A paixão pelo futebol começou cedo para Rosana Augusto. Aos seis anos, ela já jogava bola na rua. No entanto, o contexto não era favorável. A paulistana nasceu em 1982, um ano antes da lei que proibia a prática do futebol feminino ser revogada.
A ex-lateral relembra o pouco incentivo no início da carreira em entrevista ao especial Pioneiras, do Terra: “Eu era repudiada pelo meu pai, que não apoiava, até por conta da proibição que teve. Naquele momento o futebol era para meninos. Mas eu consegui quebrar essa barreira dentro de casa, comecei a jogar no futsal do colégio."
Revelada pelo São Paulo aos 14 anos, a ex-atleta teve uma carreira vitoriosa. Passou por grandes clubes no Brasil e no mundo, além de possuir uma lista extensa de títulos. É medalhista olímpica, campeã dos Jogos Pan-Americanos, vice-campeã do mundo em 2007, e faz parte da seleta lista de brasileiras que já venceu a Champions League. Ela também recebeu o título de FIFA Legends em 2019.
Após a derrota no Mundial de 2007, as atletas protestaram com cartazes. Na época, o futebol feminino nacional não possuía um calendário regulado pela CBF, e as jogadoras chegaram para a Copa sem ter disputado amistosos e jogos preparatórios.
"Era uma época que tinham nos prometido algumas coisas e a gente cobrou de forma pública, mas porque a gente sempre lutava por um prato de comida. Então a gente ia para as competições sempre com o pedido de que teríamos que ganhar para que a modalidade continuasse evoluindo”, relembrou.
Nem a extensa lista de títulos blindou a ex-jogadora de falas e comentários machistas: "Eu enfrentei dificuldades de estruturação dos times, de calendário, a descrença no futebol feminino. A gente sofria muito com preconceito, a gente não tinha lugares para jogar, quando jogava sempre proferiam palavras de cunho machista.”
Nova fase
Rosana se aposentou em 2019 após uma longa carreira. A ideia de se tornar técnica surgiu depois de um teste psicológico que fez quando jogava no Lyon. O perfil de liderança e o vasto conhecimento sobre o futebol a encaminharam para esse cargo. Antes de encerrar a carreira, ela já se preparava e estudava para assumir o papel.
Atualmente comanda o Red Bull Bragantino, campeão da Séria A2 do Brasileirão Feminino nesta temporada. A paulista, que teve técnicas mulheres quando jogadora, afirma que as atletas percebem uma sensibilidade maior quando uma mulher está no comando. “O futebol tem um lado emocional e racional. Eu como mulher tenho uma certa sensibilidade, mas também tenho esse lado racional apurado”, argumenta.
Para não ter um tratamento diferente, Rosana diz ter se preparado muito. "Talvez elas tenham uma única chance, ao contrário dos homens que terão muito mais”, compara.
Sobre as habilidades como técnica, a ex-lateral coloca que o conhecimento vai além do gênero. “Me preparei para poder conversar a altura sobre futebol, entendendo que não é o gênero que define o nível de conhecimento que você tem”, relata.
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Avanços
A ex-jogadora afirma ver progresso desde que começou a carreira, mas ressalta que esse processo deve ser mais rápido e que precisa iniciar na fase de formação das atletas.
“Quanto mais preparadas chegarem as atletas, melhores serão as performances e isso atrai público. Para isso, precisam ter boas comissões, calendários mais bem estruturados, competições mais equilibradas”, avalia. “Isso gera o interesse do público, que gera o interesse do patrocinador, e vai ser mais divulgado. Então eu vejo que a gente melhorou, mas a gente precisa continuar caminhando”, completa.
Copa do Mundo 2023
Dona da camisa 6 da Seleção Brasileira por anos, a ex-lateral afirma que a Copa do Mundo de 2023 será uma das mais disputadas da história e mostra otimismo: "Estou na expectativa que o Brasil consiga um pódio.”
Além da sonhada primeira estrela, ela analisa como técnica, os benefícios que uma boa campanha pode trazer ao futebol feminino no Brasil. “Isso vai significar muito pro campeonato brasileiro. Para as atletas que se encontram no Brasil, para o progresso do futebol brasileiro. Para essas atletas que estão representando o país , para inspirar novas gerações. Então eu tô confiante que elas vão dar o melhor de si pensando justamente nisso, que podem melhorar a vida de muitas futura jogadoras”, conclui.