia com a Suíça.
No entanto, considerando a obsessão do país pelo rúgbi e sua população de apenas cinco milhões de habitantes, os números superaram as expectativas, com o recorde de maior público para um jogo de futebol no país sendo quebrado três vezes em Auckland.
"O barulho era ensurdecedor", disse a cocapitã da Nova Zelândia Ria Percival à DW após a vitória da equipe sobre a Noruega na estreia. "Nunca ouvi nada parecido, e não consigo acreditar que tantas pessoas vieram nos assistir jogar. Foi incrível."
A zagueira Claudia Bunge disse: "Nunca sonhei em jogar diante de uma torcida lotada no Eden Park. Espero que o fato de fazer parte desse pedaço da história tenha inspirado todas as meninas que estão assistindo nos estádios ou em casa a sair e fazer parte da próxima geração das Ferns."
Espetáculo nas arquibandacas
Embora as anfitriãs não tenham conseguido chegar à fase mata-mata, as neozelandesas continuaram comparecendo em massa aos estádios para os jogos, portando bandeiras das equipes que ainda estavam na disputa.
"Nunca tínhamos assistido ao futebol feminino", disse a torcedora Charlotte Scott à DW em Auckland. "Agora já assistimos a cinco jogos e gostaríamos que fossem mais".
"Adoramos a empolgação, as cores vivas e as músicas que as diferentes torcidas trouxeram", disse Scott. "Mesmo quando o público era menor, você encontrava uma equipe como a da Zâmbia, que tinha um coro que nunca parava."
Sugestões cínicas de que os ingressos gratuitos podem ter aumentado o número de torcedores não se sustentam, pois apenas 20 mil deles foram distribuídos em todas as quatro cidades da Nova Zelândia que sediaram partidas.
Os índices de audiência da TV foram igualmente impressionantes, especialmente porque a maioria dos jogos foi exibido pela Sky e apenas alguns de forma gratuita pelo Stuff.nz.
Mais de 1 milhão de pessoas assistiram ao jogo de estreia da equipe contra a Noruega, mais do que em qualquer outro jogo da Copa do Mundo masculina.
O mundo ligado na TV
E não foi apenas na Oceania: em todo o mundo, números impressionantes foram registrados pelas emissoras de TV, especialmente considerando que muitos jogos ocorreram fora do horário nobre tradicional na maioria dos países.
Apesar de ter começado às 5h da manhã no fuso horário do leste dos Estados Unidos, a derrota das americanas nos pênaltis para a Suécia nas oitavas de final atraiu 2,52 milhões de espectadores na Fox, chegando a um total de 4,07 milhões. As quatro partidas dos EUA tiveram uma média de 3,8 milhões de espectadores, acima das quatro primeiras partidas da Copa do Mundo de 2019.
O Reino Unido registrou um pico de audiência de 5,2 milhões de pessoas assistindo a BBC One na vitória das britânicas sobre a Nigéria, que teve início às 8h30 de Londres. Houve mais 2,6 milhões de espectadores assistindo no streaming.
A emissora de TV pública da Alemanha ARD informou que 10,36 milhões de pessoas sintonizaram para assistir à derrota do país para a Colômbia na fase de grupos, a maior audiência em 2023.
Mais de 9 milhões de colombianos assistiram ao jogo de sua equipe contra a Coreia do Sul, um aumento de 300% em relação ao recorde anterior para um jogo da Copa do Mundo feminina.
O jogo de estreia do Brasilcontra o Panamá teve uma audiência de 13,9 milhões de pessoas na TV Globo e no SporTV. Cerca de 4,58 milhões de espectadores assistiram à partida de estreia a da China contra a Dinamarca na emissora chinesa CCTV5.
A esperança australiana do título
Considerando o boom que o futebol feminino recebeu após o Campeonato Europeu de 2022 na Inglaterra (que se sagrou campeã), havia o temor de que o horário de início do jogo nos países anfitriões, que não é muito conveniente para muitos fusos horários, pudesse prejudicar o interesse.
Essas preocupações foram realmente dissipadas, mostrando que o apetite pelo futebol feminino está seguindo o apetite pelo futebol masculino.
A FIFA disse que o torneio tem como meta atingir um público total de dois bilhões de pessoas em todo o mundo, um aumento significativo em relação ao 1,19 bilhão que a organização contabilizou na Copa de 2019.
A qualidade do espetáculo também tem sido de alto padrão, mesmo depois que o torneio aumentou de 24 para 32 equipes, para permitir que as nações em ascensão tenham a chance de jogar contra as já consagradas.
Os grandes placares foram poucos e distantes entre si, e muitos azarões, como Marrocos, África do Sul e Jamaica, causaram surpresas na fase de grupos. Não apenas o nível está melhorando, mas a diferença entre os melhores e os piores está diminuindo.
Faltam quatro partidas para o fim do torneio, mas o show ainda não acabou.
Embora a Nova Zelândia tenha sido eliminada, a Austrália ainda tem esperanças de levantar o troféu. Se as Matildas chegarem à final, a audiência da TV poderá até mesmo rivalizar com os oito milhões de espectadores que assistiram à vitória de Cathy Freeman nos 400 m nas Olimpíadas de Sydney em 2000.
"É bom ver o rumo que o esporte está tomando aqui, quantas meninas e meninos querem jogar futebol", disse Foord. "É bom saber que o jogo está indo na direção certa."