Diária de R$ 35, revelação de ex-bandeirinha e haters: série 'Pioneiras' traz bastidores do futebol feminino

Entrevista com técnica, ex-jogadoras e narradora mostram as dificuldades enfrentadas pela modalidade no Brasil

21 jul 2023 - 16h03
(atualizado às 17h32)

A série especial Pioneiras resgata os bastidores do futebol feminino a partir do ponto de vista de várias personagens importantes para a modalidade. Conheça a história de cinco mulheres --entre elas ex-jogadoras, técnica, jornalista e familiares de atletas-- que se destacaram no mundo da bola, apesar das dificuldades de um ambiente ainda muito desigual e machista.

Elas provam que o lugar da mulher também é no futebol, seja com a bola no pé, a bandeira na mão, na beira do campo ou narrando uma partida.  

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Luciana Mariano

Narradora da ESPN revela ataque de haters e desabafa: ‘Pessoas solitárias’
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No 1º capítulo, a narradora Luciana Mariano, que foi a primeira mulher a narrar futebol feminino e masculino na televisão brasileira, relata a dificuldade de ocupar espaço em uma área ainda formada majoritariamente por homens. 

"As pessoas são muito apegadas a hábitos. Eu ouvi a vida inteira um homem narrar. Quando ouço uma coisa diferente disso, eu entendo que causa estranhamento em algumas pessoas, mas, ao mesmo tempo, a gente não pode declinar. Em 20 anos, eu narrei de 40 a 50 jogos. Nesse mesmo período, um narrador fez 8.000. Como a gente compara quem é melhor ou pior?", questionou

Luciana Mariano durante as transmissões esportivas
Luciana Mariano durante as transmissões esportivas
Foto: Arquivo Pessoal

Em meio às conquistas, a jornalista ainda enfrenta o machismo e a desconfiança. Ela já recebeu inúmeras ameaças em suas redes sociais. Advogados e psicólogos avaliam os conteúdos enquadrados como crimes de ódio. Centenas de processos foram abertos, muitos já julgados, e revertidos em serviços sociais.

• Nadine Basttos 

“Eu escutei a palavra desistir com frequência”, diz Nadine Basttos, pioneira na arbitragem feminina
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As primeiras gerações de mulheres na arbitragem precisaram superar preconceitos e desafios para se estabelecer no futebol. Em um cenário onde ser mulher e jogar bola era proibido por lei, a arbitragem feminina era ainda mais improvável. A ex-auxiliar de arbitragem Nadine Basttos fez parte das gerações de mulheres pioneiras da categoria e foi a segunda entrevistada da série especial de reportagens do Terra.

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Por indicação de uma amiga, a catarinense iniciou o curso de arbitragem em 2007, quando sentiu o primeiro choque. Em uma turma de 30 homens, ela e a amiga eram as duas únicas mulheres. Em 2010, estreou no Brasileirão da Série A, atuou em grandes jogos e, anos depois, integrou o seleto quadro de árbitros da Fifa.

Nadine Basttos como auxiliar de arbitragem
Foto: Arquivo Pessoal

A catarinense contou que passou por inúmeras situações em que foi colocada à prova apenas por ser mulher, quando, por exemplo, foi apitar um grande clássico estadual e escutou que "não queriam mulheres no jogo". "Eu escutei a palavra desistir com muita frequência. Certa vez disseram: 'Não se estressa com isso, você não vai ter chance'", revelou.

• Francielle Alberto

'A diária era R$35', lembra jogadora sobre pagamentos na Seleção Feminina
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A ex-jogadora Francielle Alberto, 3ª entrevistada do Pioneiras, acumula a experiência de já ter defendido a Seleção Brasileira por 14 anos com o fato de ser casada com Andressa Alves, uma das principais atacantes do grupo de Pia Sundhage. A história de Fran no futebol começou no futsal em uma escolinha de Itanhaém, litoral paulista. Ainda criança, ela foi descoberta pelo técnico Kleiton Lima.

A experiência de anos faz Fran ter um olhar atento aos avanços que as mulheres vivem no esporte. Para o Mundial da Austrália e Nova Zelândia foi anunciada pela primeira vez uma logística exclusiva, feita para a aclimatação das jogadoras que lidam com o fuso de 13 horas em relação ao Brasil. Voo fretado, roupas de viagem e delegação com número recorde de 17 mulheres são as novidades observadas pela ex meio-campista.

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Fran e Andressa Alves, jogadora da Roma e Seleção Brasileira
Foto: Arquivo Pessoal

"Quando eu comecei na Seleção, a diária era R$ 35. Ficávamos 20 dias na Granja Comary treinando e no dia do pagamento, ganhávamos R$ 900 porque ainda havia desconto. Naquela época, para mim já era muito. Em uma viagem para a Austrália a gente fazia 12 horas de voo, ficava sete horas no aeroporto em escala, para pegar outras 13 horas, em classe econômica", lembrou.

• Rosana Augusto

“A gente sempre lutava por um prato de comida”, diz Rosana, ex-jogadora da Seleção Brasileira
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No 4º episódio, Rosana Augusto lembrou do seu amor pelo futebol. Aos seis anos, a ex-lateral da Seleção já jogava bola na rua. No entanto, o contexto não era favorável. A paulistana nasceu em 1982, um ano antes da lei que proibia a prática do futebol feminino ser revogada. 

"Eu era repudiada pelo meu pai, que não apoiava, até por conta da proibição que teve. Naquele momento o futebol era para meninos. Mas eu consegui quebrar essa barreira dentro de casa, comecei a jogar no futsal do colégio", afirmou.

Rosana pela Seleção Brasileira Feminina
Foto: Reprodução/Instagram

Após a derrota no Mundial de 2007, as atletas protestaram com cartazes. Na época, o futebol feminino nacional não possuía um calendário regulado pela CBF, e as jogadoras chegaram para a Copa sem ter disputado amistosos e jogos preparatórios.  "Era uma época que tinham nos prometido algumas coisas e a gente cobrou de forma pública, mas porque a gente sempre lutava por um prato de comida. Então a gente ia para as competições sempre com o pedido de que teríamos que ganhar para que a modalidade continuasse evoluindo", relembrou.

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• Lindsay Camila

'Cheguei a ouvir da comissão que eu tive sorte de ganhar o campeonato', diz Lindsay
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A nova auxiliar-técnica da Seleção Feminina sub-15 e sub-17, Lindsay Camila, fechou a série de Pioneiras revelando as dificuldades das mulheres em comandar equipes. Apaixonada por futebol desde pequena, ela foi primeira técnica mulher a ganhar uma Libertadores feminina. Na infância, jogava bola com os primos, mesmo escutando piadas pelo tamanho e por ser menina. Com sua personalidade forte, Lindsay ignorava os comentários e provava através da habilidade que podia jogar futebol. 

"É muito difícil ser mulher treinadora", desbafou. Ela conta que após voltar a ser auxiliar na base da seleção, ouviu comentários que desmereceram a posição, mas isso não abalou sua confiança. "Eu vou para onde eu vou ser feliz, eu vou para onde as pessoas vão acreditar no meu trabalho."

Lindsay como auxiliar-técnica da Seleção Feminina sub-15 e sub-17
Foto: Rodrigo Ferreira/CBF

Quando decidiu ser jogadora, Lindsay foi desestimulada pela família. Ela afirma que o único apoio que recebeu foi da mãe. Enquanto atleta, passou por clubes como Lyon e Le Puy, da França, mas acabou se aposentando cedo por causa das lesões. 

Fonte: Redação Terra
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